A FILHA DA FÊNIX

Se “a vida é combate

que aos fracos abate,

que aos bravos, aos fortes

só pode exaltar...”

das cinzas do silêncio

ergo-me, qual Fênix,

distendo as asas

rompo a amplidão

num voo ousado,

para dar um recado

e fazer conhecido

o ser mais querido

O Pai Adorado, do meu coração!

Eram três horas da tarde

de um dia de verão

estava muito tranquila

fazendo minha oração

quando veio-me ao pensamento

escrever do sentimento

que trago no coração!

Pedi ao Supremo Saber

a Pra e Divina Luz

para enxergar a Verdade

escrita na Santa Cruz

e falar para o amigo

da Fé que trago Comigo

num seguidor de Jesus!

Sou órfã e fui criada

num Orfanato, indigente

pobreza e dignidade

sempre estiveram presentes

pois só é pobre quem quer

e dignidade é

ser Filho de Deus, somente!

Meu Pai adotivo foi

um homem puro e decente

um Espírito Iluminado,

Amoroso e Coerente:

Fazia o que ensinava

amava a todos e adorava

ao Deus Vivo, Onipotente!

Não conheci esse homem

mas vi os retratos seus

meu coração de criança

em sua carne escreveu

o nome da criatura

que feliz, tive a ventura,

de ser um, dos filhos seus.

Seu nome era Antônio

Fernandes de Amorim

sua vida e seu amor

tinham um único fim:

Aos pobrezinhos amar,

sem jamais se melindrar

se alguém era ruim.

Dizem, os que o conheceram

que tinha um olhar brilhante

seu rosto, onde a bondade

fizera pouso constante,

era a expressão do Amor

feita pelo Criador,

em seus mais doces instantes.

Sua boca só se abria

para dizer do Amor

da Justiça e da Verdade

contidas no Criador

suas Lições e não castigos…

Deus É Pai, não inimigo,

pra nos tratar com rancor!

Tinha eu então quatro anos

e estava muito doente

minha Mãe, neste Orfanato

deixou-me urgentemente

fiquei tristonha a chorar

magoada a soluçar

saudosa dos meus parentes.

Chorei muito ao perceber

que dali não sairia

minha Mãe acreditava

que feliz então seria

entregando-me as freiras

sem imaginar na barreira

que entre nós ergueria!

Tornei-me uma criança triste

medrosa e doentia

tinha pavor da superiora

quando a avistava, fugia,

seu semblante magoava

pois ela nunca mostrava

um sorriso, uma alegria.

Só muito tempo depois

descobri por que então

o motivo da tristeza

que lhe enchia o coração…

dores que a maltratavam

e viva emparedavam

numa dura solidão.

Gostava da professora

sorridente e brincalhona

vivia sempre feliz…

e d’uma alegria tamanha

que me fazia sorrir

e por vezes descobrir

que a vida não é tão medonha.

A “sacristã” era mais séria

e cuidava da Capela

Morena, muito bonita

de uma graça singela.

Ensinava-nos a rezar

bonitos hinos cantar,

organizando as novenas.

A recreadora, “terrível”,

sempre cheia de energia,

nunca mais esquecerei

toda sua alegria

nos ensinava a rezar

mas também, muito, a brincar,

a sorrir, fazer folia.

Mas havia uma mais linda!

Santa do meu coração,

doce qual favo de mel,

forte como um dragão,

alegre qual rouxinol,

cantando no arrebol,

sua mais doce canção!

Nunca a esquecerei…

Ensinou-me a viver,

honesta e decentemente

cumprindo com meu dever.

Pois Filha de Deus que sou

fez-me Ele, com Amor,

não nasci para sofrer!

Amei tanto essa criatura

que a adotei como Mãe.

Gostava de estar ao seu lado

ouvindo suas lições

de mestra sabia e sensata

que sempre, na hora exata,

abria-me seu coração.

Um Franciscano sereno

dirigia o Orfanato

dele nunca tive medo

simplesmente pelo fato

de vislumbrar muito Amor

Fé, coragem e destemor

em cada gesto ou ato.

Capuchinho italiano

de pele clara e rosada,

olhos azuis, cor do mar,

na hora da alvorada,

quando toda natureza

canta de Deus a grandeza

através da passarada.

Nunca vi daquele homem

um semblante carrancudo.

Estava sempre sorrindo

para Deus e para o mundo.

Do seu rosto, a alegria,

Amor, Paz e Harmonia,

não se afastavam um segundo!

Aos sete anos de idade

pra receber a Eucaristia,

Minha Alma inocente,

nadando em alegria

voando pro Criador,

parecia um Beija-flor,

na mais pura euforia…

confessei-me em seu colo,

olhando nos olhos seus,

que a mim mais pareciam

dois pedacinhos do Céu.

Lá não encontrei censura

só compreensão e ternura,

quando me absolveu!

Passei o dia Feliz.

Toda de branco vestida.

Sentia-me pura e santa,

e pensei em minha vida…

jurei naquele momento,

que nem mesmo em pensamento,

para o Meu Pai, mentiria!

Fui crescendo e, a cada dia

meu semblante se fechava,

nem a sombra de um sorriso

o meu meu rosto esboçava

meu coração soluçando,

ia aos poucos definhando

chorava, em silêncio, a mágoa…

de viver sem Minha Mãe,

a quem eu amava tanto,

meus dois irmãos, meu amigos,

de quem me afastei em pranto.

Minha Avó e Minha Tia,

que como uma Mãe, queria,

fiquei só, em desencanto!

Chorava sem ter mais lágrimas

mas, morrer eu não podia

mesmo vivendo doente,

tendo febre todo dia,

magra que causava dó…

o que faltava era só

um motivo de alegria.

Certo dia tive um sonho,

em que alguém me disse assim:

“___ Se queres falar com Deus,

tuas queixas contes a mim

de Deus eu sou o ouvido

escuto cada gemido

desse Universo sem fim!

Levo todos ao Senhor,

pois a missão que recebi

foi de ajudar ao mundo

viver bem e ser feliz

Eu Sou o Amigo Vento,

firma o teu pensamento,

o teu desejo a mim diz.”

Falei ___Eu não quero ser

amiga da solidão,

ela é triste e sombria,

enluta o meu coração…

quero sorrir cantar

minha família abraçar,

dizer da minha emoção…

Quero sentir o abraço

cheiroso e aconchegante

de minha mãe, que desejo

rever a todo instante,

beijar meus dois irmãozinhos

da vovó quero o carinho,

não essa dor cruciante!

De minha tia e madrinha

quero o afago amoroso,

seu abraço tão sincero

o seu sorriso gostoso,

seu colo e sua ternura

pois não há uma criatura

de gesto tão carinhoso!

Tornou-me o vento “____Menina,

você precisa entender,

Deus sempre escreve certo,

mesmo quando a gente vê,

que as linhas dessa vida

são tortas e retorcidas

e só nos mostram o sofrer!

Confie em Deus Criador,

que tem a Sabedoria,

e sua vida traçou

de Paz e muita Alegria.

Tornou-te forte e senhora

mas tens que saber a hora

da tua soberania.

Não escondas do teu Pai

a dor do teu coração,

pois tua mãe feita em prantos

entregou-te a ele, então,

quando ainda estavas em seu ventre

e ele amorosamente

aceitou a oblação.

Ele aceitou você, criança,

muito antes que nascesse.

Amou-te de coração

para que compreendesse,

você nunca está sozinha,

Ele, ao seu lado caminha,

por que teima em abater-se?

Erga a cabeça e enfrente o mundo:

Sua missão é sorrir,

mesmo sentindo sua Alma

e, sangue se diluir.

Conforte o seu semelhante

toda hora, todo instante,

nunca pense em desistir.

Pense sempre em seu Pai,

o único que conheceu.

Aquele que com Amor

aos algozes acolheu

mesmo sabendo que a sorte

com eles trazia a morte,

nem um segundo temeu.

Confia nele, Criança,

que nunca estarás só.

Mesmo quando os teus ‘amigos’

te causarem imensa dor,

grita ____Meu Pai, meu Amigo,

minha Fé está contigo,

ameniza a minha dor!”

Acordei-me, então, suada,

mas dentro do coração

meu pensamento cantava,

com ternura, uma canção.

O nome mais belo e doce

que guardei como se fosse

minha mais cara emoção.

Daquele dia em diante

resolvi viver sem medo,

tudo ao meu Pai contava

quando falava em segredo,

no silêncio da capela,

em minha oração singela

qual brisa no arvoredo.

No Orfanato aprendi

ler, escrever e contar.

Dancei muito pastoril

aprendi representar

peças no nosso teatro,

e a conhecer de fato,

o dono desse lugar.

Desperto minha atenção

um nome sempre falado:

“seu” Antônio Franciscano,

assim ele era chamado.

Outros chamavam Padrinho,

Compadre ou Capuchinho

Beato, mas muito amado!

O nome mais doce de todos

ouvi um dia falar,

um jovem meigo, franzino…

criado nesse lugar,

com os olhos rasos d’água

e a voz cheia de mágoa:

“___Papai não vai mais voltar!”

Eu ainda não atinava

por que ele não voltaria

acreditava, inocente,

que estava em romaria,

e que muito brevemente,

comandando muita gente,

ao nosso lado estaria!

Na parede da Sala Grande,

havia um retrato seu,

ficava horas olhando

aquele que acolheu,

deu abrigo, alimentou

e tratou com tanto amor,

alguém que não merecer!

Descobri, horrorizada,

que alguma fera humana,

a vida daquele homem,

numa violenta sanha,

arrebata a tiros,

deixando no desabrigo:

velhos, jovens e crianças!

___Mataram-no? Não acredito!

Foi o que pude dizer.

Meu coração de criança,

não conseguia entender…

como alguém pode matar,

que só sabia amar

sem a ninguém ofender?!

Três tiros e acabou

sua vida de doçuras,

semeando a Caridade,

a todas as criaturas.

E a besta assassina,

que cometeu a chacina,

aos coices, solta nas ruas!

Dizem que o foi crime

mais triste da terra então,

depois do assassinato

de Caim contra o irmão.

Só faltaram crucificá-lo

para depois colocá-lo

no meio de dois ladrões!

Mas, a Semente do Amor

na terra ficou plantada.

Hoje a Vila Franciscana

É conhecida e amada.

Nela há órfãos, velhos e jovens,

dependentes da coragem

de gente abnegada.

Estudei durante anos

nesse Orfanato e, somente,

sai para Maceió

por que lá, infelizmente,

só havia o Curso Primário,

e num Colégio Missionário

fui interna, novamente.

Tornei-me mais arredia,

calada, triste, bisonha.

Acometida de febres,

e dores, as vezes medonhas,

que me faziam delirar,

e por vezes desmaiar,

ficando quase em coma.

Mas não parei de estudar,

pois gostava de aprender.

Tudo que eu não entendia

era um desafio a vencer.

Feroz como uma serpente,

lutava valentemente,

sem querer esmorecer!

Dentro do meu coração

de menina solitária

uma feição se aninhou

companhia solidária

não me deixando um segundo,

sentir-me só, nesse mundo,

numa batalha inglória.

Nas minhas horas de angústia

sozinha sempre a chorar,

perdida igual a um náufrago

sem rumo, no alto mar,

gritava ___Meu Pai me ajude,

que o Pai ao filho não ilude…

Vinha ele me amparar.

Peço ao amigo leitor

em nome da Santa Cruz,

e pelas Chagas Sagradas

do Nosso Mestre Jesus,

não duvide do que digo:

___Meu Pai Tonho é Meu Amigo,

Meu Anjo e Guia de Luz!

*Continua...

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 21/04/2020
Reeditado em 22/04/2020
Código do texto: T6924621
Classificação de conteúdo: seguro
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