A FOME
Por Gecilio Souza
Um estigma vergonhoso
A mais desumana ferida
É hora de a cidadania
Pôr o dedo na ferida
Quem com a fome contribui
Sem dúvidas é um homicida
Delinquente social
Contra a massa desnutrida
Violento moralmente
Criminoso eticamente
Quem desperdiça comida
Sabota e bloqueia a vida
Quem este processo atiça
Falta senso de empatia
Não sabe o que é justiça
Pode ver que é egoísta
Com os famintos se enguiça
Geralmente o parasita
Diz detestar a preguiça
Seja ele ateu ou cristão
Tem um péssimo coração
Quem comida desperdiça
A ganância e a cobiça
Destroem a fauna e a flora
Plantam sementes e grãos
Mas a fome só piora
E se vê mais desperdício
Todo dia e toda hora
Exportam-se a produção
Enquanto o faminto implora
Pela parte excedente
Mas é mau eticamente
Quem joga comida fora
Aquele que lucra explora
Busca com a fome lucrar
Faz da comida moeda
Moeda de negociar
O poder sócio-político
Isto que é manipular
As estatísticas da fome
Para a tragédia ocultar
Inúmeras vítimas caídas
E os sagrados homicidas
Insistem em desperdiçar
O que mais se ouve falar
É irmão, irmão, irmão
Ajude a igreja tal
Com o dízimo e doação
Porém não se verifica
No altar ou na televisão
Nenhuma campanha séria
Pedindo a erradicação
Desta ferida horrorosa
Pois tem a alma sebosa
Quem desperdiça o pão
Do que adianta oração
Se lhe falta humanidade
As preces não têm valor
Alheias à realidade
Fome é filha da omissão
Que agride a dignidade
Mantê-la é conveniente
Para se fazer caridade
Fala-se em Deus a toda hora
Quem joga comida fora
É um mau que nega a maldade
A fome é uma enfermidade
Socialmente fabricada
Que ao longo do processo
Tornou-se naturalizada
Por isso não causa escândalo
Nem ação articulada
Para muitos é normal
E às vezes até questionada
Quem desperdiça alimento
Pelo seu comportamento
Tem consciência envenenada
Filha da política errada
De uma nação corrompida
Um poder público omisso
E a economia mal gerida
Conivente e insensível
Em face da gente sofrida
Não mensura o quanto a fome
É violenta e omitida
Pelos outros não respondo
Deveria ser crime hediondo
A concentração de comida