O CACHIMBO DA MINHA TIA
Sempre fui um menino treloso
Minha mãe a todos já dizia isso
Tinha hora que era mentiroso
Prá me sair de alguma enrascada
Coisa de um cara ardiloso
Arengava muito no meio da rua
Não levava desaforo prá casa
Podia ser noite debaixo da lua
Ou mesmo em dia de sol quente
Um menino valente não recua
Mas de vez em quando apanhava
O cinturão fazia a sua festa
Quando minha mãe me chamava
Não tinha choro e nem vela
Eu chorava e o pau cantava
Gostava de fazer a minha lição
Da escola e o dever de casa
Respeitava professora, tinha noção
Detestava ter que perder o ano
Seria isso uma grande aflição
Tinha uma coisa que me encucava
Uma tia que fumava cachimbo
O bicho fedia e eu não gostava
Não suportava aquelas baforadas
Para mim aquilo não prestava
Fazia mal para o pulmão dela
E eu tinha que dar um jeito
Fiquei de mutuca na janela
Para ver onde a velha guardava
O cachimbo fruto dessa novela
Por um bom tempo investiguei
Mas nunca encontrei o lugar
Onde a titia escondia não cheguei
O bicho tava lá bem guardado
Com aquela catinga me acostumei
Todo erro um dia vai dar certo
Quem procura um dia acha
Ao cachimbo já cheguei bem perto
O sarro dele vinha no meu nariz
Eu disse um dia nele eu acerto
Procurava quase todo dia
Cutucando aqui e acolá
Era ela fumando e eu de vigia
Até um dia eu ter mais sorte
Só que a minha tia não via
Mas o diabo um dia atentou
Depois que a vi indo guardar
Vi onde ela o bicho guardou
O danado do cachimbo fedido
Agora na minha mão ficou
Joguei o triste no telhado
Antes que a velha procurasse
Fiquei esperando só o babado
Rindo sozinho sem pena da tia
Que procurou por todo lado
Ela já sabia quem era culpado
Sua intenção foi logo certeira
Veio a mim e disse seu safado
Me entregue o meu cachimbo
Vá logo sem se fazer de rogado
Menti ainda me fazendo de santo
Dizendo que de nada eu sabia
Na parede me encostou no canto
E eu não tive como contestar
Levei um cacete da tia e tanto
Desse dia prá cá nunca mais
Escondi o cachimbo da velha
Fiquei bonzinho igual animais
Sentindo a catinga calado
Esconder seu cachimbo jamais