O CASAMENTO
Por Gecílio Souza
01. Altiva e polivalente
É a missão do cordelista
Aborda temas diversos
Mesmo sem ser especialista
A uns cativa e agrada
A outros confronta e irrita
O alcance do cordel
É longo a perder de vista
Ele é livre e independente
Não bajula e não mente
Poder algum lhe interdita
02. Ideias que a mente dita
Em forma de pensamento
Se fazem versos rimados
Num poético envolvimento
O mundo é a matéria prima
E a vida é o seu fundamento
A poesia analisa tudo
E faz seu questionamento
O assunto deste relato
É um histórico contrato
Chamado de casamento
03. A história fez o assento
Desta célebre instituição
Imposta pela cultura
Portanto é uma convenção
Envolta de mito e crenças
Com a oculta intenção
De moldar as consciências
Induzir a imaginação
Para dar-lhe credibilidade
Conferiram-lhe sacralidade
Cerimônia e louvação
04. Uma espécie de alçapão
Mas pouca gente admite
É um cárcere social
Onde a moral dá o limite
Formulam-se as relações
Fechadas a qualquer palpite
Restrito clube econômico
Se dissolve com o desquite
Institucionalização do sexo
Pacto obscuro e complexo
Simula-se até no convite
05. Casamento é um arrebite
Vai contra a lei natural
Sociedade econômica
Com repercussão legal
Imposição da cultura
Fenômeno convencional
Impõe como obrigação
Algo que é opcional
O Estado e a religião
Fazem a sua celebração
Naquele rito formal
06. O ato matrimonial
Cheio de simbologia
Frases belas e marcantes
Tentam adicionar magia
Encantam os convidados
Com desconfiada alegria
Inclusive os infelizes
Que se casaram algum dia
Geralmente o casamento
Empolga por um momento
Mas cai na monotonia
07. Profunda dúvida se cria
Nas profundezas do ser
Cada cônjuge um universo
Buscando compreender
A identidade do outro
Que insiste em se enconder
Densas muralhas dos “eus”
Se erguem para proteger
O cofre da consciência
Que sequer a convivência
É capaz de lhe romper
08. Em geral é conviver
Agradando a sociedade
Modelo para os de fora
Que desconhecem a verdade
Porque na ordem interna
Inverte-se a realidade
Sepulta-se os sentimentos
Na tumba da formalidade
Para honrar o figurino
De sagrado e de divino
Aborta-se a felicidade
09. A conjugal afinidade
Sai pelo mundo a vagar
Em busca de algum sentido
Para o contrato preservar
Duas cabeças e mil ideias
Mas nenhuma no lugar
Dois espíritos antagônicos
Formam dupla, não um lar
Metáfora de mortos vivos
Cada qual busca os motivos
Pelos quais foi se casar
10. Alguém pode discordar
Deste meu ponto de vista
A divergência é saudável
Mas é bom ser realista
O casamento é um sonho
Entusiasma o idealista
Se casa e o tempo prova
Que o sonho é ilusionista
Ao crítico entendimento
Quem cultua o casamento
É ingênuo ou masoquista