Eunice e sua solidão
Varre o chão, vassoura
feita de piaçavas
e bem manipulada
por viúva de cabeleira loura
que vive solitária, sozinha
numa casinha de taipa
no interior, sertão
onde moram as jandaias.
O terço de prata,
que foi de sua vó,
cruza seu peito
lá repousa por
todo esse tempo
que ela está só.
Seu nome é Eunice
antes de enviuvar
teve o prazer de ter
um filho, constituiu família,
mas trágico foi o destino
quis Deus levar esse menino
não bastasse o desprazer
o marido morreu
ao se afogar no igarapé
mesmo assim ela se mantém de pé.
Vez ou outra um andarilho
passa pela estradinha térrea
e em sua porta bate, pedindo
um pouco de água ou comida
e percebem a solitária mulher
em seu olhar tristonho
suplicando um pouco de carinho
mesmo estampado em si um sorriso.
Em seu altar sacro, velas
e também algumas lembranças
não há retratos, não
apenas objetos de herança
de seu filho que foi perdido
e também do marido querido.
Senta-se na cadeira de balanço
o vento forte fica manso
empunha o sagrado terço
pensa em sua vida
que hoje foi retratada em cordel
em homenagem a essa senhora
que enfim está feliz lá no céu.