A APOSTA MACABRA

Olhei bem sério e falei:

-Esta aposta eu aceitei,

Então não vou recuar,

E no portão eu vou entrar.

Olhei bem para a entrada,

Pensei na minha amada,

parecia madrugada,

A lua estava brilhante,

Ajudando o viajante,

Que aceitou a empreitada.

A aposta era pesada,

Não há mais o que fazer,

No cemitério eu estava,

Será que eu vou ter coragem?

Não dá mais pra recuar,

O jeito é mesmo rezar.

Rezar pra que não apareça,

Um bicho de sete cabeças,

Que esta aposta eu mereça,

E que tudo em paz aconteça.

Faltavam dez pra meia noite,

O silêncio era um açoite,

Com medo eu não estava,

Pra mim mesmo eu falava.

Será que eu vou conseguir,

Daqui entrar e sair?

No cemitério eu estou,

Olhando de lado eu vou,

Chegar até no cruzeiro,

Roubar um osso inteiro,

Ai me Deus que desespero!

Minhas pernas estão tremendo,

Se aparecer pra mim,

Um bicho ou então um saci?

Nem bem assim eu pensei,

Quando lá no fundo eu avistei,

Olhei pra aquela figura,

Que surgia de uma sepultura.

Parei e fiquei olhando,

Na minha direção veio andando,

Não sei bem o que senti,

Mas de vara verde eu tremi.

Tremi por estar olhando,

Uma caveira andando,

Logo eu que não acreditava,

E dos mais velhos zombava...

Estava diante de mim,

Foi então que percebi,

Roguei por Nossa Senhora,

Minha mãe, cuida de mim!...

A figura em ossada,

Permaneceu um tempo calada,

A caveira então falou:

-Você sabe quem eu sou?

De que forma responder,

Se eu estava mesmo a tremer,

Diante daquele ser,

Eu pensei: Eu vou morrer!

Mais uma vez ela falou:

-Preste atenção por favor!

-Você aqui está,

É querendo blasfemar,

Entrou no cemitério,

Não levou a morte a sério,

E veio aqui roubar!

-Uma chance vamos lhe dar,

Pelo mesmo caminho voltar,

-Eu fui o velho coveiro,

Do cemitério inteiro,

Assim que você entrou,

-Percebi pelo seu cheiro,

Seu grande embusteiro

Que está aqui por dinheiro!

-Vai embora seu arteiro,

Pois eu chamo o açougueiro,

Que também é meu companheiro,

-E você vai perceber,

Que nós temos o poder,

De lhe fazer crê,

E a morte conhecer!

Naquele momento em diante,

Pra aquela caveira falante,

Virei de costas em um instante!

Não sei como consegui,

Mas a ladeira desci,

De forma tão apressada,

A minha calça rasgada,

A minha cueca melada,

Eu tropecei na escada,

Eu já não via mais nada!

Do cemitério eu sai,

Foi então que eu percebi,

Que até os sapatos perdi!

Quando em casa eu cheguei,

Um terço inteiro rezei,

E nunca mais abusei,

Nem tão pouco duvidei!

Da morte agora eu sei,

Que devemos ter respeito,

E este é o único jeito,

De fazermos a coisa certa,

Pense bem, não caia nessa,

Até hoje pago promessa,

Pra morte tão cedo eu não vê,

É dureza, pode crer!

E do fundo do meu ser,

Se essas linhas você ler,

Irá então perceber,

Que este tipo de aposta,

Não vale apena vencer!

CORDEL,DO LIVRO: POESIAS DE UM SONHO.

Carlos Mambucaba