O PREGUIÇOSO
TREINO POÉTICO
Septilhas: O Preguiçoso
Heleno Alexandre & Izaías Moura
Heleno
Não falo mal de ninguém
Mas falo do preguiçoso
Só anda se escorando
E mesmo sendo corajoso
Acha melhor apanhar
Para não se esforçar
Se passando por medroso
Izaías
Eu como sou corajoso
Disposição é meu forte,
Todo dia acordo cedo
Peço a Deus saúde e sorte,
Mas conheço muita gente
Que de preguiça e doente
Que faz raiva até a morte.
Heleno
Não quer entrar no transporte
Nem se chamar por seu nome
Por não gostar de trabalho
Há três dias que não come
Tem feijão para comer
Mas se tiver que colher
Prefere morrer de fome
Izaías
Tem preguiçoso que come
O salário da "muié"
Passa o dia todo em casa
Não arruma pro café,
Se falar ele acha ruim
Homem preguiçoso assim
Ainda arruma quem "qué".
Heleno
Feito uma pomba sem fé
Desdenhando seu tamanho
Come sem lavar as mãos
Vai dormir sem tomar banho
As vezes tem condições
Mas suas limitações
Lhe transformam num tacanho
Izaías
Eu mesmo não me acanho
Pra falar do Zé preguiça,
Porque acho uma vergonha
E uma tremenda injustiça,
Ver a mulher trabalhando
E ele em casa esperando
Feito urubus na carniça.
Heleno
Nem com ordem da justiça
Quer verter suor do rosto
Quando inventa de casar
Pra mulher diz que é disposto
Mas começa maltratá-la
Se de fome não matá-la
Mata de raiva ou desgosto
Izaías
Ele sempre é o oposto
A quem vive no trabalho,
Vive procurando um meio
De qualquer tipo de atalho,
Mente antes de casar
Acha ruim se lhe chamar
Meia sola ou quebra galho.
Heleno
Até jogando baralho
Tem preguiça de traçar
Se outro disser: bati
Para não se esforçar
Nem confere se tá certo
Se o jogador por esperto
Pode deitar e rolar
Izaías
Quem nunca quer trabalhar
Fica esperando uma ajuda,
Diz que o tempo é ruim
Fica num Deus nos acuda,
Pode até nascer de novo
Engana a Deus e ao povo
Mas dá a gota e não muda.
Heleno
Crise de preguiça aguda
Até pra por a camisa
Se num pé de abacate
Colher os frutos precisa
Se alguém lhe mandar subir
Ele diz pra quem pedir
Pode me dar uma pisa
Izaías
Meu sonho se realiza
Ter brincado com Heleno,
Ele um poeta gigante
Eu um poeta pequeno,
Mas pra mim foi valioso
Mesmo eu sendo prequisoso
Colhi flores em meu terreno.
Heleno
Dorme a noite no sereno
Pra não ficar se esforçando
Esses seiscentos reais
Que o governo está doando
O cadastro não fará
Dizendo deixa pra lá
Eu não estou precisando
Izaías
Preguiçoso vive achando
Que está de bem com a vida,
Da calçada pra cozinha
A procura de comida,
Esse tipo de sujeito
Só come o que acha feito
E depois cai na dormida.
Heleno
De tudo ele duvida
De nada ele tem cuidado
Se trabalhar de vigia
A noite fica deitado
Chega um ladrão perto dele
Pode levar até ele
Que nem liga o desgraçado
Izaías
Um preguiçoso agregado
Deixa uma família louca,
De tanto a mulher gritar
No fim do dia está rouca,
Ele sai pra passear
Nada de ir trabalhar
E diz que a sorte é pouca.