A vigília tradutória
Naquela noite, o silêncio era cúmplice da soberbia da lua
que, pela exuberante beleza,
brilhava irradiante,
mostrando a sua verdadeira e inigualável nobreza.
O seu oponente tão frágil, no canto de uma mesa ligado,
incansavelmente iluminava aquela pequena tela,
tentando provar a sua mais exímia competência,
mesmo sendo a sua resplandecência a mais singela.
Acolhido em uma xícara de porcelana chinesa,
o café exalava agradável aroma e pureza.
Sabia que aos poucos iria ser consumido.
Forte, torrado e cremoso... era o estímulo preciso
ao profissional que há horas se mantinha pensativo.
Os olhos cansados, o corpo dolorido, os braços sem força,
os dedos já adormecidos.
Mas lá no fundo, por entre infinitos pensamentos,
a mente em alerta buscava o conhecimento escondido.
O trabalho era árduo, exaustivo, um desafio a ser vencido,
mas naquela batalha o tempo era o inimigo,
e ainda havia muito a ser traduzido.
Não poderia faltar um dos personagens mais marcantes:
o relógio, que teimava em brincar na incansável roda gigante.
Refletia o tempo que seguia, sem findar,
fazendo o nosso protagonista um profundo suspiro dar.
Faltavam poucas páginas, mas o sol já apontava.
A lua se despedia, seguindo para outra jornada.
E o abajur sabia que a sua luz, em segundos, seria apagada.
Muitas outras noites viriam, outros projetos surgiriam.
A lua mais uma vez se exibiria, o abajur se enalteceria.
Um novo café seria tomado.
E um tradutor estaria novamente atarefado.
Teria pela frente um longo projeto,
o dia lhe consumiria.
Mas o relógio... esse, não pararia.