A SABEDORIA E A IGNORÂNCIA

Por Gecílio Souza

01. Na década da estupidez

Jorra ódio em abundância

A tônica é a futilidade

Estímulo à beligerância

Tripudia-se a razão

Ela que é a única instância

Menospreza-se a essência

Subestima-se a substância

Da forma mais vil e bruta

Reedita-se a velha luta

Entre o saber e a ignorância

02. Com desdém e petulância

A ignorância chegou

Se dirigiu à bancada

E ao microfone falou

Exijo que me respeitem

Fiquem sabendo quem sou

Me oponho à filosofia

E a quem nela se formou

Faço oposição à ciência

Culpada pela indecência

Que no mundo se instalou

03. A sofia se levantou

Serena e muito elegante

Deu boas vindas a todos

Que lhe aplaudiram bastante

Para iniciar a sua fala

Citou um aforismo marcante

Segundo o qual o saber

Causa ruptura chocante

E quem contra ele se insurge

Não passa de boi que muge

Para encantar ignorante

04. Irritada e hesitante

Disse a ignorância assim

A Sofia quer ser boa

Mas na verdade é ruim

Lhe farei oposição

Dura e firme até o fim

No auge do meu protesto

Ofereço-lhe capim

A sua inútil teoria

Desagrada a maioria

Que prefere apoiar a mim

05. Já conheço este motim

Disse Sofia a sorrir

Rebelião alguma fará

O saber se sucumbir

Com você não é possível

Dialogar e refletir

Faria muito bem calar-se

E assim não proferir

Incoerentes afirmações

Repletas de contradições

De onde não irá sair

06. A arrogância quis reagir

Com uma raiva estampada

Pegou firme o microfone

Uma das mãos levantada

Os olhos quase saltando

A voz aguda e gritada

Se movia gesticulando

A jugular bem alterada

Falou apontando o dedo

Sofia, não tenho medo

Da sua cultura atrasada

07. Não estou preocupada

Com a sua valentia

Você é a ignorância

Eu sou a sabedoria

Pode protestar gritando

Inútil é a sua rebeldia

O mundo se faz de surdo

À bravata e gritaria

O seu álibi incoerente

É tal qual uma serpente

Que devora a própria cria

08. Se você me desafia

Apontando a incoerência

No meu discurso e na vida

Isto é da minha essência

Seu lance é me erradicar

Em nome da tal ciência

Porém os tolos me amam

E me prestam obediência

Vivo encantando idiotas

Arrogantes ou lambe-botas

Parasitas sem consciência

09. Você é a decadência

De toda e qualquer nação

Veio impedir o avanço

Da própria civilização

Ignorância é sinônimo

De intolerância e confusão

O meu nome é Sofia

Filha e mãe da instrução

Sou o resgate logo após

E por isto entre nós

Não há conciliação

10. Sou filha da escuridão

E detesto a claridade

Respondeu a ignorância

Com aspecto de falsidade

Domino qualquer pessoa

Independente da idade

As que odeiam o saber

Venço com facilidade

Tenho o prazer de instruir

Os que gostam de exibir

Diplomas de faculdade

11. Esta espécie de vaidade

Camufla a deficiência

Que o sujeito ignorante

Carrega na própria essência

E para mantê-la oculta

Recorre à tal providência

Quer passar boa impressão

Investindo na aparência

Mas este truque é antigo

Não funciona comigo

Sou Sofia, a transparência

12. Grosseira e sem paciência

A ignorância respondeu

Na pesquisa do IBOPE

Sofia você já perdeu

Porque a grande maioria

Estudou e não aprendeu

Geralmente quando lê

Nem entende o que leu

Em termos de estatística

A conclusão realística

È que euzinha venceu

13. Sofia nem se mexeu

Tranquilamente falou

Não faço campeonato

Como você insinuou

E a mim não interessa

Se alguém perdeu ou ganhou

Não sou atração das massas

Isto nunca me estressou

Sou ativa mas reservada

Preciso ser conquistada

A minoria me conquistou

14. A ignorância resmungou

E disse rangendo os dentes

Você é ousada demais

E os sábios insistentes

Reúnem-se em sua volta

As pessoas inteligentes

Mas eu consigo agregar

Oradores eloquentes

Que parecem saber tudo

Só lhes falta conteúdo

Sobram aplausos e presentes

15. Você deforma as mentes

Porque é irmã da preguiça

Nas águas do seu oceano

A razão se desperdiça

Desvia a função do cérebro

Vez por outra ele enguiça

No lugar do conteúdo

Você coloca linguiça

Assim respondeu Sofia

Ignorância é caixa vazia

Vedada com uma cortiça

16. Sou como a tampa roliça

Para o vazio camuflar

Meu nome é ignorância

Estou em todo lugar

Diferente do saber

Que é difícil de encontrar

A maioria me detém

Sem ter que me procurar

Enquanto você, Sofia

Na escola e na livraria

E eu detesto estudar

17. Sofia sem se alterar

Respondeu pausadamente

O que é bom exige esforço

Não se dá automaticamente

Porém tudo que não presta

Se adquire facilmente

Tal exemplo se aplica

A este caso perfeitamente

Ser ignorante não precisa

Lutar nem molhar a camisa

Basta ter preguiça somente

18. A ignorância impertinente

Falou bastante agressiva

Sofia você é intragável

Criteriosa e seletiva

Muita gente lhe detesta

A maioria me cultiva

Porque não exijo nada

E continuo bem viva

Estudar é uma bobagem

Demanda esforço e coragem

Vontade e iniciativa

19. Você é muito nociva

Disse Sofia elegante

Irmã-gêmea da mentira

Dissimulada e arrogante

O seu próprio seguidor

Não se assume ignorante

Quer vencer tudo no grito

Ou na omissão vacilante

De fato somos opostas

Chego você vira as costas

Não diz nada relevante

20. Com o ódio no semblante

A ignorância bradou

Falo alto e grito mesmo

Me orgulho do que sou

Não quero saber de livro

Livro me prejudicou

Temo que o ignorante

Siga a quem já estudou

É que a minha sobrevivência

Depende da existência

De quem nunca lhe escutou

21. Na hora Sofia falou

Para todo mundo ouvir

E a ignorância escutando

A ponto de se explodir

Você ilude a maioria

Não consegue discutir

Sou Sofia e me retiro

Não sem antes concluir

Onde chego você sai

Quando subo você cai

Por si mesma irá cair

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 23/04/2020
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