AINDA QUE O UNIVERSO NOS SEPARE...
- Cordel do dia10-07-2020 -
Os acasos que sempre, ou quase,
Mostraram-me serem as reais certezas
Com minha história fiz as pazes
Com os Deuses e demais realezas
Natureza da qual tu comprazes
De infinita e tamanha beleza
E assim foram meus dias todos
Mesmo que sem ainda saber
Felizes no convívio de sonhos audaciosos
Que sempre me permearam o ser
A expectativa de dias gloriosos
Que ainda haveria de viver
Desconhecia o destino da glória
De que ela era adorno dos tolos
Apenas almejava a grande vitória
E ela preenchia meus devaneios bobos
Hoje são apenas toscas memórias
Fel que alimenta meus dois lobos
Os que deveriam apenas espelhar
O que o maniqueísmo tem de melhor
O doce pensamento de criar
O que nossos sonhos recitam de cor
A infeliz missão de pleitear
Tesouro resguardado em penhor
Nem me lembro o que me tomava
Acho que eu apenas existia no mundo
Nada de belo minha vista contemplava
Nem percebia o quanto estava moribundo
A alma coberta de tudo o que enojava
Não sei se era o ser mais imundo
Também não sei o que me achava
Eram tempos que a inocência era boa
Desapercebido de tudo vagava
Em meu egocentrismo tão atoa
Que ainda acreditava que amava
Ou que o amor se banhava na garoa
Garoa dos meus amores soberbos
Tão eloquentes e tão vazios, robustos!
Envolvida em laços de jovens mancebos
Que nada custeavam além dos arbustos
Aquecidos pelos versos dos sebos
Que marejavam os olhos e arrancavam soluços
Entre Perdizes, Pacaembu e Deodoro
Em devaneios diuturnos em mim forçava
Esconder de mim o quanto te adoro
Em nenhuma das bocas nunca encontrava
O sabor do beijo do qual sou devoto
Aquele que um dia tive de quem amava
Em pretérito mais que perfeito que amaria
É o pretérito perfeito que amei
Em giras de Exu e Romarias
Mormonismo, em igrejas busquei
Sabendo que jamais encontraria
O amor que um dia deixei
Afinal, o que um reles vagabundo
Que apenas vagava as ruas do centro
Habitando um brejo no fim do mundo
E um amor que me corroía por dentro
Sem olvidar nem sequer um segundo
Esta paixão que em mim concentro
Eu olhava para o céu te imaginando
Quase sempre partindo pra longe
Com tuas asas ia pousando
Em lugares de vários adondes
Minha vida aos poucos periclitando
Onde estás que não respondes?
Aqui estendido na praia deserta
A empanada do tempo me cobre
A porta dos mares está aberta
Vênus, vívida, resplandece nobre
Aguardando a Lua ainda encoberta
Ignoram o sofrimento deste pobre
Que aguarda há tempos teu brilho
Que é único em meio às outras
Que nunca soube andar nos trilhos
E se perdeu em tantas bocas
Mira nos olhos deste andarilho
E escutes suas palavras tão roucas
De tanto declamar tua beleza
E amaciar a garganta em cachaça
Sempre manteve em si a certeza
Com a vida repleta em desgraça
Sem enxergar a luz com clareza
E a loucura que constante ameaça
O grão de areia apaixonado por vós
A bela estrela que dança no espaço
Passeando em outros mundos a sós
Em seus giros e seus entrelaços
Constante há milhões de nós
Envolvida em outros abraços
O que me resta é então declamar
Todos os versos que me vierem
De meu peito que só faz derramar
Todas as mágoas que couberem
Em letras que só fazem recordar
As saudades que ainda ferem
Se tua vida é incessante viajar
A minha é esperar por você
E em festejos vivos celebrar
Mais um novo doce amanhecer
Em que desperto por teu suspirar
O mesmo que me fez adormecer
O cheiro de café tomará o quarto
E lhe atrairá dos braços de Morfeu
Que passou a noite ouvindo os relatos
De tudo aquilo que conheceu
Tanto de concreto quanto abstrato
Dos fascínios que empreendeu
Nunca pensei no quê pra comer
Faria um cuscuz com ovos
Com a colher de pau, mexer
Com queijo coalho, fazer estrelados
O suco de uma fruta qualquer
Que tenha dado em algum cacho
Devaneios mais que surreais
Sonhos de natureza irrealizável
O que eu poderia querer mais
Que a companhia de um cão adorável?
Digo até que estaria feliz, aliás
A solidão seria mais suportável
Mas, contigo me sinto feliz
Ainda que o universo nos separe
Pois cada verso que eu te fiz
Duvido haver algum que compare
Insisto em declamar o que minh'alma diz
Até que em mim teus olhos reparem...
Graciliano Tolentino
- Cordel do dia10-07-2020 -
Os acasos que sempre, ou quase,
Mostraram-me serem as reais certezas
Com minha história fiz as pazes
Com os Deuses e demais realezas
Natureza da qual tu comprazes
De infinita e tamanha beleza
E assim foram meus dias todos
Mesmo que sem ainda saber
Felizes no convívio de sonhos audaciosos
Que sempre me permearam o ser
A expectativa de dias gloriosos
Que ainda haveria de viver
Desconhecia o destino da glória
De que ela era adorno dos tolos
Apenas almejava a grande vitória
E ela preenchia meus devaneios bobos
Hoje são apenas toscas memórias
Fel que alimenta meus dois lobos
Os que deveriam apenas espelhar
O que o maniqueísmo tem de melhor
O doce pensamento de criar
O que nossos sonhos recitam de cor
A infeliz missão de pleitear
Tesouro resguardado em penhor
Nem me lembro o que me tomava
Acho que eu apenas existia no mundo
Nada de belo minha vista contemplava
Nem percebia o quanto estava moribundo
A alma coberta de tudo o que enojava
Não sei se era o ser mais imundo
Também não sei o que me achava
Eram tempos que a inocência era boa
Desapercebido de tudo vagava
Em meu egocentrismo tão atoa
Que ainda acreditava que amava
Ou que o amor se banhava na garoa
Garoa dos meus amores soberbos
Tão eloquentes e tão vazios, robustos!
Envolvida em laços de jovens mancebos
Que nada custeavam além dos arbustos
Aquecidos pelos versos dos sebos
Que marejavam os olhos e arrancavam soluços
Entre Perdizes, Pacaembu e Deodoro
Em devaneios diuturnos em mim forçava
Esconder de mim o quanto te adoro
Em nenhuma das bocas nunca encontrava
O sabor do beijo do qual sou devoto
Aquele que um dia tive de quem amava
Em pretérito mais que perfeito que amaria
É o pretérito perfeito que amei
Em giras de Exu e Romarias
Mormonismo, em igrejas busquei
Sabendo que jamais encontraria
O amor que um dia deixei
Afinal, o que um reles vagabundo
Que apenas vagava as ruas do centro
Habitando um brejo no fim do mundo
E um amor que me corroía por dentro
Sem olvidar nem sequer um segundo
Esta paixão que em mim concentro
Eu olhava para o céu te imaginando
Quase sempre partindo pra longe
Com tuas asas ia pousando
Em lugares de vários adondes
Minha vida aos poucos periclitando
Onde estás que não respondes?
Aqui estendido na praia deserta
A empanada do tempo me cobre
A porta dos mares está aberta
Vênus, vívida, resplandece nobre
Aguardando a Lua ainda encoberta
Ignoram o sofrimento deste pobre
Que aguarda há tempos teu brilho
Que é único em meio às outras
Que nunca soube andar nos trilhos
E se perdeu em tantas bocas
Mira nos olhos deste andarilho
E escutes suas palavras tão roucas
De tanto declamar tua beleza
E amaciar a garganta em cachaça
Sempre manteve em si a certeza
Com a vida repleta em desgraça
Sem enxergar a luz com clareza
E a loucura que constante ameaça
O grão de areia apaixonado por vós
A bela estrela que dança no espaço
Passeando em outros mundos a sós
Em seus giros e seus entrelaços
Constante há milhões de nós
Envolvida em outros abraços
O que me resta é então declamar
Todos os versos que me vierem
De meu peito que só faz derramar
Todas as mágoas que couberem
Em letras que só fazem recordar
As saudades que ainda ferem
Se tua vida é incessante viajar
A minha é esperar por você
E em festejos vivos celebrar
Mais um novo doce amanhecer
Em que desperto por teu suspirar
O mesmo que me fez adormecer
O cheiro de café tomará o quarto
E lhe atrairá dos braços de Morfeu
Que passou a noite ouvindo os relatos
De tudo aquilo que conheceu
Tanto de concreto quanto abstrato
Dos fascínios que empreendeu
Nunca pensei no quê pra comer
Faria um cuscuz com ovos
Com a colher de pau, mexer
Com queijo coalho, fazer estrelados
O suco de uma fruta qualquer
Que tenha dado em algum cacho
Devaneios mais que surreais
Sonhos de natureza irrealizável
O que eu poderia querer mais
Que a companhia de um cão adorável?
Digo até que estaria feliz, aliás
A solidão seria mais suportável
Mas, contigo me sinto feliz
Ainda que o universo nos separe
Pois cada verso que eu te fiz
Duvido haver algum que compare
Insisto em declamar o que minh'alma diz
Até que em mim teus olhos reparem...
Graciliano Tolentino