BERRANTE MANHOSO
Silva Filho
(Reapresentação)
 
 
A gente nasce e cresce
E tem a vida marcada
Tem história bem guardada
Que jamais se esmaece;
Com o tempo refloresce
Por dentro do coração
Pra relembrar um torrão
Que teve tempo gozoso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.
 
O campo mui fascinante
Sempre me deu alegria
Com tamanha calmaria
Cada vez mais cativante;
O progresso bem distante
Os pés descalços no chão
Um amigo – um irmão
Momento tão prazeroso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.
 
O gado manso pastava
Ao som dum belo gorjeio
Homem produto do meio
Meio que se preservava;
Tudo de bom se passava
Sem conhecer restrição
Roça, rio, vastidão,
Um cenário mui ditoso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.
 
Na porteira eu brincava
De contar aquelas reses
Passavam dias e meses
Mas o tempo não passava;
Meu coração trepidava
No mundo da ilusão
Como que fascinação
Pra quem não quer ser idoso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.
 
Selas, cordas... penduradas
Chocalhos soltos num canto
Em verdadeiro encanto
Coisas na mente marcadas;
Mas no mundo há guinadas
Que dão outra direção
Sem ouvir meu coração
Lá fui eu como teimoso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.
 
Distante vivo da roça
Berrante só na lembrança
O meu mundo de criança
Meu outro mundo endossa;
Mas minha mente remoça
Quando tem recordação
E o tempo faz projeção
Do bom menino tinhoso
Foi um berrante manhoso
Que me prendeu no Sertão.