NÍSIA FLORESTA INCENDIOU O SÉCULO XIX !

Dionísia bravamente

Ultrapassou o seu tempo.

No século dezenove

Enfrentou os contratempos

De um patriarcado arcaico

Com julgamento mosaico

Que pensar é passatempo.

Brasileira e augusta,

Respeitada e imponente,

Batizada como deusa:

Baco femininamente,

Pro prazer e a criação

Escutou seu coração

Para viver livremente.

Floresta foi seu recanto

Lá no Rio Grande do Norte,

Na região nordestina

Onde o cabra é mais forte,

Mas também nasce mulher

Com coragem e com fé

Que não tem medo da morte.

Almofada e bastidor

Pro bordado miudinho

Não agradava a menina

Que era um passarinho.

Se imaginava voando,

Escrevendo e pensando

Como num redemoinho.

Ela não admitia

Uma subjugação

Do homem sobre a mulher.

Lutou contra a humilhação

Do pai impor casamento

Sem o seu consentimento,

Preferiu separação.

Para a época um escândalo:

Uma mulher separada!

O que acirrou seus ânimos

E foi pra luta engajada

Contra a escravidão,

Os índios da extinção

E a mulher explorada.

Mulher era pra coser

E cozinhar pra família.

Lavar, passar e limpar

A casa e a mobília.

Sem direito a pensar

E nem de argumentar,

Só no altar de vigília.

Encontrou um novo amor

Que lhe deu mais liberdade.

Começou a publicar

Textos onde a verdade

Era exposta sem medo,

Sentimento sem segredo

Foi arma contra a maldade:

No “Espelho das Brasileiras”,

Um jornal pernambucano,

Ainda nos anos trinta.

No poder pós-lusitano

Com a política em polvorosa

E mudanças desastrosas,

Deu início a seus planos.

Quando mudou-se pro Rio

De Janeiro, a capital,

Viúva de seu Augusto

Fez um ato magistral.

Fundou a primeira Escola

Que pra mulher foi a mola

Pro salto intelectual.

Nada de boas maneiras,

Corte, costura e cozinha;

Prendas dos lares. receitas

Pras esposas boazinhas:

Ciências, Línguas, História

E Artes na trajetória,

Botando a mulher na linha.

Na linha evolutiva

Da nossa raça humana

Não poderia existir

Uma mulher mediana.

É de igual para igual

Com o homem e seu arsenal

Que a mulher é soberana.

Com a pena e o papel,

E sem limpar os talheres,

Escreveu seu grande livro:

“O direito das mulheres

E a injustiça dos homens”

Que as mulheres consomem

Com poder de chanceleres.

Em “Conselhos...” a sua filha

Pediu para não ceder

Aos caprichos dos machos

Que acham que o bom viver

É ter mulher como escrava

Que cozinha, passa, lava

E ajuda os filhos a crescer.

Com essa filha doente,

Foi pro velho continente:

França Itália e Inglaterra

A aceitaram contentes.

Era uma intelectual

Que nunca se viu igual,

Nem lá e nem mais na frente.

Teve os livros traduzidos.

Palestrou, fez conferências.

Lançou um poema épico

Sobre índios e a existência

Dos Caetés maiorais,

Tratados como animais,

Sem respeito à sua essência.

Morreu em oitenta e cinco

Numa cidade francesa.

Cinqüenta anos depois

Causou em muitos surpresa.

Seus despojos transferidos

Pro município querido

Que louva a sua proeza.

Hoje é nome da cidade,

Papary o seu rincão,

Onde ficava a Fazenda

Floresta grande torrão.

Famigerada no mundo,

Os seus conceitos profundos

Mudarão nossa nação.

Jotacê Freitas

Este poema participou da 3ª Edição do Prêmio Nísia Floresta de Literatura - 210 anos, uma iniciativa inédita realizada pela ONG CECOP – Centro de Documentação e Comunicação Popular e pelo Museu Nísia Floresta, localizado na cidade de Floresta, Rio Grande do Norte.

O prêmio teve como objetivo incentivar a produção literária em todo o território nacional, estimular o gosto e o hábito pela leitura e pela pesquisa, além de difundir a literatura de cordel entre os mais diferentes públicos de leitores. Nesse ano de 2020 comemoramos os 210 anos de aniversário de Nísia Floresta. A ideia é que a partir desse prêmio literário possamos ampliar o conhecimento da população sobre quem foi Nísia Floresta e o legado deixado por ela nas lutas sociais por direitos igualitários em defesa das mulheres, dos negros e dos índios. Nísia nasceu em 12/10/1810 em Papari – Capitania da Paraíba , atual RN e faleceu em 24/04/1885 em Ruão na França .

Com a participação de 295 poetas de todo o país, meu texto foi 50º colocado, não será incluído na coletânea com os 25 primeiros classificados, mas é importante que nós na Bahia conheçamos a vida e a obra desta mulher que foi a primeira feminista do país.

Imagem :https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%ADsia_Floresta_(escritora)

Detalhes: https://www.premionisiafloresta.com.br/sobre