MUDANCINHA DO POETA POBRE
EU HOJE AGUCEI A MEMÓRIA
PRA PRESTAR UMA HOMENAGEM
DESSAS QUE AS PESSOAS FAZEM
PRA BRINDAR ALGUNS AMIGOS
PESSOAS BOAS E ORDEIRAS
HONESTAS E TRABALHADEIRAS
QUE CONVIVERAM COMIGO
MAS VAMOS AO QUE INTERESSA
POIS O MEU TEMPO É ESCASSO
ESSA HOMENAGEM QUE FAÇO
DA FAMÍLIA É A PRIMEIRA
EMBORA SEJA MODESTA
MEU CORAÇÃO ESTÁ EM FESTA
COM A SAGA DOS PEREIRAS
NA DÉCADA DE SESSENTA
O MÊS EU JÁ NEM ME LEMBRO
NÃO SEI S AGOSTO OU SETEMBRO
O DIA TAMBÉM NÃO SEI
NO ITINGA FOI CHEGANDO
E A MUDANÇA DESCARREGANDO
DE UM VELHO FORD F. SEIS
NA MUDANCINHA MODESTA
UMA MESA E TRÊS CADEIRAS
CACHORROS PENICO E ESTEIRAS
UM PERIQUITO E UM CANÁRIO
UMA QUARTA DE FARINHA
MAIS UNS OVOS DE GALINHA
QUE VINHAM DENTRO DO ARMÁRIO
UM POTE PRA BUSCAR ÁGUA
MEIO SACO DE FEIJÃO
UM RESTO DE PLANTAÇÃO
DE ARROS E MANDIOCA
ALGUNS QUILOS DE SARDINHA
UMAS CAMBIRAS DE TAINHA
E UNS BIJUS DE TAPIOCA
VIERAM DE UM LUGAREJO
POR NOME DE SERTÃOZINHO
LUGAR BEM PEQUENINHO
PERTINHO DE ITAPOCU
DE BARRA VELHA MAR AZUL
SANTA LUZIA MAIS AO SUL
PERTO DO ITAPERIÚ
VIERAM COM CINCO FILHOS
TRÊS MOLEQUES E DUAS MOCINHAS
AMBAS MUITO BONITINHAS
IGUAL LARANJA DE AMOSTRA
COM FITINHAS NO CABELO
VESTIDAS COM MUITOS ZELO
DO JEITO QUE O POVO GOSTA
DOS TRÊS IRMÃOS TINHA DOIS
QUE ERAM A IMAGEM DO CAPETA
FAZEDORES DE MUTRETAS
PARECIAM O SATANÁS
SÓ VIVIAM NA MALANDRAGEM
SÓ FAZENDO PILANTRAGEM
NÃO TRABALHAVAM JAMAIS
RODA MOINHO NO QUENGO
COMO ERAM FEIO OS VIVENTES
NA BOCA NÃO TINHAM DENTES
O MAIS VELHO ERA ZAROLHO
POIS NUM TRISTE ACIDENTE
O COITADO DE REPENTE
FICOU SOMENTE COM UM OLHO
O OUTRO ENTÃO QUE TRISTEZA
COMO ERA FEIO O INFELIZ
COM UM PALMO DE NARIZ
UM LADRÃO DE OXIGÊNIO
SEU MAL NUNCA TEVE CURA
MAS ESSA FEIA CRIATURA
ERA LOUCO E AS VEZES GÊNIO
HOJE ELE ESCREVE POEMAS
SE TORNOU UM ESCRITOR
FAZ ISSO COM MUITO AMOR
MAS NÃO ESQUECE O PASSADO
ELE LEMBRA COM CARINHO
LA DO BAIRRO SERTÃOZINHO
DE ONDE FOI ENXOTADO
AS VEZES PÁRA E ATÉ CHORA
LEMBRANDO DE ANTIGAMENTE
SE SENTE TRISTE E CARENTE
VEM A MENTE UM NOVO TEMA
LEMBRA O TEMPO DE CRIANÇA
DO CAMINHÃO DA MUDANÇA
E ESCREVE OUTRO POEMA