A HISTÓRIA DO ADVOGADO PEBADO
Um advogado pebado
Eu vou ter que contar
Um miserável da gota
Pra tudo tava acabado
Com uma penca de filho
Num grande empecilho
Na cara todo babado.
O advogado pebado
Com filhos ao seu redor
Chorava de noite e dia
Pra nada ficar melhor
A reza nunca ajudava
Ele apenas chorava
Cada dia na pior.
Para a gente conhecer
Vamos logo explicitar
O nome de cada filho
E eu aqui já vou colocar
Agora neste momento
Leiam o que vou falar.
Lucinha a filha mais velha
Tentava se conformar
Com toda aquela pobreza
E ia pro quarto chorar
Abraçava a sua mãe
Tentando lhe consolar.
Nesse momento o Pedrinho
O filho número três
Já estava perdendo aula
Não foi uma única vez
Não tinha sequer dinheiro
Pra comprar um pão francês.
Depois do filho Pedrinho
Nasce Carlos, o Carlinhos
De todos o mais centrado
Naqueles poucos aninhos
Era muito calado
Aquele nobre filhinho.
Após Carlinhos, chegam
Os gêmeos, Dorval e Evinha
Uma dupla do barulho
No termo brincadeirinha
Levava tanto cascudo
E ficava na salinha.
Era aquela confusão
A Fatinha não aguentava
Com a ajuda de Joãozinho
Ela muito gritava
A Dona Perla pedia
Só assim ele parava.
Logo depois nasceu a Gilda
E Luizinho em seguida
Que completava essa lista
Fechando com Margarida
São estes aqueles dez filhos
Que suportaram a vida.
Os filhos sem exceção
Teve como herói, Joãozinho
Era o mais inteligente
Criava tanto joguinho
Nessas horas de agonia
Ficava bem quietinho.
Sobre este filho mais velho
Que se chamava Joãozinho
O mesmo nome do pai
E era mesmo o diabinho
Foi ele que teve essa ideia
Dizendo pro seu paizinho.
Que ele não se incomodasse
Que mentir não é pecado
Porque tudo que ele via
Era matreiro o advogado
E era só isso fazer
Não ficar desesperado.
Seu pai muito educado
Porém, nunca mentiu
Ficou bravo com Joãozinho
Como nunca alguém viu
Explodindo só de raiva
Um ódio consumiu.
Pegou seu filho no braço
Ficaram ali se olhando
Joãozinho não aguentou
Foi logo se retirando
Perguntando pro bom pai
O que ele estava pensando.
Ele ficou ali, calado
Nenhuma frase falou
Pegou a pasta preta e cinza
Quis emprego e se mandou
O Joãozinho sem jeito
Para mãe desabafou.
Que seu pai tivesse calma
Pois tudo se consertava
Só a morte não tem cura
Na defesa até curava
Ele falava nos cantos
Sua mãe apenas olhava.
Joãozinho ali insistia
Sua mãe com atenção
Falando dos bons valores
E também de gratidão
Disse praquele seu filho
Que merecia um sermão.
A mãe já passando mal
Não quis de nada saber
Deu um puxavante na orelha
E disse : - Vai doer, vai?
E aquele filho danado
Dizia: - Nem quero ver.
Joãozinho um tanto triste
Pro pai pedia perdão
Mas, ficava ali amuado
Somente na observação
Entrava para o seu quarto
Pensando na criação.
Perla pegava João
Querendo lhe consolar
Dizendo: - Meu velho, calma
Que Deus vai nos ajudar.
O Joãozinho, meu Deus
Ele só faz reclamar.
O grandioso advogado
É tão honesto de dar dó
Não tinha se complicado
Gostava de ser melhor
Mas vivia de aluguel
A vida sempre pior.
A mulher ficava em casa
Dos dez filhos cuidando
Não pensava mais em nada
Tudo estava maltratando
Esperava seu marido
Que ia ali se lamentando.
O advogado todo dia
Pasta debaixo do braço
Sempre com o paletó
Que só lhe dava fracasso
Sua mulher engomava
Para sair todo esse amasso.
Mas, enquanto isso, esse chefe
Da família nos lamentos
Queria fazer muito
Haja tantos sofrimentos
Joãozinho fica só
Vendo olhares bem atentos.
A Dona Perla de Sá
Pede pro filho o respeito
Porque ele fazia aquilo
Se o pai tinha esse direito
Pois ele foi sempre honesto
Na praça tinha conceito.
Os nove filhos olhando
Aquela tal desgraceira
Joãozinho se chegando
E tira uma brincadeira
Falando para o seu pai
Foram direto a Teixeira.
Tudo isto sabem por quê?
Joãozinho fez a história
Pediu pra sua mãe
Pro Campo Santo da Glória
Ir visitar a vovó
Pra aliviar a memória.
Chegando no corretor
Esse filho com mistério
À casa iam alugar
Mas, era tanto impropério:
- Onde estão seus nove filhos?
O pai: - Estão no cemitério.
O corretor assustado
Pela mulher perguntou:
Joãozinho se meteu:
- Onde vovó se enterrou
E aquele pai bem calado
Com isto a casa alugou.
A nova casa alugada
Graças seu filho primeiro
Que teve a brilhante ideia
Dando esse tiro certeiro
Que mentir na precisão
Era, porém, passageiro.
O advogado se mudou
E tudo foi melhorando
Todos voltaram pro estudo
E empregado foi ficando
Joãozinho dar conselho
Naquela casa morando.
É uma casa tão grande
Para o nobre bacharel
Que fica com mais dinheiro
Quando ele paga o aluguel
Eu findo aqui esse meu drama
Pra alegrar o meu cordel.
FIM
João Pessoa-PB, 18 de abril de 2020.