A BRIGA DO PAPEL, LÁPIS, CANETA, BORRACHA, APONTADOR E LETRA.
POR JOEL MARINHO
Certo dia estava o lápis
A escrever no papel
De repente se estranharam
E foi um grande escarcéu
O papel o desdenhou
E o lápis se zangou
Daí nasceu esse cordel.
 
O papel falou ao lápis
Você não vale de nada
Cada risco que me dá
Precisa de uma apontada
Em ti não tem harmonia
Em mim nascem as poesias
Das pessoas apaixonadas.
 
Ora, pois, falou o lápis!
De onde vêm as poesias?
Surgem do meu sacrífico
De mim que nasce a magia
Se não fosse a minha morte
Pressionando-te tão forte
Nenhuma letra existia.
 
Até aquele momento
A letra estava calada
Falou então ao papel
Não me chame de enjoada
Mas o lápis tem razão
Pois só nasce a emoção
Quando dele sou jorrada.
 
Minha filha, disse o papel!
Não se meta onde não cabe
Como assim, disse a letra?
Só lhe falei a verdade
O lápis se sacrifica
Com prazer me edifica
Antes que o apontador o acabe.
 
O apontador falou
Eu gosto é de fazer o mal
Detono o lápis otário
Deixo-o feito mingau
Desintegro-o todinho
Até ficar bem fininho
Vira lixo no final.
 
Pela pontinha do lápis
Pressionado no papel
Desceu um fio de lágrima
Borrando feito um véu
A borracha foi chamada
Pra corrigir a borrada
Como luz que vem do céu.
 
O papel falou ao lápis
Tu além de bruto é burro
Não pode ficar nervoso
Que já fica todo turro
Se eu fosse gente atoa
Dava-te uma surra boa
Quebrava tua cara a murro.
 
A caneta então calada
Disse, parem de frescura!
Admiro-me de ti, papel,
Com esse teu ar de candura
Vou te riscar para sempre
Pois esse tal lápis doente
Vem só te causar agruras.
 
Aí o tempo fechou
O lápis se estressou
A caneta ficou nervosa
Gritou ao apontador
Pega firme esse ordinário
Arrebenta esse otário
Causa nele muita dor!
 
A borracha desgastada
Quis correr não dava mais
A caneta endiabrada
Disse, afastem para trás!
Quem manda aqui sou eu
Nisso o papel se tremeu
Era sensível demais.
 
Eu que estava ali pensando
Olhando para o papel
Em busca de inspiração
Para escrever um cordel
Dei um grito e ordenei
Disse a eles: eu sou a lei!
Parem já com esse bordel!
 
Se brigar vai ser pior
Jogo a borracha no lixo
Queimo a ponta da caneta
Do apontador desisto
Jogo o lápis para o léu
Faço bola do papel
Parem todos já com isto!
 
Pois eu preciso de todos
Com harmonia e amor
Para escrever poesia
Seja de paz ou de dor
Mas se persistir a briga
Ou souber que ouve intriga
Escrevo no computador.
 
De repente se abraçaram
Logo criaram juízo
Parecia a bela imagem
De Eva no paraíso
Inspirei-me fiz um cordel
Desenhei o céu no papel
E caímos todos no riso.