A RIQUEZA
Por Gecilio Souza
Perguntou-me se sou rico
E eu respondi que sou
No instante percebi
Que logo se interessou
Pôs os olhos em meu bolso
E nada visualizou
Conferiu a minha carteira
Vi que se decepcionou
Grande desapontamento
Pois só havia um documento
Nenhum centavo encontrou
Desde então não demorou
A traçar outro roteiro
Disse que tinha compromisso
Que havia firmado primeiro
Ao perceber respondi-lhe
Bem tranquilo mas ligeiro
Que realmente sou rico
Mas não rico de dinheiro
A minha riqueza consiste
Em saber que ainda existe
Amor puro e verdadeiro
Não um amor interesseiro
Nem aquele possessivo
Muito menos o amor cego
Meramente afetivo
O amor a que me refiro
É mais amplo e construtivo
Implica em amar a vida
De modo sereno e ativo
Porque a maior riqueza
Está implícita na natureza
Presente em cada ser vivo
Ouviu com o olhar cativo
E se pôs a me dizer
Falou com exclamação
Eu gostaria de saber
Se é possível alguém
Ser rico sem nada ter
Foi então que respondi
Isto é fácil de saber
Nem o fôlego nos pertence
E a morte sempre vence
Pobre ou rico vai morrer
Riqueza é saber viver
Na máxima interação
Com outras formas de vida
E fazendo a promoção
Do direito de existirem
Sem a nossa interdição
Riqueza é a totalidade
Desta bela dimensão
Mas também cada vivente
Possui um valor inerente
Inscrito no coração
Riqueza é a satisfação
De existir simplesmente
Sabendo que tudo em volta
Faz parte do ambiente
Meu lar é onde me encontro
E ocupo temporariamente
Disto aqui ninguém é dono
Qualquer ser vivo é parente
Tenho o dever de cuidar
Deste ethos e comum lar
Isto que é viver ricamente
Riqueza é não ser indiferente
Ao lamento dos demais
O mundo é o lar de todos
Não há raças excepcionais
Ethos é o espaço comum
Do homem e dos animais
Quem vê desta forma é rico
Não rico de capitais
Quantos morrem na pobreza
Escravos da falsa riqueza
Vêm os outros como rivais
Depois disto deu sinais
Com aspecto concentrado
Que havia refletido
Entendido e concordado
Que o conceito de riqueza
A nós imposto e passado
É histórica enganação
Distorcido e equivocado
Então o acúmulo de cobres
Que produz pessoas pobres
Mantém o amor sequestrado
G. S.