A Luz dos Injustiçados
Centro da Ásia Menor
Onde hoje é Turquia
Há muitos séculos atrás
Lá, um grande heroi nascia,
Com a coragem de se impor,
E com fé superior
A qualquer hierarquia.
Em Roma, na Capadócia,
Jorge conquistou bem cedo
Uma fama de brigão,
Provocando com arremedo
Quem era maior que ele
Sem nenhum pingo de medo.
Provocava até brigar,
Se pagando de valente,
Mas no fim sempre apanhava.
Ainda assim, de insolente,
Jurava vingança em breve
E apanhava novamente...
A atitude, tudo bem,
Não era da mais esperta,
Mas que o piá tinha brio
Isso era coisa certa,
Fosse briga ou aventura
Ele estava sempre alerta.
Com os pais vindos da Grécia
Jorge sempre foi cristão,
A pouca maturidade
Compensava em devoção.
Mesmo de forma discreta
Vivia em oração.
Mesmo tendo um bom estudo
Que a mãe lhe garantiu,
A morte nobre do pai
O deixou muito febril.
Prometeu-se de soldado
Para Roma, e assim cumpriu.
Em cada canto do império
Jorge serviu bravamente
Provou seu valor depressa,
Conquistou fama, patente,
E até maturidade,
Que faltava anteriormente.
Escalou em hierarquia
Rápido como um piscar,
Comandante do exército,
Conde em mais de um lugar
E logo foi promovido
A Tribuno Militar.
No alto de sua patente
Jorge acabou forçado
A ter discrição na fé.
Segundo a lei do estado,
Qualquer soldado cristão
Era logo encarcerado.
Antes de completar trinta,
Foi guarda do imperador!
Mas não havia armadura
Ou força para se impor
O infortúnio do destino
Que lhe causaria dor.
Sua mãe subiu aos céus
Antes de qualquer aviso,
Deixando uma fortuna,
Mas levando o sorriso
De Jorge pra nunca mais,
O ferindo em preciso
Onde nada o protegia,
Sua alma e seu coração
Sangraram em desatado
Esperando medicação
Que Jorge encontrou apenas
Na força da oração.
Pegando firme com Deus,
Decidiu doar completo
Todo o valor lhe deixado
Para quem não era seleto:
Para os necessitados,
Pois lhe parecia certo.
Esse ato altruísta
De doar toda sua herança
Fez o imperador olhar
Jorge com desconfiança.
Fez com que ele fosse preso
E determinou fiança:
Teria sua liberdade
Sob uma só condição:
Renegando a sua fé
Para qualquer panteão
Que não fosse o romano,
Sem nenhuma exceção.
Depois de ouvir o acordo
Jorge se pôs a rezar
E passou assim os dias
Sem um minuto faltar.
Os guardas o torturavam
Tudo para ele parar.
Demorou, mas tristemente,
O levaram ao mausoléu.
E Jorge ficou contente
De enfim subir ao céu
Pois veria sua mãe
Logo que passasse o véu.
E assim, de fato, foi.
São Pedro o recebeu,
Apresentou-lhe o céu,
Mostrou quem lhe conheceu,
Que morreu doente, ou
Que por suas mãos padeceu.
E, enfim, o esperado
Levou Jorge aos seus pais
Formando feliz trindade,
Que ficaria em paz.
Por toda a eternidade,
Sem se separar jamais.
Mas como o mundo corre,
Corre a fofoca em brasa
E se o líder reprime
Essa chama ganha asa,
Queima o que é bom e mau
E é certo que no final
Queima, do líder, a casa.
Espalhou-se em labareda
E o império conheceu
A história do infortúnio
Que ao Jorge se abateu.
E que nem por um minuto
Sequer ele se rendeu.
Logo os injustiçados
Começaram a lhe rogar,
Quando a cruz muito pesava
Colocavam-se a rezar,
Inspirados por seus atos,
Sem a fé abandonar.
E de um e outro orando
Logo havia uma legião,
Tantos rogando seu nome
Que chamaram sua atenção.
Jorge olhou para a terra
Surpreso com a devoção.
Decidiu por-se a serviço
Do grande plano divino,
Encontrou-se com o Senhor
Pra pedir pelo destino
Daqueles injustiçados
De um tempo tão desatino,
E ganhou de Deus a benção
Para poder intervir
Nos males que ameaçassem
Quem estivesse a pedir.
Contudo, de sua família
Era pra se despedir...
Se fosse mesmo olhar,
Por todo injustiçado,
Não poderia morar
Da terra tão afastado.
Era grande honra a Jorge,
Mas o deixou devastado...
Nem havia se instalado
Direito no paraíso,
Já teria que descer
Levando como prejuízo
A saudade de seus pais...
Mas não ficou indeciso.
Despediu-se da família,
Jurou de morte a saudade,
Prometeu muitas visitas
E lembranças da cidade
Que passaram tanta coisa,
E desceu com santidade.
Por o mal morar na noite,
Fez na lua sua morada,
Lampião da fé no escuro
Perfeito pra sua guarda,
Olhando por vários séculos,
Pra quem tem fé reforçada.
E assim segue até hoje,
Com lança em uma mão,
Montando cavalo branco,
Com escudo em posição
Pra defender da injustiça
Quem lhe roga em oração.