O MARTELO DO CIÚME
Vim aqui falar pra não me quedar louco
Assim, repartida, a dor é menos forte
Desabafo pra mó de encontrar um norte
Onde eu possa amenizar esse sufoco
Quem tem um amor, vai me entender um pouco
Se não for aquele cru, que não assume
Não serei um peixe fora do cardume
Em tratando-se dessa infeliz doença
Como pode causar tanta desavença
Essa peste sorrateira do ciúme
Em destroços deixa o peito de quem ama
Paranóica deixa a mente do indivíduo
Vendo coisas, examinando resíduos,
Oferecendo a felicidade às chamas
Ao menor sinal de fogo, o bicho inflama
Afiando o seu punhal de fino gume
Mesmo que seja clarão de vagalume
É motivo pra deferir a sentença
Como pode causar tanta desavença
Essa peste sorrateira do ciúme
Pelo tredo consumido, principia:
Arquiteta o enredo, ainda que desforme
De incredulidade e suspeita, não dorme
A voz da discórdia nunca silencia
E, mais uma vez, ao ver raiar o dia
Salta pra mais um mergulho no chorume
Do lixo da estupidez, chegando ao cume
Recebe a derrota como recompensa
Como pode causar tanta desavença
Essa peste sorrateira do ciúme