O MENINO QUE NÃO QUERIA CRESCER
Eu quando era ainda criança
Na cidade de Goiana, Pernambuco
Minha mãe tinha esperança
De nunca me ver crescer
E nem de soltar sua trança
Tempo gostoso acho que era
Coisa que eu nem me lembro
Era um menino danado, uma fera
Meu pai que me disse depois
Eu era daquele que não espera
Queria tudo bem na hora
Era pão, biscoito ou bolo de goma
Se dissesse não tem agora
Só faltava virar um bicho
Eles me davam sem demora
Mas era um menino educado
Que respeitava os mais velhos
Não era de ser complicado
E obedecia aos meus pais
Se brincasse era logo castigado
Com dois anos vim prá cidade
Para morar no Recife, a capital
Onde conheci com essa idade
Muitos outros meninos pobres
Vivendo com pouca comodidade
Morei pertinho de uma maré
Num beco de quartos alugados
Só tinha peixe e não jacaré
Foi ali que eu fui crescendo
Tomando sorvete e picolé
Meus irmãos foram nascendo
Tanto menino quanto menina
Todos mamãe foi bendizendo
E nunca querendo nos deixar
E o amor fomos conhecendo
Passamos dificuldades e fome
Meu pai tinha o salário atrasado
Mas nunca deixou sujar seu nome
A gente comprava fiado na venda
Prá não deixar vazio o abdome
Pela manhã tinha que ir prá escola
Estudar era de suma importância
Os livros iam numa sacola
Pois bolsa a gente não tinha
Melhor do que pedir esmola
O tempo devagar foi passando
E a gente ficando grande
Mas mamãe ficava pensando
Que todos ainda eram crianças
Ficando sempre nos abraçando
O mais velho de todos era eu
O moreninho mais paparicado
Filho que antes do tempo nasceu
Minha mãe não pensou duas vezes
Logo que meu pai conheceu
Tudo depois foi esclarecido
E ela casou de véu e capela
Meu avô ficou mais enfurecido
Minha avó já foi mais amena
E o assunto foi esquecido
Quando fiquei adulto ela sorriu
Meu menino ficou foi grande
Da minha vida ela nunca sumiu
Vivemos sempre em harmonia
Até o dia que meu sonho surgiu
Eu era um rapaz inteligente
Mas fui agarrado com a família
Me achava um menino contente
Sem querer nunca crescer
Me tornei dela dependente
Na verdade não queria crescer
Queria ser sempre um menino
Mesmo casado e vendo nascer
Três anos depois o meu filho
Ainda alí eu pude permanecer
Ainda sou aquele tipo de filho
Mesmo já sem ter seus pais
Poderia ser até um andarilho
Se pudesse tê-los de volta
Mas a vida é dessa forma
Nunca temos nos olhos o brilho