A MESMA CANÇÃO
Quem nunca perdeu o sono
E viu o dia amanhecer
Com a cantarola do grilo
Neurônios a corroer
Cantando a sua cantiga
Melodia tão antiga
Mostrada ao anoitecer.
O bichinho é inocente
Canta com ingenuidade
Não entende que perturba
A sua tranquilidade
Se esconde em um buraco
À noite ele enche o saco
Acaba a comodidade.
A melodia começa
Logo no seu deitar
Assim que fecha os olhos
O grilo a cantarolar
Tira você do sério
Onde ele está é mistério
Tão difícil de encontrar.
Então você se levanta
E começa a procurar
A vontade é encontrá-lo
Para poder esmagar
Surge um silêncio profundo
Ou é você que está surdo
A paz começa a reinar.
A procura é contínua
Com a sua persistência
Querendo pegar o grilo
Que torrou sua paciência
Sabendo que é contra lei
Você sabe, eu também sei
É questão de consciência.
Daí então você pensa
Não adianta insistir
Talvez o medo tenha feito
O pobre grilo fugir
Aí você se engana
E quando volta pra cama
Vem outra vez o cri-cri.
Já passa da meia noite
O grilo é sua companhia
Você começa a entender
Que aceitar a melodia
É a melhor solução
Deita e curte a canção
Até amanhecer o dia.
E quando o sol aparece
Começa nova rotina
Enquanto trabalha pensa
No que a vida ensina
E se dá por satisfeito
Por se tornar cantor perfeito
Desses que não desafina:
O mesmo quarto
Mesma canção
O mesmo grilo
O mesmo cri-cri
Tudo é real
Estou cansado
Por que o grilo
não me deixou dormir.
Maria Aparecida de Sousa Cardoso, 21 de agosto de 2020