Teimosia Vitalícia
Vou contar-lhes uma peça
Falando do sujeito teimoso
Todo aquele que vive alerta
Não se denomina preguiçoso
Mas é um tal de vou e vou sim
Que mais parece um estopim.
Se não pode concordar
Tudo bem perca a razão
Só não fale por falar
Dizendo que é de coração
A teimosia consegue enganar
Mas é traída por compulsão.
O teimoso legítimo pula muro
Até dá nó em pingo d'água
Atravessa a noite no escuro
Com os olhos em emboscada
Fala sempre com otimismo
E tem a língua muito afiada.
De tão certo parece errado
Compra qualquer um na manha
É mesmo um burro emperrado
Irritante que provoca sanha
Contraria quem tanto implora
Pro dito cujo desistir da barganha.
Se é ele homem ou mulher
Isso realmente não importa
É como trocar garfo por colher
Batendo dez vezes na porta
Sendo o teimoso João ou Ester
Agora é a hora e o cabo entorta.
Na conversa ele é todo ouvido
Quem não conhece que acredite
A verdade é que aguça o sentido
Mas só escuta quem não insiste
Para declinar do lance proibido
Antes mesmo que o juiz apite.
O veredito é simples demais
O teimoso quer sempre fazer
Ele quase nunca dá para trás
Quando resolve se envolver
É um lobo com instinto aldaz
Cultivando a arte do saber.
Resta para quem convive aguardar
O teimoso não se considera comum
Mas é sempre importante esperar
Pelo acerto ou fracasso de cada um
Então retorna o herói num suspirar
E lembra não passará a vida em jejum.
CarlaBezerra