AS "VIAGENS" DE UM URUBU
OBS: tudo indica que não publiquei na época esse CORDEL (de 22/out. 2019) em lugar nenhum... daí a razão de fazê-lo somente agora !****************
AS "VIAGENS" DE UM URUBU
I
Eis que um dia um urubu
que andava mui "jururu"
foi parar lá em Belém...
com jeito de andar carioca,
contando muita "potoca"
só pensava em "se dar bem" !
I I
Mexeu com tudo que é troço,
negociou até destroços
de embarcações "com tesouro" !
Vendeu "gleba" em Marabá,
"sítios" sob o Guajará... (*1)
o urubu era um "estouro" !
I I I
Para sua alegria
descobriu a Academia
com imagem de um seu "primo".
Misturou-se entre os vates...
se apresentou: -- "Sou mascate,
escrevo, componho e rimo" !
I V
--
"Sou um bicho viajado,
já fui muito premiado,
meu nome é até verbete
em Angola e no Nepal.
No Senado Federal
já me estenderam tapete" !
V
-- "Toda Câmara me admira,
dizem que estou "na mira"
pra me tornarem Ministro
da Poesia e do Cordel,
vão me fazer Bacharel...
mas eu nem ligo pra isto" !
V I
-- "Na Birmânia, no Ceilão,
corrigi o "ramerrão",
lhes mudei a Ortografia
e o Imperador chinês
me intimou -- em tom cortês --
pra ensinar à Dinastia" !
V I I
-- "Só nesse Brasil caótico,
com um presidente "exótico"
ninguém quer me dar valor.
No Chile e Venezuela,
na Argentina ainda bela
todos me chamam... Doutor" !
V I I I
-- "Sou matéria na Escócia" !
Continuou a bazófia,
não conseguia parar:
-- "Digam ao tal JURACI
que é melhor sair daqui...
vim tomar o seu lugar" !
I X
Com êle fizeram teste...
não saiu nada que preste,
era um urubu malandro !
Pedindo então que saísse,
"seu" Cardoso assim lhe disse:
-- "Fora daqui" !, em tom brando.
X
O protesto foi geral !
-- "O urubu é "imortal",
não o enxotem agora" !
-- "Imortal" é o cacete...
vou tratá-lo no porrete
se êle não fôr logo embora" !
X I
Assim termina a história
desse momento de "glórias"
de um urubu salafrário...
vive hoje em Ananindeua
enganando dúzia e meia
como "Doutor em Ranário" !
"NATO" AZEVEDO
(em 22/out. 2020)
OBS: (*1) cordel baseado em figura real, nascida no interior nos anos 60 e que, em Belém, transformou-se num "camaleão" que assimilava (?!) atividades e profissões a partir de conversas ou livros e virava "instrutor" da noite pro dia. Meu irmão o apelidou de "mestre PASTINHA,porque andava com valise para arrecadar patrocínios no pequeno comércio do bairro.