O primo do véio
Quero contar a história
Dum cangaceiro sofredor
Véio, triste, sem memória
Morreu o coitado, por amor
O véio era forte feito touro
Tinha nome sim, era Zé
Casado era c'um tesouro
Uma jóia em forma de muié
Viveu feliz até que um dia
Chegado de cidade grande
Veio um peão de montaria
Tocando alto seu berrante
Era esse, primo do Seu Zé
Que não notou o zóio comprido
Que endereçava sua muié
Pras banda do primo querido
Certo dia, teve um rodeio
O primo desculpas deu
Seu Zé vendo peão alheio
E o primo sua muié comeu
O véio descobriu a baixeza
Saiu c'o diabo no corpo
Pra matar o primo na certeza
De assim lhe dar o troco
Mas a surpresa foi achar
Só um papel de pão na mesa:
"Fomos embora, sem pensar,
Adeus intão, Zé tristeza!"
Na carreira Seu Zé saiu varrido
Ia achar a muié e o primo
Nem que fosse no inferno
E no velório ia usar terno!
O primo que já num era querido
Escondeu a muié bem escondido
Deu dois tiro no seu Zé
E fugiu no lombo do boi Bandido!
(ô vida...)