NASCIDO NA DISCÓRDIA, SALVO PELA MISERICÓRDIA
=Uma História de Amor e Ódio
Preste bem atenção
Na história que vou contar,
Mas já aviso de antemão
Que você vai se assustar,
Pois ao que dou sequência
É algo por excelência
Que pode lhe amedrontar.
Se qualquer semelhança
Com o real você encontrar,
Faço logo esta lembrança
Que o que estou a narrar
Não é apenas ficção
Que força nela a ação
Sem a realidade constar.
Havia uma judia bonita
Que um alemão nazista
Namorava à escondida,
Eles não deixavam pistas
Do seu romance secreto
Que em um tempo seleto
Acontecia fora das vistas.
Mas então aconteceu
Que a jovem engravidou,
Mas ele nem se comoveu
E um aborto tramou,
A moça tratou de fugir
Para a criança parir
Longe daquele que amou.
O malvado a perseguiu
Até que a grávida prendeu,
E o trem ao gueto seguiu
Levando a ela e o filho seu
Que estava na barriga
E logo viria à luz da vida
Àquele que ela concebeu.
A moça foi aprisionada
E, com sua tenra idade,
Foi ela escravizada,
Perdendo a liberdade
Testemunhou tanta morte
E temeu que sua sorte
Fosse sofrer tal crueldade.
O seu amante oficial
Foi designado à missão
De servir nesse local,
Ao elevar sua visão
Avistou não distante
Aquela que bastante
Conheceu em sua paixão.
A moça bem barriguda
O soldado comoveu,
Ele pensou em dar ajuda
Àquela que conviveu
Com ele entre paredes
Saciando sua sede
De amor em braços seus.
Ele se dirigiu até ela
Que levou um susto,
Coitada ficou amarela,
Ele se mostrou justo
E se disse arrependido,
Uma lição ter aprendido
A tão alto custo.
Prometeu que a tiraria
Daquela tal situação
E enfim lhe devolveria
A liberdade então,
Ela lhe deu confiança,
Mas pediu que a criança
Pudesse viver na nação.
Ele pediu que acreditasse,
Pois ainda a amava
E, que se o rejeitasse,
Alegria não lhe restava,
Sua vida seria tormento,
Um mar de sofrimento
E nem a glória lhe bastava.
Ela decidiu lhe creditar
Um voto de bondade
E resolveu aceitar
Que era tudo verdade
O que o oficial dizia
E sinceramente lhe queria
Com o bebê na igualdade.
Naquela mesma noite
Eles se deitaram,
Mas brutais como açoite,
Amor e ódio chegaram
Mostrando a covardia
De quem não levaria
Avante o que combinaram.
Veio do alto escalão
A ordem terrível
Que o chefe em questão
Cumpriria o irrecorrível:
Adultos do sexo feminino
Mais meninas e meninos
Teriam uma morte horrível.
Que não sobrasse
Ninguém nesse quesito,
Que ele executasse,
Senão ficaria esquisito
E o general desconfiado
Saberia do apaixonado
Vivendo esse conflito.
E a moça foi enviada
Para a câmara de gás,
Mas a parte não contada
É que a morte fugaz
Não levou a criança,
Pois na estranha dança
A vida foi mais sagaz.
Entre os intervalos
Das execuções em grupo
Nasceu como num estalo
Um neném impoluto,
Ele foi amamentado,
Por muitos foi cuidado
Em um esquema resoluto.
Mais tarde se provaria
Que o menino do gueto
Era filho de uma judia
Com um nazi em dueto,
Mas ele cresceu sadio,
Nunca se fez de fugidio
Nem teve agir obsoleto.
Um homem que lutou
Contra todo preconceito
E jamais apoiou
O que fizeram de mal feito,
Nascido na discórdia,
Salvo pela misericórdia,
Por Deus ele foi eleito.
Aberio Christe