O JUMENTO
CLUBE DO REPENTE (30/03/2017)
Galope Beira Mar
Assunto: O JUMENTO
Heleno Alexandre (Sapé-PB) & Acrízio de França (Paulista-PB)
Acrízio
Jumento é transporte para ser humano,
Tanto faz escuro como ser cardão,
Uns chamam de jegue outros de gangão,
Carregou o filho de Deus "Soberano"
Carrega a origem do chão africano,
Cruzou o seu sangue em outro lugar,
Ninguém loca um jegue para passear,
Botando cangalha esteira e cambito,
Orelha é a seta o fundo um apito,
Nos dez de galope na beira do mar
Heleno
Apesar de feio jumento é bendito
Por tudo que faz pela dor que sente
Segundo Gonzaga é irmão da gente
Para ser sincero também acredito
Carregou Jesus quando pequenito
Sabe dar as horas em qualquer lugar
Mas sinto que hoje querem lhe negar
Símbolo do Sertão, força Nordestina
Está sendo agora levado pra China
Nos dez de galope da beira do mar
Acrízio
Jumento ele pasta em qualquer campina,
Que seja na broca ou em capoeira,
Carrega caçamba feita de madeira,
Trabalhar direto é sua rotina,
Passa em cruzamento com raça eqüina,
Inteiro ou castrado como desejar,
Transporta ancoreta sem nada cobrar,
A cabeça tem dois palmos e meio,
Somente o cabresto lhe serve de freio,
Nos dez de galope na beira do mar
Heleno
Hoje ninguém quer mais dar um passeio
Em lombo de um jegue mesmo bem selado
Mas foi o transporte melhor no passado
Baixinho e ligeiro não tinha aperreio
Hoje em rodovias solto pelo meio
Sendo atropelado fazendo aumentar
Número de acidentes se eu for comparar
Mortes nas estradas por esse ou aquele
Uns quinze por cento são por causa dele
Nos dez de galope da beira do mar
Acrízio
De muitos transportes o jegue é aquele,
Que tem crinas curtas e orelhas cumpridas,
A calda pequena pernas definidas,
Mesmo assim eu ando me montando nele,
Porque eu também sempre uso ele,
Toda porcaria que você pensar,
Colocam num jegue pro jegue levar,
A vida de jegue pra jegue é assim,
Mais jegue é quem pensa que jegue é ruim,
Nos dez de galope na beira do mar
Heleno
O Jegue é sagrado e ninguém diga a mim
Que é referência pra o mal instruído
Eu assino em baixo que ele é sabido
De tudo ele come não tendo capim
Quando a vida dele vai chegando ao fim
Seu dono com pena resolve soltar
Não compra remédios para lhe curar
E como desculpa diz que ninguém vende
Não vendo que Deus também se ofende
Nos dez de galope da beira do mar
Acrízio
Milho na mochila pra ele não rende,
Se for numa tina é muito pior,
Mas numa bacia é muito melhor,
Quem nunca foi dono sendo dono aprende,
Pra sair da raça quem sabe entende,
Um jegue com égua vai burro tirar,
Eu não vendo jegue nem quero comprar,
Jegue foi Luiz o rei do baião,
Que disse que jegue é o nosso irmão,
Nos dez de galope na beira do mar!
Heleno
Eu sinto saudade daquele Sertão
Que eu via um jumento com dos caçuais
Hoje em dia quase não existe mais
Fazendo transporte de milho e feijão
Quando se ver isso é uma exceção
E o dono com raiva bota pra matar
Competir com maquina sem se machucar
É quase impossível pra qualquer jumento
Seu nome é marcado pelo sofrimento
Nos dez de galope da beira do mar
Acrízio
Em qualquer jumento em qualquer momento,
Posso qualquer dia botar a bagagem,
Ajeitar a carga pra fazer viagem,
Levando a bagagem e meu alimento,
Tem casco redondo e lombo cinzento,
Quem for músico mesmo poder observar,
Na hora que jegue for pra relinchar,
Pode olhar que som sai no lá maior,
Se perde na nota quem der lá menor,
Nos dez de galope na beira do mar
Heleno
Jumento merece ter um outdoor
No centro da praça e nas margens da via
Dizendo: sem esse nada existiria
Que parte de tudo foi com seu suor
Possui mais patente que cabo ou major
Foi tão importante quanto um militar
Se achar que errei pode me xingar
Mas nem no cacete nego essa verdade
E é do sertanejo a identidade
Nos dez de galope da beira do mar