NOTÁVEL NÍSIA FLORESTA A AUGUSTA BRASILEIRA

Mil oitocentos e dez

Foi o começo da história,

Quando, no doze de outubro,

Papari foi pra memória.

No Rio Grande do Norte,

Essa cidade de sorte,

Tornou-se mais promissora,

Por nascer no seu recinto

Dionísia Gonçalves Pinto,

A brilhante educadora.

Filha de seu Dionísio,

Que veio de Portugal,

E de Antônia Clara Freire,

Proprietária rural.

Ele, grande advogado,

Literato respeitado,

O seu nome ao mundo empresta,

Quando nasceu a contista,

Poetisa progressista,

Dentro do sítio Floresta.

Aos treze anos de idade,

Dionísia já se casou.

Sem aceitar opressão,

Em pouco se separou.

Pelos pais foi acolhida,

Porém em parte da vida

Seu marido a perseguiu.

O caso foi muito sério,

Porque até de adultério,

Por calúnia, ele a feriu.

Aquela revolta fez

A família se mudar.

Indo morar em Goiana,

Nísia passa a frequentar

Um convento carmelita,

Desenvolvendo a escrita

Buscando o conhecimento.

Seu pai lhe deu a ideia:

Veja a cultura europeia,

Lendo livros do convento.

Em meio às revoluções

Muitas vezes se mudaram.

Em Olinda e em Recife

Os seus pais também moraram.

No auge da juventude

Nísia já tinha a virtude

De ter sentimento nobre.

Mas, no Recife, emboscado,

Seu pai foi assassinado

Por ter defendido um pobre.

Já com seus dezoito anos

Novo cupido a flechou,

E por Manuel Augusto

Ela, então se apaixonou.

Ele estudava direito,

E se mostrou satisfeito

Quando Nísia deu à luz

Lívia Augusta de Faria,

Filha que se tornaria

A autora que a traduz.

Nísia, morando em Recife,

Começa a vencer barreiras,

Publicando no jornal

“Espelho das brasileiras”.

Nasce, assim, a escritora,

Na classe conservadora,

Na qual o “homem” domina.

Porém a fama conquista

De primeira feminista

Da nossa América Latina.

Usando seu pseudônimo

Surge, então, “Nísia Floresta

Brasileira Augusta”, que,

A submissão contesta.

Ao invés de lavar talheres,

Com “Direitos das Mulheres

E Injustiça dos Homens”,

Deixou os homens zangados,

Surpresos e assustados,

Como quem viu lobisomens.

“Nísia”, vem de Dionísia,

O seu nome de batismo.

“Floresta” é o sítio natal,

“Brasileira” é ufanismo,

“Augusta” é por seu amado,

Que depois de estar formado,

Também teve que migrar.

Foram com ele na trilha,

Nísia, mãe, irmãs e filha

Em Porto Alegre morar.

No ano de trinta e três,

Doze de janeiro, o dia,

Nasceu seu segundo filho,

Augusto Américo Faria.

No mesmo ano, em agosto,

Nísia teve outro desgosto:

Manuel Augusto morreu.

Ela, muito apaixonada,

Deixou essa dor marcada

Em tudo quanto escreveu.

Com a Guerra dos Farrapos

De cunho regional,

Nísia e sua família

Mudaram de capital.

E no Rio de Janeiro,

Com sistema pioneiro,

Fundou o Colégio Augusto,

Para educar as meninas,

Incluindo as disciplinas

De um currículo mais justo.

Lançou para adolescentes

Um livro bem-sucedido, 

“Conselhos à minha filha”,

Que foi o mais traduzido.

E no seu Colégio Augusto

Fez, num trabalho robusto,

Três novas publicações,

Além de ensinar latim,

Sendo outro motivo, assim,

Pra muitas perseguições.

Mais de vinte e oito anos

Na Europa ela passou.

França, Itália e Portugal

São nações em que morou.

Grécia, Alemanha e Inglaterra,

Cada qual foi uma terra

Que pra seus livros foi fonte

D’uma inspiração andante,

Virou também palestrante

E amiga de Augusto Comte.

“A lágrima de um Caeté”

É seu livro indianista,

Mas também republicano,

De cunho separatista,

No qual defende a bandeira

Da Revolução Praieira,

Porém sem entrar na briga.

E depois vê publicado,

O romance inacabado

“Dedicação de uma amiga”.

Nísia voltou ao Brasil,

Quando aqui aproveitou

Pra vender parte das terras

Que de seus pais ela herdou.

Mostrando que era mister

A inserção da mulher

Nas classes profissionais,

Publicou, nesse ideário,

Seu “Opúsculo humanitário”,

Com ideias liberais.

“Páginas da vida obscura”

E “Passeio ao Aqueduto

Da Carioca”, de então,

São mais obras de seu fruto.

Pela perda maternal,

Fez seu “Pranto Filial”.

E, em outra grande façanha,

Traçou seu “Itinerário,”

Como quem faz um diário,

“D’uma viagem à Alemanha”.

Reunindo cinco ensaios

De uma vida viageira,

Escreveu “Cintilações

De uma alma brasileira”.

Aos setenta e cinco anos,

Na França, findam seus planos,

Porque Nísia faleceu.

Mas a distinta escritora

E grande historiadora, 

Para a história, nasceu.

No Rio Grande do Norte,

A sua terra natal,

Em uma bela homenagem,

E por Lei Estadual,

A cidade Papari 

Trocou seu nome tupi,

Depois recebeu em festa,

Os restos da filha amada,

E orgulhou-se ao ser chamada

Cidade “Nísia Floresta”.