ESCRITA SEM MACHISMO
Vamos todos, cheguem juntos!
Eu quero, aqui, expressar
Através do versejar
Quero mulheres adjunto
No cordel, maior conjunto
Na letra do feminismo
Mostrar com determinismo
Poder da resiliência
E com arte e consciência
A escrita sem machismo
Pois da mulher, há quem diga
Não consegue mover palha
Quero mostrar essa falha
Embora sinta fadiga
É guarida e sempre amiga
Reverbera o altruísmo.
Contra arrogância e fascismo
Não a subestimes, não
Sem duvidar da ação,
Alcança o protagonismo
Os ataques virtuais
Às mulheres Cordelistas
Contaminações machistas
Xingamentos imorais
Em mil redes sociais
Empunhando uma bandeira
Jogo lenha na fogueira
Pra queimar o preconceito
Gritar por nosso direito
Não estou de brincadeira
Eu não sou só genitália
Esse meu corpo é político
O meu pensar é bem crítico
Tenho a perfeita eulália
Não sou de parafernália
Pois, padrão não me intimida
Sou uma mulher aguerrida
Por isso, bato no peito
Exijo todo respeito
A minha letra é vivida
Pode ser flor do sertão
Ou açucena nortista
Poetisa, Cordelista
Na mente, tem decisão
Em qualquer ocasião
A mulher pode brilhar
Veio protagonizar
Do cordel vestiu a farda
Impondo sua salvaguarda
Em todo o seu declamar.
Nessa esfera feminina
Tem letra de resistência,
Mostrando toda vivência,
O poder da melanina
Que faz de mim heroína.
Tem também conhecimento,
Nesse grande segmento,
Ouça bem o que lhe digo
Se o versejar é antigo
Negro é empoderamento.
Não admito, jamais
Que me tratarem de folacho
O cabra tem que ser macho
Pois quem se agacha demais
Tem um sofrimento a mais
Portanto tenho o pretexto
Pra produzir este texto
Deixar na literatura
A crítica que costura
Os retalhos do contexto.
A voz negra que não cala,
As mulheres no cordel
Não tinham o seu fardel
O nosso poder de fala
Não saía da senzala
Pois sem vez, voz nem mercado
Em pleno patriarcado
Era errado se expressar
Para o mundo o seu pensar
Escreviam sem cajado.
Mas no cordel, a magia
Uma mulher consolida,
Tão guerreira e destemida
O nome, usar não podia,
Pois de mulher não valia
Então, na escrita, ligeira
Das Neves, era certeira
E do marido, pseudônimo
Lhe deixava no anônimo
Cordelista, pioneira.
Hoje o dia prediz
Um evento feminista
Exaltação de artista.
Onde as letras nos dizem
Que queremos ser felizes
Na luta vou avançar
Pra meu legado salvar
Que cordel é poesia
E tem a pura magia
Do respeito resgatar.
Não posso silenciar
Pois o sarau das Marias
Vem versejar com honrarias,
Machismo denunciar.
A mulher valorizar
Um grito de liberdade
Soa pela equidade
Homens! Mulheres! Respeito!
Ambos, têm seu direito
Questão de alteridade.
Quem disse que eu não faço,
Expressar o meu pensar
Nas linhas versais rimar.
Luto pelo meu espaço,
Sou mais forte que o aço
Irradiar o meu dia.
Sem uma hipocrisia
Me diga s'estou errada,
Seguir nesta caminhada
Cordel, minha autoria.
É triste ver no modismo
Racismo recreativo
No social bem ativo
Dizem que é humorismo
É falta de humanismo.
Qualquer um pode compor
Só não pode trazer dor,
Escrever é liberdade
Não pode libertinagem
No texto do escritor.
Todas juntas pra lutar
Mulher faz a diferença
Quando sabe a pertença
Não dá mais pra mascarar
Focar no empoderar
Olha! Não é vitimismo
É o puro ativismo
Firmar sua estrutura
Para geração futura
A escrita sem machismo.
Negra Aurea em 05/08/2020