UM PAÍS DE VÍTIMAS

UM PAÍS DE VÍTIMAS

Miguezim de Princesa

I

Todo mundo agora é vítima,

Ninguém tem culpa de nada:

Quem xinga e cospe nos outros

Só reclama da pedrada

E quem tem pouco dinheiro

Ainda paga mesada.

II

Jovens, cheios de preguiça,

Não lavam nem o furico,

Não tiram o prato da mesa,

Ainda fazem fuxico

E ficam à toa se gabando

Que o pai é podre de rico.

III

Gente que faz o currículo

Parecido um reboliço:

Oito linhas e 11 erros,

Sem luz, sem força e sem viço,

E ainda fica reclamando:

- Eu não arranjo serviço!

IV

Mulher que insiste em manter

Um cambrião sem valor

Que mija a beira do vaso

E não vale nem o fedor,

E ainda há quem diga

Que tudo isso é amor.

V

Homens que comem na mão

De mulher intoxicada

Que faz alienação

E arma muita cilada

- Quando acontece a tragédia,

Dizem que surgiu do nada.

VII

Um povo que sai matando

Mulher, criança e rapaz,

Que sai maltratando idosos

E abandona incapaz,

Ainda espalha o boato

Que é um povo de paz.

VIII

Quase 100 mil homicídios,

A metade intencionais,

As filas intermináveis

Nas portas dos hospitais,

E as cúpulas do poder

Mais afanam e querem mais.

IX

É aumento pra prefeito,

Deputado e senador,

Em todo canto se paga

Um nobre vereador,

E o povo no auxílio,

Sorrindo e dando valor.

X

Acho que passou da hora

De cada um assumir

Sua responsabilidade,

Para poder construir.

Se as aparências enganam,

Vamos deixar de fingir.

XI

Fingir que estamos bem,

Fingir que temos dinheiro,

Comprando roupa de marca

Fabricada no estrangeiro,

Mas com a panela vazia

Na boca do fogareiro.

XII

Vamos voltar a ser simples:

Comer feijão com arroz,

Sonhar com os pés no chão,

O que é de um ser de dois,

Trabalhar duro e vencer,

Que a glória vem depois!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 29/12/2020
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