Meu pai e as Estampas Eucalol

Ainda quando criança

Foi obrigado a trabalhar

Brincadeiras da infância

Não podia nem pensar

Com o cansaço do dia

Mal podia estudar.

Falando em estudar

O destino estava traçado

Educação escolar

Somente o ensino primário

Pois só filho de rico

Fazia o secundário.

Sua rotina era dura

Logo cedo acordava

Tomava café ligeiro

Se atrasasse apanhava

Seu pai era o patrão

Se brincasse o pau cantava.

Seu pai era comerciante

Não contratava empregado

Ocupava a família

Com a lida do trabalho

Em sua administração

Tudo era controlado.

Prestava atenção em tudo

Esse era o seu ofício

Punia sem piedade

Qualquer erro cometido

Assim contou nosso pai

Lamentando o ocorrido

Não tinha 14 anos

Quando foi ameaçado

Mais uma vez estava prestes

A ser então castigado

Pulou de cima do balcão

Sem tempo para ter cuidado.

Antigamente as mercearias

Tinha balcão muito alto

Geralmente de madeira

Rústico ou bem acabado

Foi nesse balcão que meu pai

Pulou pra não ser castigado.

Ao pular sem nem pensar

Caiu dentro de uma lata

Era a lata de sardinha

Tipo quadrada e alta

Fez na perna uma ferida

Difícil de ser sarada.

Uma marca ele carrega

Para toda sua vida

Marcas do corpo e da alma

Sem tamanho nem medida

Fazer do mundo a casa

Foi sua única saída.

Da infância também guardou

Lembranças bem valiosas

O dia a dia na mercearia

Despertou vontades novas

Deixando brotar fantasias

Numa criança curiosa.

Além de coisas de comida

Na mercearia também se achava

Creme dental, sabonete

Leite de Colônia se comprava

Eucalol era o sabonete

Que o povo mais procurava.

Era comum quem comprava

Levar até pra presente

Pois vinha em caixas floradas

Com beleza atraente

E fragrâncias variadas

Com gosto pra toda gente.

Mas quem desejasse comprar

Apenas uma unidade

Também podia encontrar

Para atender a vontade

Do freguês que desejasse

Atender necessidade.

Quando as coisas chegavam

Pra arrumar em prateleira

Meu pai logo se ocupava

Dos gêneros da natureza

Higiene e perfumaria

Como tarefa primeira.

Mas por que tanto interesse?

Tinha uma explicação

Só tinha um dia feliz

No trabalho por obrigação

Quando encontrava Eucalol

Pra fazer arrumação

Perguntava logo ao pai

Quantas caixas ia abrir

Pra vender por unidade

Quando o povo lhe pedir

Tinha todo interesse

De algo ali descobrir.

Cada caixa de Eucalol

Vinha com uma estampa

Sobre Curiosidades Mundiais

Viagens e outras tantas

A Conquista do Pólo Norte

Como tema de estampas.

A alegria estampada

Nos olhos cheios de brilho

Por encontrar na caixinha

Uma estampa de algum estilo

Para a sua coleção

De pares de vários tipos.

Com as estampas de viagens

Passeava pelo mundo

Conhecimentos gerais

Ainda que não fosse à fundo

Um pouquinho de cada lugar

Aprendia sobre tudo.

Eucalol – o sabonete do Brasil

Era assim a propaganda

Despertava a curiosidade

De uma simples criança

Nem por trás de um balcão

Parava suas andanças.

Em “Viagem pitoresca através dos continentes”

As estampas lhe envolvia

Um horizonte diferente

Seus olhos enxergaria

Do Continente Americano

Algo novo conhecia.

Vou citar alguns exemplos

Para que entendam melhor

A curiosidade aguçada

De uma criança que não brincava no Sol

Só lia e viajava

Nas estampas de Eucalol.

Aprendeu que na Indonésia

A feira era de muitos acontecimentos

Os povos de pequenas aldeias

Se encontravam nesses momentos

Além de comprar e vender

Sabiam de notícias e eventos.

Sobre as cerimônias fúnebres

Daquela cultura também aprendeu

Que se despediam alegres

De quem por algum motivo morreu

Acreditando que renasceria

Para se juntar aos seus.

Na dança das borboletas

Um ritual sagrado de beleza

Originado no Japão antigo

Une religião e natureza

Com trajes de dançarinos

Rapazes dançam com delicadeza.

Oasis em grandes desertos

Era conforto aos viajantes

Na Jordânia viraram Aldeias Árabes

Para descanso dos passantes

Mulas e camelos descansando

Era fácil esse flagrante.

Cada estampa uma descoberta

Isso é o que lhe fascinava

Quando leu sobre a muralha da China

Sua visão nem piscava

O grande portão de Pequim

De fato o encantava.

Nos degraus do Palácio Potala

Dalai-Lama apresenta relíquias de Buda

Os peregrinos de toda Ásia

Se encontram sem disputa

Se colocam em adoração

Onde o budismo perdura.

Da Babilônia ao Iraque

A história era contada

E nas ruinas de Níneva

Essa história é encontrada

Muitos séculos se passaram

Na arte é revelada.

Muitos países foram visitados

Sem sair do seu lugar cativo

Citamos alguns exemplos

Para o leitor sentir o motivo

Das estampas de Eucalol

Ser causa de tanto prestígio.

Do Continente asiático ao africano

Cada estampa passeava

Registrando informações

Que ninguém imaginava

Não havendo bibliotecas

Nessa fonte pesquisava.

Além de informações

Geográficas e culturais

Também vinha curiosidades

Consideradas mundiais

E aquele franzino menino

As achava colossais.

Para citar um exemplo

Dessas curiosidades

No Egito, Heliópolis

Mais bela entre as cidades

Residia o Deus do Sol

Era a lenda da antiguidade.

Da cidade nada mais resta

Está dito na estampa

Somente o Obelisco

Permanece pra lembrança

Essa beleza encantadora

Que os sentidos alavanca.

Nas curiosidades mundiais

Estava o Cristo Redentor

Conhecido corcovado

Cheio de esplendor

Fez o Rio de Janeiro

Abrir os braços sem pudor.

Da União Soviética

Também tinha curiosidades

Quem sabia que o Kremlin

Era a residência dos Czares

Hoje é sede do governo

Reúne monumentos espetaculares.

São palácios e igrejas

Mosteiros e muito mais

Pertenciam a uma família

Ditadora como jamais

O patrimônio sobreviveu

Como obras ancestrais.

A série do Escotismo

O menino também guardou

Nas estampas de Eucalol

Ele também encontrou

Diversas atividades

Que também lhe encantou.

Escoteiros aprendiam

Desde cedo a cozinhar

Mesmo não tendo receita

Era preciso se preparar

Para situações difíceis

Que pudessem encontrar.

Aprendiam a fazer fogo

De diferentes maneiras

Tinha fogo de aviso

E outros tipos de fogueiras

Cada uma com sua função

Fogueira até conselheira.

Também tinha os Escoteiros

Para os assuntos do ar

Vestiam uniformes próprios

Para se identificar

A estrutura do avião

Todos tinham que estudar.

E os Escoteiros do mar!

Também deviam aprender

Coisas sobre embarcação

Tudo devia saber

Se defender dos perigos

Que viessem suceder.

Precursores do automobilismo

Era outra série encontrada

Era tão interessante

Que ao encontrar logo gritava

Mais um tipo de transporte

Que por horas admirava.

1899, o primeiro carro fiat

Duas pessoas transportava

O modelo era conversível

O motorista se beneficiava

Acionava ou não a capota

Quando assim desejava.

1914, foi fabricado o Ford Touring

Se tornou popularíssimo

Também aqui no Brasil

Onde o automobilismo

Assim como o futebol

É esporte bem antigo.

Da série viajando pelo Brasil

Uma estampa escapou

Trata do rei do Cangaço

Que a estampa difamou

Hoje a história de Lampião

O tempo desmistificou.

O que a estampa trazia

Ao menino impressionou

Curioso como sempre

Um dia a dúvida limpou

Leu a história do Cangaço

E suas conclusões tirou.

Virgulino era de fato

Um homem de muito valor

Enfrentou os poderosos

Vingando a sua dor

Uma dor que era de muitos

Um bando então se formou.

A Conquista do Polo Norte

Muito lhe interessava

Queria saber porque o homem

Ali tanto se arriscava

O que tanto o atraia

O que mesmo explorava.

Descobriu que para muitos

A missão foi incompleta

O escandinavo Nansen

Quase alcançou sua meta

Seis meses explorando a pé

Foi louvado sem modesta.

O primeiro americano

À chegar ao Pólo Norte

Não devia ir sozinho

Pois era causa de morte

Peary plantou a bandeira americana

No ano de 1909.

Pra quem morava numa cidade

Que mais parecia uma vila

As estampas de Eucalol

Eram fonte de pesquisa

Pois jornais quando chegavam

Por poucos a coisa era vista.

Depois das estampas de Eucalol

Nunca mais deixou de ler

Lia bulas de remédio

Só pelo gosto de saber

Que a arte da leitura

É coisa de muito prazer

As estampas para o menino

Era coisa de valor

Carregou junto aos pertences

Quando o mundo ele ganhou

Em nenhum tempo da vida

As estampas abandonou.

Mudava de casa e emprego

De rua e de cidade

Trabalhava noite e dia

Já passou da jovem idade

Foi pai, avó e bisavó

Com as estampas em validade.

Nas trilhas da dura vida

Algumas ficaram pelo caminho

Depois dos 80 anos

Ainda guarda com carinho

As estampas que o levou

Ao mundo quase todinho.

Como foi que descobri

Esse tesouro guardado?

Perguntei como desenvolveu

A arte de ler com agrado.

Ele então me respondeu

Fui pelas estampas despertado.

Estampas, que estampas?

Respondeu com alegria:

- As estampas de Eucalol

Que meu pai nas compras trazia

Em caixas de sabonetes

Que à varejo vendia.

O trabalho era bem duro

Mas as estampas alivia

Muito significavam

Pois uma a uma as lia

Esperando encontrar

Um motivo de alegria.

De repente saiu da sala

E trouxe o que eu nem sonhava

Uma caixinha amarelada

Cheia das estampas que guardava

Me disse: - eu perdi muitas

Mas a relíquia ali estava.

Peguei com muito cuidado

Fiquei logo deslumbrada

Pedi pra levar algumas

E ele a caixa me entregava

São coloridas e fascinam

Parece um conto de fadas.

Levei as estampas pra casa

E no caminho pensava

Essa história importante

Precisa ser registrada

Uma riqueza desse tipo

Não deve ser engavetada.

Sem valor comercial

Amareladas pelo tempo

As estampas de Eucalol

O transformou em algum momento

De um menino em um leitor

O mundo além do seu tempo.

Quando alguém na família

Se destaca em criação

Logo vem o recado

Só pode ser cria de Bastião

Comparado ao Prof. Pardal

Tem sempre um projeto em ação.