ELA
Por Gecilio Souza
Vou contar o que passei
E a causa do meu desgosto
Certa vez me apaixonei
Por um diferente rosto
A ocasião já não sei
Se foi julho ou agosto
Mas desta época fiquei
Com uma espécie de encosto
Esta história se inicia
Quando eu abastecia
Num determinado posto
Veja só que sorte a minha
Ou quem sabe maldição
De mim ela era vizinha
Quando morei no sertão
Naquela cidadezinha
Encravada num rincão
Não sei de onde ela vinha
Tampouco a sua intenção
Porém um olhar trocado
Deixou suspenso e marcado
O meu pobre coração
A deusa a quem me refiro
Tem lá seu grau de maldade
Me fisgou e fez um giro
Deixou somente a saudade
Foi como ter dado um tiro
Sem clemência ou piedade
Mesmo assim lhe admiro
Pela sua capacidade
De fazer um coração
Ficar prostrado no chão
Ferido com gravidade
Ela me acertou em cheio
Na essência do meu ser
Depois elegante veio
Tentando me convencer
Que aquele era o único meio
De amor se amadurecer
Mas o tombo foi tão feio
Que fez a alma gemer
Aquela bela figura
Do alto de sua ternura
Faz qualquer homem sofrer
Este encanto de beleza
Dêem-lhe o epíteto que for
É arte da natureza
Arte não tem só uma cor
Supera qualquer riqueza
Arrefece qualquer dor
Têm suas crises de dureza
Para reafirmar o amor
Ela é negra, ruiva e branca
Chave que fecha e tranca
O masculino rancor
Nem nome próprio ela tem
É gênero humano-divino
Qualquer nome lhe cai bem
Seu espírito é nobre e fino
Representando o harém
Do segmento feminino
Não é mulher de ninguém
Possui um dom genuíno
Ela é fulana e beltrana
A cepa da raça humana
Perante a qual me inclino