Cordel do anticandidato
Na eleição deste ano
Um ano muito safado
Serei anticandidato
E para animar o gado
Apresento aqui o plano
De governo abananado
Vou decretar feriado
Dia sim e outro não
Elegei um cabra macho
Prometo arroz e feijão
Farinha e carne de charque
Encher o cu do povão.
Prometo passar a mão
No dinheiro da merenda
O eleitor vagabundo
Vai ter emprego e renda
E o cabra que for velhaco
Vai ter fiado na venda
Quero que você me entenda
minha bandeira deflagra
O homem de meia idade
Com ereção meio magra
Votando no Bento Filho
Terá direito a viagra
Se tu for pego no flagra
Serei teu advogado
Defenderei a bandeira
Do machão e do veado
E se tu votar em mim
Tu és um grande arrombado
Eu estou preocupado
Com a nossa educação
Pela baixa qualidade
E falta de informação
Povo elegeu Bolsonaro
Um biruta capitão
Minha futura gestão
Não serei um deputado
Nem simples vereador
Nem ladrão encasacado
Um prefeito ou senador
Ou governo depravado
Se for mesmo elejado
Serei o fiscal do povo
Faltando ordem eu boto
Faltando chuva eu chovo
Povo terá alimento
Comendo o seu pão com ovo
Eu mesmo não me comovo
Com fala de candidato
Tu escolhe teu ladrão
O povo é quem paga o pato
Faltou arroz na panela?
Vote em Bento e encha o prato
Aqui neste desacato
Eu lanço minha campanha
Quem quiser votar em mim
Mesmo perdendo tu ganha
Bento Filho não promete
Ele dá e arreganha
Eleitor, deixe de manha
Empregarei seu parente
Não precisa ser perito
E nem pegar no batente
Basta ter votado em mim
E ser de nossa corrente
Um candidato que mente
Facilita a eleição
Com meu mestre Bolsonaro
Apreendi esta lição:
Minta sempre, todo dia
Com gosto e com devoção
Prometo, darei com uma mão
E tirarei com as duas
Juntando a minha fé
Com as fortes fezes tuas
Pode chover canivete
Que assim mesmo não recuas
A terra tem duas luas
Segundo diz a ciência
Naquela lua pequena
Mora a honra e a decência
Do astuto picareta
Em perversa competência
Eu vou falar na sequencia
Do meu projeto catita
Mostro minha plataforma
Pra que o povo reflita
Quem pensa que o céu é perto
Se engana com a cor da chita
Absurdo se exorbita
Neste país tropical:
Chamaram as Forças Armadas
E a Guarda Nacional
Pra fazer uma limpeza
E higiene total
No prédio onde funciona
A Justiça Federal
Na capital João Pessoa
Conforme disse o jornal
Enquanto a sujeira reina
Lá no Mercado Central
Para a elite é normal
Manter essas regalias
Quando eu for o prefeito
Acabo com anomalias
Desse cartel dos ricaços
Corto suas cortesias
E mais dias, menos dias,
A barata sai da loca
Botar ordem no Brasil
Que é uma casa de Noca
Nivelar essa bagaça
Que a injustiça sufoca
Pra isso Bento convoca
A barata e o besouro
O rato, o gato e o grilo
A vaca, o boi e o touro
Pra encarar esse povo
Que vive tirando o couro
Do povo que é o tesouro
Maior que um país tem
Que aqui o coco é seco
Vamos botar no sedém
Da raça de exploradores
Do pouco que a gente tem
E nós vamos mais além:
Professor passa a ganhar
Igual a vereador
Cada qual no seu lugar:
Um faz leis, constrói preceitos,
O outro ensina a pensar
Comecei a bordejar
Fugindo da sacanagem
Querendo falar bem sério
Nessa minha abordagem
Mas vou voltar pro deboche
Pra não manchar minha imagem
Garanto que a porcentagem
Do contrato licitado
Na minha honesta gestão
Será bem organizado
Metade vai para mim
A outra pro meu cunhado
Também fica combinado
O lance da rachadinha
Para fazer Caixa Dois
Uma é tua e outra é minha
Ajoelhou tem que rezar
E cantar a ladainha
Tendo feijão e farinha
O povo ta satisfeito
Se o candidato roubar
Se elege do mesmo jeito
Por isso sou candidato
Bandido sem ter defeito
Eu já trabalhei no eito
Limpei roça, dando duro
Já fui vaqueiro de bode
E catador de monturo
Já dormi sem ter lençol
No relento, atrás do muro
Hoje eu não acho e procuro
Um cidadão estadista
Que queira o bem da nação
E não seja populista
Que veja a realidade
Com visão socialista
Por não ter ninguém à vista
Eu mesmo me candidato
Só para fazer chacota
Tirando o maior barato
Dessa grossa pantomima
Que é a eleição do rato
O cara dá um sapato
Pra votar no fariseu
Depois que eu voto, me lasco
Ele rouba o que é meu
Leva a verba da merenda
Trocada por um pneu
Plantou miséria e colheu
Votou na corrupção
Ficou sem casa e saúde
Também sem educação
Mas tomou cachaça grátis
No dia da eleição
Por isso que o cidadão
Pinto que não come milho
Votará no candidato
Que jamais saiu do trilho
Quem for doido de juízo
Vai votar em Bento Filho!