O Feiticeiro Risonho e o Arqueiro Rabugento
É comum achar pessoas
Das estranhas às notórias
Que, por mais que sejam grandes,
Sempre gostaram de histórias
De aventuras empolgantes,
De guerreiros, de gigantes
E das épicas vitórias.
Veja que não é o caso
De Quixote, ou asneiras,
Mas de não perder no tempo
Os jogos e as brincadeiras.
É brincar de fantasia
De um jeito que anestesia
As rotinas corriqueiras.
Pra esse tipo de gente
Que RPG foi criado.
É um jogo de aventura,
Mas que se joga sentado.
Aqui, contarei uma história
Que sempre vem na memória,
Sobre um arqueiro acuado.
Este causo acontece
Durante uma viagem
De um grupo de aventureiros.
Saindo da hospedagem
De uma cidade pacata,
Seguindo por densa mata,
Todos cheios de coragem.
Vários dias, o quinteto,
Seguia por mais de milhas,
Só parando, quando a noite
Tomava todas as trilhas,
Pra descansar um momento.
Faziam acampamento
Revezando as vigílias.
Certas noites eram quietas,
Passavam num estalar.
Noutras noites, o perigo
Surgia sem avisar.
Foram várias noites frias
De criaturas sombrias
Atacando pra matar!
Nessas noites, os guerreiros
Lutavam por suas vidas.
Defendiam seus amigos,
Com suas forças unidas.
Combatendo o tormento
Pra defender o momento
De pausa, tão merecida.
Quando o sol, enfim, raiava,
Os guerreiros levantavam.
Desmontavam acampamento
E, aos poucos, preparavam
O que era atribuído.
Num clima descontraído
Algumas peças pregavam.
Era assim toda manhã.
Alegrando o despertar.
Porém, uma certa vez,
Num dia em particular,
O alegre feiticeiro
Fez piada com o arqueiro
E alguém não soube brincar.
Vejam bem, que tem feitiço
Que não dói e nem machuca,
Como o que causa sono
Em um alvo, numa luta.
É um feitiço colorido
Que pode ser divertido
Numa amigável disputa.
Eis que o feliz feiticeiro
Lança, rindo, tal feitiço
Contra o arqueiro ranzinza,
Que desvia, irritadiço,
E que diz, sem deixar brecha,
Sacando seu arco e flecha,
– Eu atiro, saiba disso!
– Que bobagem! – Já responde,
Gargalhando o feiticeiro.
Os três outros patrulheiros
Assistiam o entrevero
Ora rindo, ora cuidando,
Mas, de leve, atiçando.
Um, que olhava, deu dinheiro,
Apostando quem ganhava.
Feiticeiro então lançou,
Novamente sua magia
De sono, mas não pegou,
Pois o arqueiro depressa
Desviou com raiva expressa
E uma flecha soltou.
O projétil zuniu alto
Num relâmpago de instante
Acertando o feiticeiro
De forma impactante
Varando a perna direita.
Estava pronta a receita
Do episódio estrepitante.
E se isso não bastasse
O mago, que apostou,
Decidiu ainda intervir
Na briga que se instaurou.
Fez um encanto derradeiro
E acertou o feiticeiro
Que de tamanho dobrou.
Veloz, o arqueiro subiu
Num galho que estava perto.
O feiticeiro, em êxtase
Por estar do céu mais perto,
Disparou mais uma vez
Ansioso por, talvez,
Finalmente mirar certo.
Realmente, foi então
Que o feitiço acertou.
Mas o arqueiro, raivoso
Nem ao menos bocejou,
Tamanho o ódio sentido
O brilho foi rebatido
E o feitiço falhou!
O arqueiro, sem demora,
Fez o arco estralar,
Tamanha fora a força
Que usou para puxar
Duas flechas no cordão
Mirando com exatidão
Com certeza de acertar.
No momento em que as flechas
Voaram do arco afora
Os guerreiros que assistiam
Souberam na mesma hora
De fato, era certeiro
Que o pobre feiticeiro
Já não se salvava, agora.
Quanto goblin, goblinóide,
troll, fantasma, besta, urso,
Esqueleto e gigante
Derrotaram sem recurso.
Quem podia imaginar
Guerreiros a se matar
Quase no fim do percurso...
Certo que, com ou sem choro
O leite foi derramado
As flechas, obedientes,
Foram no lugar mirado.
Desabou feito trambolho,
Com uma flecha em cada olho,
O pobre desacordado.
Mesmo em luto profundo
Pelo amigo aventureiro,
Não deixaram de cobrar
A aposta do matreiro:
O mago perdeu dinheiro
E ainda pagou de coveiro
Enterrando o companheiro.
Essa história eu dedico
Para o meu amigo Alisson!
Queria rimar seu nome
Mas só consegui com Dálisson.
Meu caro amigo arqueiro,
Abraços do feiticeiro
Que, pra rima, chama Tálisson.
Companheiro de aventuras
No jogo e de verdade.
Não aparece só em festa:
Firme na adversidade!
Que briguemos nas viagens
E que vão os personagens,
Sempre fica a amizade!