O AMOR POÉTICO

Por Gecilio Souza

Certa vez fui convidado

A um festival de poesia

Numa fazenda distante

Que eu sequer conhecia

Cheguei às 18:00hs

Ainda com a luz do dia

Já era final de verão

Bastante fartura havia

O pátio amplo e decorado

Devidamente iluminado

E o povão se reunia

Com elegante simpatia

Me acolheu o anfitrião

Perante os seus convidados

Fez a minha apresentação

E falou: este é o poeta

Que aqui nesta ocasião

Nos honra com a presença

Imensa é a satisfação

De tê-lo em nosso lugar

Para nos abrilhantar

Com o cordel da região

Que elegante recepção

Coisa que eu não imaginava

Aquele calor humano

Sem dúvidas contagiava

Um povo hospitaleiro

A todos recepcionava

Naquele exato momento

Muito mais gente chegava

Olhei numa direção

Vi a filha do anfitrião

Que de longe me olhava

Porém já se aproximava

O horário do evento

Com um gesto pedi a ela

Que aguardasse um momento

Me dirigi para o palco

Com aquilo no pensamento

Recitei os meus poemas

Diante de um povo atento

No fim de cada poesia

A multidão aplaudia

O meu singelo talento

Assim dei prosseguimento

E continuei recitando

Um poema atrás do outro

Com os colegas revezando

Muitos poetas famosos

Estavam ali participando

Festival de alto nível

A imprensa registrando

Fizemos a conclusão

Da bela apresentação

O povo foi se retirando

Ouvi alguém me chamando

De um jeito bem discreto

Quando olhei para lado

A menina estava perto

Com um sorriso estampado

Que bom agora deu certo

Tenho que me declarar

Do jeito franco e direto

E falou ao meu ouvido

Te quero como marido

Dou-te um coração aberto

Despertou-me por completo

E fiquei sem reação

Confesso que a menina

Mexeu com o meu coração

Que alterou os batimentos

Pausou a respiração

Em seguida respondi

Sem muita demonstração

Mas depois que dei o sim

Ela apresentou a mim

A seguinte condição

Quero a sua compreensão

Para o que vou lhe dizer

O meu pai é muito rico

É possível perceber

Logicamente essa riqueza

A mim irá pertencer

Você vai cuidar de tudo

Porque assim tem que ser

Se quer minha companhia

Abandone a sua poesia

Ou nada vai acontecer

Obrigou-me a escolher

Uma das alternativas

Ou ela ou o cordel

Foram suas afirmativas

Mas na hora ponderei

Com palavras reflexivas

A vida não é matemática

Não há fórmulas objetivas

Quando o assunto é relação

Resulta de uma construção

Sem regras impositivas

Sentenças definitivas

Próprias da ciência exata

São inúteis ao afeto

Este é bom e aquela é chata

Nesta hora a menina

Falou como quem maltrata

Fique com o seu cordel

Prefiro ficar beata

Só falava e não ouvia

Optei pela poesia

E fiquei sem a mulata

A partir daquela data

Muita gente quis saber

O motivo da minha escolha

Eu tinha que responder

Uma mulher tão bonita

Talvez de bom proceder

Se com ela eu me casasse

Iria me enriquecer

Não tenho essa ambição

E entendo que o coração

Também comporta o saber

Continuei a escrever

Sem raiva e sem choradeira

Os meus singelos poemas

Escritos à minha maneira

Se a mulata é valiosa

Poesia não é brincadeira

Ela também expressa afeto

Do amor se faz parceira

São ligados intimamente

Não quero ser simplesmente

Marido de fazendeira

G. S.

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 25/01/2021
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