O PLANTADOR DE SONHOS
I
Na casa de pau a pique
No sopé da serrania
Nonato, Rosa e mais seis
Tinham sua moradia,
Lutando pelo sustento,
Enfrentavam sol e vento
Com coragem, noite e dia.
II
Tinha cinquenta de idade
Seu Nonato, o lavrador,
Quarenta e dois tinha aquela
Que ele chamava de amor,
Uma incansável parceira,
Há vinte e três companheira
Daquele batalhador.
III
Roberto, Antônio, Marcelo,
Laurinha, Luiz e Rita
Eram os nomes dos filhos
De uma galera bonita,
Temente a Deus e valente,
Naquele solo inclemente
Tinha esperança infinita.
IV
Um pequeno galinheiro
E uma roça bem cuidada
Eram a fonte de renda
Da família abençoada:
Para manter cada filho,
Feijão, mandioca e milho
Era a colheita aguardada.
V
Beto e Tonho, adolescentes,
Fora do horário escolar
Ajudavam o seu pai
Nas tarefas e a cuidar
Da pequena plantação,
Conscientes da missão
Que cumpriam no lugar.
VI
As outras quatro crianças
Ficavam com Dona Rosa,
Atenta às coisas de casa,
Sempre muito carinhosa,
Mesmo envolta em afazeres,
Não esquecia os deveres
Que tem uma mãe zelosa.
VII
A vida era dura ali
Pra nunca faltar no prato,
Mas sempre, ao amanhecer,
Demonstrando ser bem grato,
Fazia sua oração
No seu pedaço de chão
O devotado Nonato.
VIII
Certa vez, a sequidão
Fez mirrar todo o plantio,
Oito meses se passavam
E não acabava o estio,
Um estirão de tristeza
Tomou lugar da beleza
No leito seco do rio.
IX
Nonato não se abalou
E preparou novamente
Aquele solo rachado:
Revirou, pôs a semente...
O velho chapéu de palha
Protegia, na batalha,
O rosto do combatente.
X
O rendimento da venda
De seus produtos na feira
Acabou ficando pouco,
Mas surgiu uma maneira
De fazer algum trocado,
Após Rosa ter lembrado
Seus dotes de costureira.
XI
O povo do vilarejo,
Por causa da pandemia
Que já vinha se alastrando
Decerto precisaria
Evitar a enfermidade
Procedente da cidade,
A todos assustaria.
XII
Compraram materiais
Com sua parca poupança
Para Rosa fazer máscaras,
Na torcida e na esperança
Do negócio florescer
E que pudessem vender
Nas casas da vizinhança.
XIII
Com o risco de Covid
Atormentando o local,
Suas vendas deram certo,
Até mais do que o normal;
Depois da boa surpresa,
Quanta alegria na mesa
Sentiu aquele casal.
XIV
A paixão pela lavoura
Era ainda firme e forte;
Apesar de algum abalo,
Nonato tinha suporte
Naquela fé nordestina
Na providência Divina,
No trabalho duro e sorte.
XV
Todo dia, em uma prece,
Contemplando o firmamento,
Pedia as águas de volta
Para aquele chão sedento;
A solução provisória
Louvava na rogatória,
Mas precisava de alento.
XVI
O Senhor não desampara
Um filho temente, honesto
E, assim, a bênção chegou
Para aquele lar modesto:
A chuva tão esperada
Deixou a terra encharcada,
Os risos contam o resto...
FIM
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Cordel classificado em primeiro lugar no Concurso Literário Virtual da ALAP. Tema: Esperança.