CAUTELA E CALDO DE GALINHA ( meu diário na quarentena)

Estou em casa isolado

Tem hora que fico mudo

Mas tem o seu lado bom

Pois tenho tempo pra tudo

Até o cano trincado

Que eu devia concertar

Eu já colei com durepoxi

E já parou de pingar

Meu carro está na garagem

Cheiroso e até polido

Hoje não serve pra nada

E um elefante colorido

Então ligo a televisão

Para tentar me distrair

Só se fala em pandemia

Que o pior está por vir

Acabou o pão e o leite

La vou eu pra padaria

Mas acabou o estoque

Só vai chegar no outro dia

Volto e entro no meu quarto

E ligo a televisão

E la está o apresentador

Com novos dados na mão

E vou pro computador

E la uma youtuber franzina

Que esperançosa me fala

Sobre a nova cloroquina

Esperançoso eu publico

Na minha rede social

Mas me puxam a orelha

Dizem que sou um animal

Que é falsa esperança

Que estou levando ao povo

Então fico aborrecido

Volto pra cama de novo

Com educação respondo

Para a ilustre pessoa

Que só tenho o objetivo

De passar notícia boa

Quero ver notícia boa

Logo vejo o presidente

Xingando os jornalistas

Com seu jeito impertinente

Agora chega meu neto

Mantenho certa distância

Pode estar infectado

Dá mais fraco na infância

Hoje estou preocupado

Em baixar a diabete

Achei algo pra fazer

Resolvi afiar gilete

Com cadarços de sapato

Que encontrei nos varais

Estou fazendo armadilhas

Para rolinhas e pardais

Em tempos de pandemia

Quando o frango acabar

Temos que ter proteínas

Pra quando o pior chegar

Minha tevê das antigas

Que ja não ligava mais

Coloco Bombril na antena

Já alcancei vários canais

O pó de café passado

Bebido anteriormente

Junto com o coador melita

Que é usado novamente

Os restos de sabonetes

São moídos e misturados

Pra depois voltar novinhos

Colorido e perfumados

Quando isso terminar

E eu tiver sobrevivido

Virei um profissional

Pois muito tenho aprendido

E assim vamos passando

A quarentena forçada

Ouvindo as autoridades

Que não se entendem por nada

A briga pelo poder

Já está escancarada

Um grupo tem uma visão

Quer quarentena fechada

Outro manda trabalhar

Pra aquecer a economia

O povo está implorando

Pelo fim dessa anarquia

Eu também estou confuso

Não sei qual é o caminho

Pois não sou economista

Estou recluso no ninho

Metade quer trabalhar

E a outra metade não

Metade prega o problema

Outra metade a solução

Mas uma coisa é certa

Depois dassa pandemia

O sistema de saúde

Vai ter grande melhoria

Vai sobrar muitas UTIs

Não irá faltar mais leitos

Resultado da pandemia

Com sua causa e efeito

Até o médico iniciante

Não terá tempo pra falha

Ficará especializado

Nessa frente de batalha

Eu acredito em mandetta

Esse passa seriedade

É um profissional sério

Que fala com autoridade

Por isso na minha opinião

A quarentena se mantem

Cautela a caldo de galinha

Não fazem mal a ninguém

FIM

Pedrão Cordelista
Enviado por Pedrão Cordelista em 30/03/2020
Reeditado em 02/04/2020
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