O VELHO O MENINO E O BURRO
Resolve um velho vender,
o seu burro numa feira
e com o neto foi ter,
contando que ele queira,
acompanhá-lo à cidade,
pois é longo esse caminho
e, já de avançada idade,
não quer mais voltar sozinho.
E o velho, mais seu netinho,
depois de se prepararem,
ajeitaram o burrinho,
a fim de nele montarem.
Começaram a viagem,
os dois montados no burro.
Olhavam a paisagem,
de repente, um sussurro
desperta a atenção dos dois.
Eles seguiam tão calmos
e não pensariam, pois,
que bem ali, a dois palmos
de onde iam passar,
estavam uns escoteiros,
as barracas a montar,
e comentaram, matreiros:
- Ora, ora, vejam só!
Vejam bem, como é que pode?
Desse burro não têm dó.
Se ao pobre ninguém acode,
vão seguindo os dois montados.
O que é jovem pode andar,
pois dois no lombo, são fardos
bem difíceis de levar.
Depois de andarem um pouco,
disse o velho ao garotinho:
- Eu não quero ser um louco;
se vou vender meu burrinho,
pra quê sobrecarregá-lo?
Quando chegar à cidade,
quem pensará em comprá-lo,
se mostrar debilidade?
Então, meu filho, tu desces,
eu continuo montado.
Quem tem idade padece
de dores por todo lado.
Como vou voltar a pé,
vou seguindo em montaria.
Vamos rápido e com fé
e não perdemos o dia.
Pela estrada, vem um padre,
em sua batina preta
e pára com a comadre,
montado em sua lambreta,
com o motor pipocando.
Mesmo assim o velho ouve
a comadre comentando,
no alto tom que lhe aprouve:
-Que abuso, que exploração;
como pode um homem forte,
não ter consideração!
Para mim, cabra do norte,
tem fibra e muito respeito.
Por que então, que ali caminha
essa criança, sem jeito...
E o velho, que pose tinha!
Assim, pouco mais adiante
o velho, meio indeciso
e ainda bem vacilante,
parou o burro e por siso
desceu, e então convidou
o seu neto pra montar.
Foi andando e esperou
os comentários calar.
O caminho se alongava;
a viagem não rendia,
Pois enquanto um desmontava,
era o outro que subia.
Assim quase sem notar,
andando bem calmamente,
passaram diante de um bar,
onde havia muita gente.
Nem é preciso dizer,
que foi outra confusão,
pois ninguém queria crer,
ver montado um garotão
e o velho fraco, coitado,
seguindo lerdo e tinhoso,
enquanto o garoto ao lado,
tinha um ar de preguiçoso.
Pra não dar braço a torcer,
o avô, depois de alguns metros,
o garoto fez descer.
Disse:- Não sei se estão certos,
mas pelo sim, pelo não,
vamos os dois caminhando;
não terá o povo, então,
de nós, o que estar falando.
Pensando ter resolvido,
o problema que enfrentava
foi seguindo, empedernido
pela rua e já chegava
quase ao fim de sua aldeia,
quando avistaram o rio,
junto à estrada que serpeia...
E uma lavadeira viu
os dois seguindo o caminho
a pé, adiante, a puxar
o burro, devagarzinho,
todos três a caminhar...
Ela deu uma gargalhada,
que as outras acompanharam.
-O que passa nessa estrada!
Amigas, vocês notaram?
Velho e garoto, afinal,
são mais burros do que o burro;
é jovem, esse animal.
Comigo, que fosse a murro,
no burro ia montada.
Não seria eu tão parva,
assim nessa caminhada,
vão lerdos como uma larva!
Neto e avô, apalermados,
sem saber que mais fazer,
o burro às costas coitados,
puseram e pra valer,
andaram para fugir,
do povo que sempre tinha
um modo de discutir
a forma que o trio vinha.
Porém o que ali passou
é difícil de explicar:
quem no caminho encontrou,
aquele grupo a marchar,
não dizia nada mesmo,
parava co’as mãos no ar,
virava os olhos a esmo,
enquanto ficava a olhar.
Houve quem acreditasse
estar tendo uma visagem,
estar louco ou delirasse,
por febre ou outra bobagem.
E o velho compreendeu,
por tudo aquilo que viu,
que ao povo ele sempre deu
ouvidos e não seguiu
a sua própria vontade
ou o seu próprio juízo.
Ele disse então:-Verdade,
compreendi o que é preciso,
porque deu todo esse bode:
ninguém controla esse estorvo,
ninguém nunca pôde ou pode
tapar a boca do povo.
Qual a forma que encontraram
pra terminar a viagem
eu não sei, porém deixaram
de lado aquela bobagem
de ouvir o mexerico.
Voltaram bem sossegados,
pois vendido, o burrico,
tinham dias abastados.
(Baseia-se em história muito antiga, contada há séculos na África, Ásia, Europa, e entre nós até os dias de hoje.)
nilzaazzi.blogspot.com.br
Resolve um velho vender,
o seu burro numa feira
e com o neto foi ter,
contando que ele queira,
acompanhá-lo à cidade,
pois é longo esse caminho
e, já de avançada idade,
não quer mais voltar sozinho.
E o velho, mais seu netinho,
depois de se prepararem,
ajeitaram o burrinho,
a fim de nele montarem.
Começaram a viagem,
os dois montados no burro.
Olhavam a paisagem,
de repente, um sussurro
desperta a atenção dos dois.
Eles seguiam tão calmos
e não pensariam, pois,
que bem ali, a dois palmos
de onde iam passar,
estavam uns escoteiros,
as barracas a montar,
e comentaram, matreiros:
- Ora, ora, vejam só!
Vejam bem, como é que pode?
Desse burro não têm dó.
Se ao pobre ninguém acode,
vão seguindo os dois montados.
O que é jovem pode andar,
pois dois no lombo, são fardos
bem difíceis de levar.
Depois de andarem um pouco,
disse o velho ao garotinho:
- Eu não quero ser um louco;
se vou vender meu burrinho,
pra quê sobrecarregá-lo?
Quando chegar à cidade,
quem pensará em comprá-lo,
se mostrar debilidade?
Então, meu filho, tu desces,
eu continuo montado.
Quem tem idade padece
de dores por todo lado.
Como vou voltar a pé,
vou seguindo em montaria.
Vamos rápido e com fé
e não perdemos o dia.
Pela estrada, vem um padre,
em sua batina preta
e pára com a comadre,
montado em sua lambreta,
com o motor pipocando.
Mesmo assim o velho ouve
a comadre comentando,
no alto tom que lhe aprouve:
-Que abuso, que exploração;
como pode um homem forte,
não ter consideração!
Para mim, cabra do norte,
tem fibra e muito respeito.
Por que então, que ali caminha
essa criança, sem jeito...
E o velho, que pose tinha!
Assim, pouco mais adiante
o velho, meio indeciso
e ainda bem vacilante,
parou o burro e por siso
desceu, e então convidou
o seu neto pra montar.
Foi andando e esperou
os comentários calar.
O caminho se alongava;
a viagem não rendia,
Pois enquanto um desmontava,
era o outro que subia.
Assim quase sem notar,
andando bem calmamente,
passaram diante de um bar,
onde havia muita gente.
Nem é preciso dizer,
que foi outra confusão,
pois ninguém queria crer,
ver montado um garotão
e o velho fraco, coitado,
seguindo lerdo e tinhoso,
enquanto o garoto ao lado,
tinha um ar de preguiçoso.
Pra não dar braço a torcer,
o avô, depois de alguns metros,
o garoto fez descer.
Disse:- Não sei se estão certos,
mas pelo sim, pelo não,
vamos os dois caminhando;
não terá o povo, então,
de nós, o que estar falando.
Pensando ter resolvido,
o problema que enfrentava
foi seguindo, empedernido
pela rua e já chegava
quase ao fim de sua aldeia,
quando avistaram o rio,
junto à estrada que serpeia...
E uma lavadeira viu
os dois seguindo o caminho
a pé, adiante, a puxar
o burro, devagarzinho,
todos três a caminhar...
Ela deu uma gargalhada,
que as outras acompanharam.
-O que passa nessa estrada!
Amigas, vocês notaram?
Velho e garoto, afinal,
são mais burros do que o burro;
é jovem, esse animal.
Comigo, que fosse a murro,
no burro ia montada.
Não seria eu tão parva,
assim nessa caminhada,
vão lerdos como uma larva!
Neto e avô, apalermados,
sem saber que mais fazer,
o burro às costas coitados,
puseram e pra valer,
andaram para fugir,
do povo que sempre tinha
um modo de discutir
a forma que o trio vinha.
Porém o que ali passou
é difícil de explicar:
quem no caminho encontrou,
aquele grupo a marchar,
não dizia nada mesmo,
parava co’as mãos no ar,
virava os olhos a esmo,
enquanto ficava a olhar.
Houve quem acreditasse
estar tendo uma visagem,
estar louco ou delirasse,
por febre ou outra bobagem.
E o velho compreendeu,
por tudo aquilo que viu,
que ao povo ele sempre deu
ouvidos e não seguiu
a sua própria vontade
ou o seu próprio juízo.
Ele disse então:-Verdade,
compreendi o que é preciso,
porque deu todo esse bode:
ninguém controla esse estorvo,
ninguém nunca pôde ou pode
tapar a boca do povo.
Qual a forma que encontraram
pra terminar a viagem
eu não sei, porém deixaram
de lado aquela bobagem
de ouvir o mexerico.
Voltaram bem sossegados,
pois vendido, o burrico,
tinham dias abastados.
(Baseia-se em história muito antiga, contada há séculos na África, Ásia, Europa, e entre nós até os dias de hoje.)
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