A CIGARRA E A FORMIGA

Eu vou contar uma fábula

Que mostra um belo roteiro:

Uma cigarra cantava

Ao pé do formigueiro

E foi cantando que ela

Passou o verão inteiro.

Se alguém passasse por perto,

Sem dúvida alguma avistava

As formigas trabalhando

E perto delas estava

A cigarra bem contente

Que abria a boca e cantava.

É que as formigas estavam

Abastecendo as dispensas

Com folhas de todo tipo

Pra não ficarem propensas

A padecer no inverno

Durante as chuvas intensas.

Mas o tempo, que não para,

Fez mudar a estação.

E quando a cigarra viu

Que acabou o verão,

Iniciou o inverno

E a sua preocupação.

No céu, o Sol se escondia

Por causa das tempestades,

O calor deu vez ao frio,

Mudando as realidades,

E a branca neve caía

Pelos sítios e cidades.

As nuvens cobrindo o céu,

E os trovões rimbombando,

A água em gotas caindo

Todo o terreno molhando,

Já os animais, nas tocas,

Cobertinhos, cochilando.

Mas a cigarra, coitada,

Não soube se prevenir!

Estava pobre, mancando,

Não tinha pra onde ir,

Sozinha, arrastando a asa,

O jeito agora é pedir...

Foi até o formigueiro,

Com o triste aspecto seu,

Quase sem força nenhuma,

Toc-toc, ela bateu,

Uma formiga, num xale,

Velozmente lhe atendeu.

A formiga observou

A face da visitante,

Cansada, enferma, tossindo,

E ainda um olhar distante...

E perguntou-lhe: “O que quer?”

Após pensar um instante...

“Venho em busca de agasalho”,

A cigarra respondeu,

“É que o mau tempo não cessa,

E até agora, eu

Não tenho nenhum abrigo,

Estou sofrendo no breu!”

A formiga olhou pra ela

De cima pra baixo, com

Desconfiança (talvez),

Mas perguntou em bom tom:

“Por que não fez uma casa

Enquanto o tempo era bom?”

Em um acesso de tosse,

A cigarra bem doente,

Toda tremendo de frio,

Com a formiga na frente,

Baixou o rosto e falou

Fraca e vagarosamente:

“Eu cantava no verão...”

E antes de concluir

O que tinha pra falar,

Viu a formiga sorrir

E lembrar: “Você cantava,

E a gente amava ouvir!”

“Entre aqui, minha amiguinha!

Nós não tiramos da mente

Os momentos de alegria

Que a sua voz gentilmente

Aliava o esforço

E os trabalhos da gente!”

Então, a cigarra entrou

E, no formigueiro, ela

Foi muito bem recebida,

Pois todos gostavam dela

Dizendo que seu talento

Tornava a vida mais bela.

Ela, assim, sarou da tosse,

Recebeu um cachecol...

Após passar o inverno

Naquele mesmo arrebol,

Ela voltou a cantar

Nos belos dias de sol.