DESBRAVAR A AMAZÔNIA
Desbravar a Amazônia,
Há muito que descobrir.
Dê pra chorar ou sorrir,
É vasta a cerimônia,
Logo me causa insônia.
Só de pensar nas histórias,
Registradas na memória.
De um povo tão modesto,
Que hoje faz seu protesto,
Com base na trajetória.
Logo depois do jantar,
O povo senta bem junto,
Pra explorar o assunto.
Sem precisar apontar,
Alguém vem logo contar.
É palha que queima sem rumo,
Cada falar é no prumo.
Lendas e assombrações,
São bases das contações,
Em cordel, logo resumo.
Cabeça de fogo voa,
Acompanha na estrada,
Ou some em disparada.
Ao escutar, atordoa.
A gente fica a toa...
Meu cabelo ao subir,
Me dá um siricutir.
Eu fico logo aflita,
Quando alguém diz: - Repita.
Dá vontade de sumir.
Até parece que vai,
Aliviar este carma,
É como estar sem arma.
Peço a benção do Pai,
Pra ver se a ficha cai,
Que é apenas um conto,
Daqueles que prega ponto.
A mente abarrotada,
De cenas, amedrontada,
Quisera sumir e pronto.
Mas não posso barrelar.
Como é uma rodada,
Tem coisa a ser contada.
Procuro me concentrar,
Pra salvar o registrar.
Dá vontade de agir,
Como se por trás alguém vai surgir.
Pra rede, vejo correrem,
Filhos, pr'os pais protegerem.
É medo a emergir.
Aí vem a tremedeira,
De tantos causos em vista,
Olha os primeiros da lista!
Cobra grande e matinta pereira,
Curupira, saci e sua brincadeira,
Iara e o mapinguari,
Lobo e o tarumã Tupi.
É gente virando bicho,
É um verdadeiro nicho,
Tem navio encantado aqui.
Se no meio da lambança,
Lamparina apagar.
Credo cruz, a escutar.
Se fosse uma festança,
Boto faria vingança,
É medo d'arrepiar.
Uns fazem é gargalhar,
O coração pulsa forte,
Com causos daqui do Norte,
Da cultura popular.
Um diz que aconteceu,
Outro que ouviu dizer,
Enfim, emana saber.
Só sei que anoiteceu,
O circo fortaleceu.
Tem até conto de rosa,
Seja má ou amorosa.
Contos rurais e urbanos,
Com bichos, ser humanos,
Só pra não perder a prosa.
E no meio da história,
Enquanto um conto, é contado,
Outro, sendo maquinado.
Caso falhe a memória,
Faz-se nova rotatória.
O instigar que não cala:
- Meu irmão, use a fala.
Nova rodada começa,
Pra mais de metro, conversa.
E eu sentada na sala,
Imaginando então,
Tenho sim que registrar,
É um saber popular.
Esse lugar é pulmão,
Que amo de coração.
A diversidade reina assim,
Tanto pra ti e pra mim.
Indígena, quilombola, ribeirinho,
Cada qual com seu jeitinho,
O Norte é forte e sem fim.
Negra Aurea: 10/09/2020 -12h