QUANDO CHEGA A CHUVA NO SERTÃO.
AUTOR: Arnaldo Windson.
QUANDO FICA NUBLADO NO SERTÃO
ESCURECE E O VENTO SE AGITA
O RELÂMPAGO CLAREIA O TROVÃO GRITA
EXTREMESSE O SOLO DESTE CHÃO
ESFRIANDO O CALOR DO VERÃO
E O HOMEM DO CAMPO SE CONTENTA
JÁ COMEÇA JUNTAR AS FERRAMENTAS
E NO ROSTO UM SEMBLANTE DE ALEGRIA
E AS NUVENS JOGANDO ÁGUA FRIA
VEM A LAMA E A POEIRA SE AUSENTA.
O CAPÔNiO ESPERA ANOITECER
NUMA REDE SE DEITA AGASALHADO
COM O BARULHO DA CHUVA NO TELHADO
ELE RESA PRA O DIA AMANHECER
E VER SUA ESPERANÇA RENASCER
COM A CHEGADA DA BRISA MATINAL
O FANTASMA DA SECA INFERNAL
QUE AO HOMEM DO CAMPO METE MEDO
QUANDO É DESCOBERTO O SEU SEGREDO
SE AFUGENTA DO INVERNO DIVINAL.
O VAQUEIRO ALEGRE TANGE O GADO
ABOIANDO DENTRO DOS MATAGAIS
PUXA VERSOS COM RIMAS BEM LEGAIS
QUE FICARAM ESQUECIDAS NO PASSADO
VENDO A ÁGUA LAVANDO O SERRADO
PARECENDO UMA CORTINA DE PRATA
E O LAGÊDO EM FORMA DE CASCATAS
MOSTRA COMO É LINDA A NATUREZA
E A CHUVA FAZENDO A LIMPEZA
DO VERÃO QUE QUEIMOU AS SUAS MATAS
O INVERNO ANIMA O ROCEIRO
QUE COMEÇA PREPARAR O ROÇADO
COM A FOICE,A ENXADA E O MACHADO
ELE LIMPA O MATO E FAZ ACERO
O REMONTE DA CERCA VEM PRIMEIRO
COM ARAMES E ENTRAÇADOS DE VARAS
E DEPOIS VEM A QUEIMA DAS COIVARAS
UMA NUVEM ESCURA VEM SURGINDO
E O SOL QUE AINDA ESTÁ DORMINDO
COM PREGUIÇA NÃO PENSA EM DAR AS CARAS
DE MANHÃ SE ESCUTA NA FLORESTA
O BARULHO DE UMA GRANDE FARRA
SÃO OS PÁSSAROS COM SUA ALGAZARRA
QUE COMEÇAM O DIA COM UMA FESTA
OS VESTÍGIOS DA SECA QUE NÃO PRESTA
OS RIACHOS TRANSFOMAM EM ENCHURRADAS
QUEM ANUNCIA UMA GRANDE INVERNADA
É O PÁSSARO POR NOME DE CARÃO
QUANDO CANTA ESPANTA O VERÃO
E O ROCEIRO ACUNHA A SUA ENXADA.
COM A CHEGADA DA CHUVA NO SERTÃO
EMUDECE O CANTO DA CIGARRA
EM QUALQUER GALHO SECO ELA SE AGARRA
E SÓ CANTA NO TEMPO DO VERÃO
E O PASTO QUEIMADO PELO CHÃO
SE TRANSFORMA NUM CAMPO VERDEJANTE
E O SOL COM UM BRILHO ESCALDANTE
SE TRANSFOMA EM UMA NUVEM ESCURA
APARECEM MILHÕES DE TANAJURAS
FESTEJANDO A CHUVA NO SERTÃO.