RIBEIRINHA
É no clarim da aurora,
Que a lida matinal.
De mulheres ribeirinhas,
Na régia florestal.
Acordam para a vida,
Pra luta regional.
Eternizam heranças,
A herdade fraternal.
Desamarra a canoa,
Para aventurar o pão.
Joga o seu matapí,
Pega o peixe com arpão.
Despesca a malhadeira,
Para garantir o pirão.
Trata bem a peixarada,
Cozinha no caldeirão.
Amassa, amassadeira,
O açaí gracioso.
Farta a mesa das crias,
Com um gesto amoroso.
Dedicação maternal,
Que vale pra toda vida.
Rema, rema, remadeira,
Não é fácil tua lida.
Política partidária,
Não alcança esse ser.
As promessas evasivas,
São tão duras de conter.
É mais fácil esperar,
Dádivas da natureza,
Que acreditar no ar da graça,
De promessa sem firmeza.
Rio abaixo, rio acima,
Seu trajeto é de fé.
Encontrar com as Marias,
Pra tomar um bom café.
Refletir nas decisões,
Que deixará todas de pés.
Nas conquistas ribeirinhas,
Vão pra frente, não de ré.
Mulheres da Amazônia,
Tem o grito da floresta.
Ressaltam todo cuidado,
Para não deixar aresta.
Mulher é diversidade,
Respeita a diferença.
Agrega todo valor,
Conhece sua pertença.
Ribeirinha, ribeirinha!
Uma deusa sempre de pé
Com tremenda ousadia.
Qual a flor do mururé.
Sua cascata deságua,
No leito do melhor rio.
Guarda toda a sapiência,
Vai de fio a pavio
A invisibilidade,
Bane a encantaria.
De todo o teu ser autêntico,
Rainha da montaria.
Mas é em teu território,
Que és fonte de sustento.
O teu valor é notório,
Não conhecem, teu intento.
Tua voz ecoa no infinito,
Alegra a alma o seu cantar.
Teu rumor não é efêmero,
Expressa o seu pensar.
Sobre o trançar das fibras,
Do barro, a modelagem.
No dom sagrado da vida,
És mulher de coragem.
Tua lida ribeirinha,
É moda cotidiana.
Pronta pra combater,
A prática leviana.
Aventureira das matas,
Tudo o que faz é puro amor.
Sua trincheira não tem limite,
És mulher sim de valor.
Negra Aurea: 25/01/2121