UM PAÍS NA VITRINE
UM PAÍS NA VITRINE
Foi o ouro, a prata, o diamante
A madeira, o açucar, o café
Os quadris da mulata, o aço e até
A figura do fraco retirante...
Despertaram numa numa nação distante
O interesse de ver subjugado
Esse povo mestiço e conformado
Com praia, futebol e carnaval...
Na vitrine do mundo ocidental
Um país está sendo cobiçado.
Um velhinho na fila de um banco
Exclamou: "quero a privatização
Porque sem a privada meu irmão
Dessa sala ligeiro eu me arranco!"
É assim novo povo: rude e franco,
E o esperto de olho arregalado
Compra a mercadoria do estado
Descontando já seu percentual,
Na vitrine do mundo ocidental
Um país está sendo cobiçado.
A moeda da gente é tão vaidosa
Sempre muda de roupa e como gasta
Para andar elegante e se afasta
De quem é da labuta, só da prosa
A quem tem o sotaque importado,
Se achar casamento dá errado
Porque une o falso ao banal...
Na vitrine do mundo ocidental
Um país está sendo cobiçado.
Quem procura o sucesso não sossega
Aplicando e fazendo e fazendo investimento
Como Zé que vendeu o seu jumento
Pra aumentar e sortir sua bodega
Teve lucro, comprou leitoa e jega
Quem quiser pode ver é comprovado,
Mas o que faz os homens do estado
Quando vendem um bem material?
Na vitrine do mundo ocidental
Um país está sendo cobiçado.
Essa casa não tem pai de família
Pra fechar o portão e a janela,
Proteger o filhinho e a filha bela,
Não deixar que lhe roube a mobília?
Estará em Washington ou em Sicília,
Canadá, no Japão, China ou Belgrado?
Vai buscar mais dinheiro emprestado
Pra esconder do seu próprio pessoal.
Na vitrine do mundo ocidental
Um país está sendo cobiçado.
Fazer dívidas para os outros pagarem
Que nobreza haverá nessa função?
Se comprova numa reeleição,
Competência aos que nos governarem
Ou inocência dos votos que errarem
Nesta Patria amada sem amado?
Mãe Gentil, o seu filho inconformado
Quer bradar ao cenário mundial.
Na vitrine do mundo universal
Um país está sendo cobiçado.
(Publicado na primeira página do Caderno de Notas - edição especial da revista Nave Terra ano XVII/nº 23, setembro de 2004)