A Morte e o Poeta

Foi na terra de Alagoas

terra fértil, merecida

nasceu um sem alegria

quase morto em fraca vida

seu choro, sua partida

foi um grito em poesia.

E cresceu desbitolado

era um estranho no ninho

sua vida era distopia

e fingia ser bonzinho

assim treinava sozinho

como fazer poesia.

Não via televisão

não queria perder tempo

com tamanha hipocrisia

pois de tanto contratempo

mantinha só um passatempo

que era escrever poesia.

Cresceu num bairro pobre

onde a morte faz morada

e tem muita autonomia;

a noite era sua amada

e durante a madrugada

escrevia poesia.

O menino virou homem

e c'uma moça casou

na época mais sombria;

porém sua amada o amou

mas ele sequer notou

só pensava em poesia.

Perdeu o gosto da vida

nada fazia sentido

e tudo era alegoria

o mundo havia morrido

ninguém havia sabido...

Quem leu sua poesia?

Seus pés descalços no chão

trilhavam à escuridão;

a morte era companhia

dava-lhe muita esperteza

e também muita destreza

para escrever poesia.

Ele escreveu vários versos

sobre assuntos mui diversos

mas somente a morte lia;

ele não se incomodava

com sua fã simpatizava

nas linhas da poesia.

Num dia frio, anoitecendo...

seu corpo se enfraquecendo

da su’alma se despedia;

a morte tinha viajado...

E o poeta abandonado

transformou-se em poesia.

A morte quando voltou

ao poeta procurou

mas nada dele sabia.

Então desceu ao inferno

e com muito amor materno

trocou-se pela poesia.

Trocou a sua existência

também toda sua essência

pela arte em harmonia...

Nesse belo ato de amor

o inferno sentiu a dor

e escreveu uma poesia:

A partir de hoje, no inferno

não terá poeta um só dia

pois cada poeta é eterno

e morto não faz poesia.

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Publicado nesta plataforma

no dia 27/08/18.

Revisado e republicado.

Gustavo Valério Ferreira
Enviado por Gustavo Valério Ferreira em 21/01/2021
Código do texto: T7165115
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