Eunice e sua solidão

Varre o chão, vassoura

feita de piaçavas

e bem manipulada

por viúva de cabeleira loura

que vive solitária, sozinha

numa casinha de taipa

no interior, sertão

onde moram as jandaias.

O terço de prata,

que foi de sua vó,

cruza seu peito

lá repousa por

todo esse tempo

que ela está só.

Seu nome é Eunice

antes de enviuvar

teve o prazer de ter

um filho, constituiu família,

mas trágico foi o destino

quis Deus levar esse menino

não bastasse o desprazer

o marido morreu

ao se afogar no igarapé

mesmo assim ela se mantém de pé.

Vez ou outra um andarilho

passa pela estradinha térrea

e em sua porta bate, pedindo

um pouco de água ou comida

e percebem a solitária mulher

em seu olhar tristonho

suplicando um pouco de carinho

mesmo estampado em si um sorriso.

Em seu altar sacro, velas

e também algumas lembranças

não há retratos, não

apenas objetos de herança

de seu filho que foi perdido

e também do marido querido.

Senta-se na cadeira de balanço

o vento forte fica manso

empunha o sagrado terço

pensa em sua vida

que hoje foi retratada em cordel

em homenagem a essa senhora

que enfim está feliz lá no céu.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 20/07/2020
Código do texto: T7011228
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