O VÍRUS E O MUNDO: DUELO DA DÉCADA

Por Gecílio Souza

01. Se fosse um campeonato

Com narração transmitida

Seria em toda a história

A mais gigantesca partida

Os dois times concorrentes

Impressionando a torcida

Mas não é qualquer disputa

É um jogo fraticida

Duelo grave e profundo

Entre um vírus e o mundo

Colocando em risco a vida

02. Luta igual ou parecida

E com força equivalente

Apenas na mitologia

Lá do velho continente

Mas esta é superior

Vista metaforicamente

Na prática é uma ameaça

Uma catástrofe diferente

Repleta de simbolismo

O mundo é o capitalismo

Que o vírus peitou de frente

03. Com a humanidade presente

O duelo começou

Corona muito sutil

Para o mundo assim falou

Não era para eu ter nascido

Mas sua teima precipitou

O meu aparecimento

E por isto aqui estou

A fim de desmascará-lo

Em último caso derrotá-lo

Porque você exagerou

04. O mundo lhe indagou

Mas em que me exagerei?

Como pode me acusar

De algo que nem eu sei?

Sou um simples convidado

Que ao convite aceitei

Fale logo e seja claro

Onde, como e quando errei

Do contrário não aceito

Aponte em mim um defeito

Ou um crime que pratiquei

05. Ainda não lhe acusei

Disse o vírus em resposta

O farei daqui a pouco

Que a oportunidade volta

E o assunto não sairá

Nem um milímetro da rota

Exijo que me responda

Sem tapeação nem lorota

Os meus questionamentos

Lhe causam aborrecimentos

E disto você não gosta

06. O mundo deu uma cambota

Com o microfone na mão

Falou ao Coronavírus

Faça logo a acusação

Pára de fazer chantagem

Repudio qualquer pressão

Ou cale-se vírus atrevido

Você é uma aberração

Este minúsculo organismo

Desafiar o liberalismo

Que ousada pretensão

07. O vírus chamou atenção

E disse com bem clareza

Mundo, você é o maior

Inimigo da natureza

Devasta, queima e destrói

Com ânsia e indelicadeza

Fala que isto é progresso

Mesmo tendo a certeza

Que é o começo do fim

Continua agindo assim

Em nome da tal riqueza

08. O mundo caçou destreza

Ficou muito indignado

Respondeu ao Coronavírus

Um tanto desajeitado

Se existem micro-organismos

Por favor, não sou culpado

O meu único objetivo

É diminuir o Estado

Sou moderno e liberal

Represento o capital

E a economia de mercado

09. O Corona impressionado

Respondeu em baixo tom

Você destrói o Planeta

Deixando-o cinza marrom

Transforma o ecossistema

E fala que isto é bom

Destruir para lucrar

Este é o seu único dom

Tenta amenizar o assunto

É como passar num defunto

Maquiagem e batom

10. Feito uma caixa de som

O mundo então reagiu

Seu vírus mal educado

De onde você surgiu?

Como é que apareceu

E como se difundiu?

O seu berço é a China

Ou alguém lhe construiu?

Fale, organismo nojento

Por que até o momento

Ninguém aqui descobriu?

11. O Corona reproduziu

Ali sua própria matriz

Dirigindo se ao mundo

Pode baixar o nariz

Você ofende a terra

Tenta ocultar a cicatriz

Engana a humanidade

Que aspira ser feliz

E não me venha com essa

Você sabe e não confessa

Onde está minha raiz

12. O mundo disse não fiz

Nada do que me atribui

Desconheço a sua origem

E como você se evolui

Talvez seja um castigo

Que Deus do céu distribui

O culpado não sou eu

Irresponsável não fui

Não tenho que esclarecer

Porque não tem nada a ver

A poluição não influi

13. O Corona que possui

O poder da mutação

Virou para o mundo e disse

Você é a contradição

Promete a felicidade

E causa a destruição

Envenena o ar e a água

Contamina todo o chão

Surgem vírus e bactérias

Doenças e outras misérias

Quase que sem solução

14. Sem muita convicção

O mundo tentou explicar

Que proporciona a todos

O econômico bem estar

E a existência da pobreza

Ninguém consegue evitar

Os impactos ambientais

Existem em qualquer lugar

Riqueza requer sacrifícios

Merece os seus benefícios

Somente quem trabalhar

15. Se multiplicando no ar

As réplicas do vírus falaram

Mundo você é maluco

Seus malefícios provaram

Investiram contra o campo

Na cidade amontoaram

Milhões de seres humanos

Que na miséria ficaram

Favelas, guetos e rincões

Lá em cima os aviões

Daqueles que os segregaram

16. Seus ataques acertaram

A base da minha estrutura

Disse o mundo ao Corona

Com as duas mãos na cintura

Você causa desespero

E bagunça a conjuntura

Meu prestígio está em jogo

Já prevejo a ruptura

Da minha onipotência

Mas confio na ciência

Que encontraremos a cura

17. É um choque na cultura

Na civilização também

O vírus disse ao mundo

Com ameaça e desdém

Você vai se ver comigo

E há um outro porém

Sou um vírus democrático

Não discrimino ninguém

Qualquer classe é bem vinda

Todos estão na berlinda

Viajando no mesmo trem

18. Você me fez de refém

Disse o mundo a tremer

Vírus você é uma desgraça

Que veio me surpreender

Micro-organismo invisível

Quem lhe deu este poder?

As bolsas se desabaram

Riquezas vão derreter

O dólar está disparado

Já pedi socorro ao Estado

Para tentar lhe conter

19. O pior vai acontecer

Falou o micro-organismo

Vim quebrar o paradigma

Sua ganância e egoísmo

A humanidade terá

Um choque de realismo

Vou abalar a estrutura

Do próprio cristianismo

Mundo você já perdeu

Porque negou e esqueceu

Os valores do humanismo

20. Estou à beira do abismo

Explicou o mundo aflito

Jamais pensei ser vencido

Por algum vírus maldito

Sempre me considerei

Auto suficiente e benquisto

Você me quebrou no meio

Reconheço e admito

Ou o Estado me socorre

Ou o meu projeto morre

Por causa do seu veredito

21. Pensou que fosse infinito

O seu projeto maluco

Mas ele está esgotado

Ultrapassado e caduco

O vírus acusou o mundo

De reprodutor eunuco

Aquele touro valente

Porém castrado e cumbuco

Fracassou na artimanha

Tal qual aquela montanha

Que se degenera em suco

22. Me sinto um falcão suruco

Que se despencou do pico

Fraturei as duas asas

E ainda perdi o bico

Quanta ousadia de um vírus

Peitar a mim que sou rico

Mas fui pego de surpresa

E agora, como fico?

O mundo falou nervoso

Você, Corona maldoso

É mais rápido que fuxico

23. Sou forte e me multiplico

Como ninguém imagina

Meu nome é Coronavírus

De tendência assassina

Tenho o formato de coroa

Espessura ultra fina

Vou obriga-lo a parar

Para uma auto faxina

Irei atacar multidões

E você gastará trilhões

Até desenvolver a vacina

24. O mundo cuspiu resina

Resmungou e fez careta

Dirigiu-se ao Corona

Coçando a costeleta

Com a ajuda de um assessor

Exibiu uma prancheta

Micro-organismo abusado

Você quebrou a etiqueta

Colocou em risco a Terra

Mas agora será guerra

Para salvar o planeta

25. Você anda de lambreta

Atrasado e devagar

Viajo de supersônico

Quero ver me alcançar

Contará milhões de mortos

Cemitérios vão lotar

Sou Coronavírus mutante

Minha natureza é mudar

Causo pânico e histeria

Interdito a economia

E faço a Terra parar

26. O mundo quis se disfarçar

Falou com a voz embargada

Percebo que a minha doutrina

Está sendo questionada

Do que me adianta o luxo

Se a Terra está parada

A agricultura e comércio

E até a indústria avançada

Nunca vi tamanha pena

O planeta em quarentena

A humanidade isolada

27. Corona deu uma risada

De deboche e ironia

E dirigiu-se ao mundo

Sem nenhuma cortesia

O advertiu com dureza

Muito tenso o mundo ouvia

Vê se leva mais a sério

Esta minha pandemia

Irei infectar animais

Há tempo emito os sinais

Mas você nunca ouvia

28. O mundo se contorcia

Do soco que recebeu

Era nítido o desespero

Estampado no rosto seu

Falou ao Coronavírus

A natureza se enfureceu

Com o meu comportamento

Você então resolveu

Atacar a humanidade

Com pavor e mortandade

Pois ela se corrompeu

29. O Corona respondeu

Seus sucessos são atoas

Para impressionar os tolos

Faz algumas coisas “boas”

E oculta as próprias garras

Como fazem as leoas

Em nome da economia

Suga o sangue das pessoas

Mas cheguei para mostrar

Você terá que lidar

Com um turbilhão de coroas

30. Corona citou umas loas

Que o próprio mundo fez

Provérbios capitalistas

Repetiu mais de uma vez

O mundo ficou confuso

No labirinto do xadrez

O vírus lhe questionou

Com viródica rispidez

Por que pousou de inocente

Ao passo que muita gente

Mergulha-se na escassez?

31. Foi falta de lucidez

Disse o mundo resignado

A fortuna sempre deixa

Qualquer um entusiasmado

Lhe confesso que não fiz

Uma análise com cuidado

Defendi de unhas e dentes

A economia de mercado

No meu código liberal

Tudo que for estatal

Deve ser privatizado

32. O vírus repetiu o recado

E ainda acrescentou

Oh capitalismo selvagem

Quantos danos já causou

Você não é inocente

E a natureza se cansou

Hoje na minha presença

Sem argumentos ficou

Depois que destrói e apronta

Assume que não dá conta

E do Estado se lembrou

33. O mundo se esquivou

E deu o braço a torcer

Você é um vírus potente

Difícil de se combater

Sem a força do Estado

Toda a gente irá morrer

Fui contra o serviço público

Mas devo reconhecer

Que ele é indispensável

Ao rico e ao miserável

Como todos podem ver

34. Corona então quis saber

E ao mundo se dirigiu

Será que você realmente

Desta vez se redimiu?

Porque pelo seu histórico

Em momento algum se viu

Você pensar nas pessoas

Sempre enganou e mentiu

Pensa apenas no mercado

Mas sempre sugou o Estado

Quando o sistema faliu

35. O mundo escarrou e cuspiu

Visivelmente assustado

Chamou o seu assessor

Que é o próprio mercado

Lhe revelou bem baixinho

Estou muito preocupado

Quando cheguei ao debate

Eu não estava gripado

O vírus é mais que ameaça

Tomara que esta desgraça

Não tenha me infectado

36. Corona olhou de lado

E soltou outro torpedo

Bem no estômago do mundo

Que arrotou ar azedo

O vírus lhe advertiu

É bom que esteja com medo

Se fosse esperto teria

Percebido bem mais cedo

Que sou micro e invisível

Forte, rápido e terrível

E lhe pus neste enredo

37. Odeio este seu segredo

Disse o mundo ressentido

Corona você me acertou

Confesso que fui atingido

Vou convocar os governos

Deste ou daquele partido

Vamos lhe declarar guerra

Você será combatido

Serão rios de dinheiro

Porém o planeta inteiro

Na luta estará unido

38. O vírus falou: querido

Em forma de gozação

Mundo, você está perdido

Não vejo tanta união

Há países decretando

Quarentena e prevenção

Mas existe um tal Brasil

Onde reina a confusão

Porque a tal excelência

Não considera a ciência

E ameaça a população

39. O mundo ergueu a mão

Demonstrou solicitude

E disse ao Coronavírus

Há pessoas sem virtude

Tomara o tal governante

Reveja a sua atitude

E invista o que puder

No sistema de saúde

Você não tem piedade

Quem nega a realidade

Além de maldoso é rude

40. Mato os velhos e a juventude

Quem eu topar pela frente

Meu nome é Coronavírus

Me espalho rapidamente

Pelos olhos e pela boca

Pelo nariz principalmente

Qualquer lugar me acomoda

Contamino o ambiente

Não escolho classe ou cor

Levo logo o portador

De doença pré-existente

41. O mundo imediatamente

Acionou o pisca-alerta

E disse ao Coronavírus

Tanta coisa que não presta

Já sou muito questionado

Por filósofo e até poeta

Não quero responsabilidade

E agora só me resta

Transferir para o Estado

Porque não estou preparado

Para uma coisa desta

42. O vírus franziu a testa

Reforçou as acusações

Mundo você é uma vítima

Das próprias contradições

Lhe faço neste momento

Outras admoestações

Em cada gota de saliva

Estou presente aos milhões

Tão simples o meu contágio

E este é o primeiro estágio

De outras contaminações

43. Ao ouvir as revelações

O mundo entrou em pânico

Reclamou desesperado

Este vírus é satânico

Vou acionar minha sirene

Um alarme transoceânico

Aviso intercontinental

Do Pacífico ao Atlântico

Para que os governantes

Se organizem o quanto antes

Que o Corona é tirânico

44. Tenho um ímpeto vulcânico

Em velocidade e perigo

Se prepare mundo louco

Você vai se ver comigo

Infectarei multidões

Não sou o divino castigo

Sou a voz da natureza

Ouça bem o que lhe digo

Sem essa de Satanás

Volte os olhos para trás

Você é o maior inimigo

45. Como um tiro no umbigo

Que provoca hemorragia

O mundo sentiu o impacto

Da viródica pandemia

Pediu trégua ao Corona

Mas Corona não ouvia

E o mundo preocupado

Muito mais com a economia

Negou que despreza a vida

Disse que não há saída

Sem ciência e tecnologia

46. O vírus se reproduzia

Para os lados e para o chão

De novo indagou ao mundo

Cadê a sua presunção?

E os seus filhos bastardos

Que adoram a ostentação?

Escondem atrás de máscaras

E com álcool em gel na mão?

Podem até ter capitais

Mas para mim são iguais

A quem não tem um tostão

47. O mundo chorou em vão

Com certo arrependimento

Pensativo e cabisbaixo

Solicitou um assento

Mas permaneceu sentado

Apenas por um momento

Ao retomar a palavra

Falou meio sem alento

Que a prevenção do Corona

Não se faz com dipirona

Mas com água e isolamento

48. O vírus ouviu atento

E respondeu com firmeza

Agora você decidiu

Usar parte da riqueza

Para tentar me conter

Mas não tem muita certeza

Vai decretar quarentena

Por receio ou esperteza

Você age tardiamente

Já assassinei tanta gente

Aprofundou-se a pobreza

49. O mundo sentiu fraqueza

Não conseguia falar mais

Fez em rápidas palavras

As considerações finais

Com o semblante abatido

Sem dinâmicas corporais

Fez menções elogiosas

Aos donos dos capitais

Desta forma concluiu

Se desculpou e saiu

À procura de hospitais

50. O vírus sujou os quintais

Dos palácios e das mansões

Pôs a faca na garganta

Da classe dos tubarões

E prossegue incontrolável

Com novas contaminações

Emparedou o liberalismo

Com profundas indagações

A tormenta vai passar

E que todos possam tirar

Duradoras e boas lições

51. São essas as conclusões

Sobre o tema refletido

A simulação de um duelo

Pelo cordel traduzido

É óbvio que o capitalismo

Desta vez não foi vencido

Oportunista e maldoso

E se faz de comovido

O catecismo do mercado

Está sendo questionado

Pelo Corona temido

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 06/04/2020
Reeditado em 08/04/2020
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