O Galinheiro – Quem são os donos dos poleiros?

Dois Galos decidiram

Que o galinheiro em desordem

Eles bem arrumariam

Colocando ali uma boa ordem,

Mas se depararam com impasse,

Já que divergiam na forma

Na qual a sociedade se formasse

Em um conjunto de normas.

O galo que falou primeiro,

Disse que capitalista

Deveria ser o galinheiro,

Contrariando o socialista

Que era o galo outro

E disse não seria só de um,

Mas ao analfabeto e ao douto

Pertenceria o espaço comum.

O Galo capitalista retrucou:

“Tem mais direito aqui

Aquele que primeiro chegou,

Pois o bom pioneiro assim

Conquistou este galinheiro,

Senão ele, seus avós e pais,

Então todos esses poleiros

São deles e de ninguém mais".

O galo socialista replicou:

“Mas assim não é justo,

Pois cada ave aqui lutou

Trabalhando a qualquer custo

Para que tudo isso existisse,

Este terreiro, esta casa

E uma cidade aqui surgisse".

O capitalista então disse:

“Quem trabalhou já ganhou

E acho por bem que adquirisse

Um poleiro que conquistou,

Então pague pelo seu bem

Ao dono deste terreno

Que merece também

Um lucro bem sereno".

Os dois galos divergiam

E não chegavam à conclusão,

Então enfim criariam

Um sistema de votação,

Todo frango e toda galinha

Tiraram o título eleitoral

E escondidos numa salinha

Decidiriam pelo sistema temporal.

O galinheiro de dividiu,

Pois a campanha foi acirrada,

Coisa igual nunca se viu

E a eleição foi bem disputada,

Os partidos não se misturavam,

Partidários se puseram à direita

Bem longe dos que ficavam

À esquerda de uma rua estreita.

A eleição então se concluiu

E a bandeira da liberdade

E fraternidade que se erigiu

Venceu o discurso da igualdade

Prometendo à toda galinhada

A riqueza e a prosperidade

E mesmo quem não tinha nada

Votou pelo direito à propriedade.

Mas problema sempre existirá,

Seja qual for a economia,

Pois em sociedade sempre haverá

Gente em estado de anomalia,

Aqui não era diferente,

Aves com fome a padecer

Não podiam estar contentes,

Pois ninguém gosta de sofrer.

Galinhas não tinham ninho

Para botar os seus ovos

E assim os seus pintinhos

Morriam ainda bem novos,

Frangos não podiam dormir,

Pois não tinham um poleiro,

Não conseguiam produzir

E assim não ganhavam dinheiro.

O galo perdedor fez proposta

De se fazer políticas sociais,

Mas o galo no poder não gosta

De dividir o milho um pouco mais,

Chamou o outro de comunista,

Subversivo, antipatriótico,

Oportunista e terrorista

Que quer um governo despótico.

Alguns apoiaram as medidas

Propostas pela oposição,

Da sociedade tratar as feridas

Essa era a melhor solução,

Mas a elite contra atacou,

Mais para a direita ela foi,

Do centro logo se afastou

E esse grupo se extremou.

Começaram a falar contrário

Do bolsa família e das cotas,

Quiseram diminuir salário

Dos meninotes e meninotas,

Perseguiram as galinhas pretas,

Humilharam as caipiras,

Com as índias arrumaram tretas

E espalharam muitas mentiras.

As aves de partido extremo

Estavam bem insatisfeitas,

Então espalharam seu veneno

Através de notícias mal feitas,

Escolheram ali um frangote

Para fazer dele um boneco

E enfim poderem dar o bote

E quebrar de vez o caneco.

Conseguiram a simpatia

De galinhas e frangos infelizes

Que não aceitavam a alegria

Dos pintos junto às codornizes

Colorindo todo o galinheiro,

Transformando o ambiente,

Mudando seu antigo cheiro

Para um perfume bem atraente.

Queriam esses extremistas

Que os galos de briga intervissem

E matassem as aves comunistas

E no galinheiro não permitissem

Que existissem outras cores,

Só as brancas teriam permissão

Para desfrutar os sabores

Do milho, da minhoca e da ração.

Mas o bom senso prevaleceu,

Nenhum golpe de galináceo

Naquela granja se sucedeu

E ali naquele pena palácio

Ainda é plena a democracia,

Têm o presidente galão,

Um xerife numa delegacia

E legisladores de montão.

Até hoje estão discutindo

Sobre os erros do sistema

E muitos estão admitindo

Que reformas vale a pena,

Percebem que capital e social

Podem fazer parceria,

Juntos o privado e o estatal

Fazendo o bem à maioria.

A sensatez hoje concorda

Que se não come suficiente,

A galinha não engorda

E o ovo fica deficiente,

O pintinho não nasce

Ou não cresce saudável

E se a avezinha padece

A economia fica vulnerável.

Seja qual for a orientação,

Para uma granja ter sucesso

Requer uma justa divisão

E não comam em excesso,

Dez por cento da criação,

Deixando o resto sem nada

A morrer de inanição

Tendo sua vida roubada.

Aberio Christe