O MITO DE PROMETEU
Por Gecílio Souza
01. O mito e a filosofia
Na origem são parentes
Nasceram da mesma cepa
Mas com galhos diferentes
Impactaram a sociedade
Com forças equivalentes
E a narrativa mítica
Lançou as suas sementes
Só que em certa ocasião
Ela cruzou-se com a razão
E abriram novas frentes
02. Narrativas divergentes
Do mito e da filosofia
E navegam entre os dois
O cordel e a poesia
Chegou agora o momento
Da poética parceria
Desta vez é sobre um mito
Que traduz sabedoria
Valores laicos e pagãos
Uma dupla de irmãos
Ícones da mitologia
03. De ambos a biografia
Na história se inscreveu
Filhos de Jápeto, Titã
Veja quem os concebeu
Ninfa, ou oceânide Ásia
Filha do Atlântico Egeu
Eles tinham três irmãos
O mito grego enalteceu
Conforme Diógenes Laércio
Atlas, Héspero e Menoécio
Epimeteu e Prometeu
04. Esta dupla recebeu
A divina designação
Epimeteu cuidaria
Dos assuntos da criação
Criaria todos os seres
Com atributos e dotação
A cada deficiência
Fixou a compensação
Conforme o plano original
Enquanto a análise final
Ficaria com o seu irmão
05. Grave e árdua obrigação
Para um só executor
O plano estabelecia
Que Epimeteu criador
Desse existência aos seres
Com critério moderador
Fixando uma pirâmide
De dons e não de valor
Nesta mítica hierarquia
O homem é que ficaria
Na posição superior
06. Como um bom trabalhador
Epimeteu se assumiu
Ao criar os animais
Vários dons lhes conferiu
Coragem, garras e chifres
Prontamente os distribuiu
Estatura, força e asas
E a proporção garantiu
Resistência e velocidade
Ferrão e sagacidade
Uma etapa ele concluiu
07. Tudo que se construiu
É investimento e custos
O projeto e os recursos
Nunca são absolutos
Epimeteu se deparou
Com seus dilemas ocultos
Ao concluir a tal obra
Teve frustrações e sustos
Bens escassos logo somem
Ao distribuí-los ao homem
Lhe faltaram atributos
08. Titãs são irresolutos
Guerreiros de profissão
Epimeteu descontente
Tomou uma decisão
Bem depressa foi pedir
Socorro ao seu irmão
Prometeu lhe assegurou
Breve e rápida solução
Bastante ousado às vezes
Roubou o fogo dos deuses
Voltou com a tocha na mão
09. E com determinação
Aos homens ele ofereceu
Fagulhas daquele fogo
Logo a razão se acendeu
Exclusiva à espécie humana
Somente ela a recebeu
Para suprir a defasagem
Que na origem sofreu
É a semente da ciência
Resultado da diligência
Do ousado Prometeu
10. A partir de então nasceu
O próprio conhecimento
Surge a habilidade técnica
Como útil instrumento
Para resolver as pendências
E dar outro entendimento
Sobre o mundo e a existência
Raiz do desenvolvimento
Que mudou o cenário urbano
E elevou o ser humano
Ao topo do empreendimento
11. Custou caro o atrevimento
Do astuto Prometeu
Zeus ficou muito irritado
Com o que aconteceu
Arquitetou a vingança
Como presente lhe deu
Uma esposa muito bela
Que ele se surpreendeu
A mulher era Pandora
E ela então sem demora
Enganou o marido seu
12. Pandora estabeleceu
Uma forma de trair
Ela possuía uma caixa
Veja ao que foi servir
Presente da deusa Hera
Que tratou de advertir
A caixa continha os males
Segredo é para se omitir
O conteúdo era secreto
Não deveria ser aberto
Pandora resolveu abrir
13. Então começou a sair
Todo tipo de mazelas
Angústias e zigueziras
Que ninguém sabia delas
As piores enfermidades
E respectivas sequelas
A vida virou um caos
Oh humanas esparrelas
O medo ergueu sua faixa
Pandora fechou a caixa
Já nas últimas parcelas
14. Duas lições paralelas
Que o mito nos afiança
Cheias de significados
Amor, tragédia e vingança
Pandora soltou as dores
E por último a esperança
Desde então o machismo
Ora recua, ora avança
Associa a mulher ao mal
E na avaliação final
O feminino é que dança
15. É histórica a cobrança
Que se faz contra a mulher
Pouco importa o que ela fez
Tampouco o que ela fizer
O homem tenta explorá-la
Da maneira que puder
Todo conteúdo mítico
Misógino até onde der
Como se o ser feminino
Herdasse da sorte ou destino
A dívida que lhe impuser
16. Este mito e outro qualquer
Têm suas representações
Zeus impôs a Prometeu
As mais terríveis sanções
A vingança foi feminina
Misóginas maquinações
E Zeus criou a mulher
Com a pior das intenções
Pandora trouxe as desgraças
Para aniquilarem as raças
As espécies e as gerações
17. Existem várias versões
Deste tão famoso mito
E aqui está uma síntese
Do que uma versão tem dito
Uma outra será explorada
Aqui mesmo neste escrito
Mas o sentido é o mesmo
Sobre um curioso conflito
Entre Zeus e um titã
Que rompeu com o próprio clã
Num conchavo esquisito
18. Muitas vezes um veredito
Têm aspecto pedagógico
Prometeu foi acorrentado
Como exemplo metafórico
Ele é a própria humanidade
No sentido mais simbólico
A águia é o sofrimento
Seja físico ou psicológico
O prisioneiro sacrificado
É o quadro atualizado
Do dilema antropológico
19. O episódio mitológico
É rico de ensinamento
Atiça a curiosidade
Impulsiona o pensamento
A própria narrativa mítica
Traduz o descontentamento
Referente a um contexto
Ou a um acontecimento
Assim sendo a reflexão
Será sobre outra versão
A partir deste momento
20. Para o bom entendimento
O enredo mítico não erra
Conta que na Grécia Antiga
Entre o oceano e a serra
Os titãs e os olímpicos
Viviam em constante guerra
Com a queda dos titãs
Um ciclo de luta se encerra
Novos ventos que sopraram
Os ânimos se apaziguaram
E a paz reinou na Terra
21. Quem se acomoda se ferra
E houve uma rebelião
Dos destemidos olímpicos
Prometeu prestou atenção
Na tendência do desfecho
Sem qualquer hesitação
Abandonou o próprio clã
Explicitando a traição
E persuasivo convenceu
O vacilante Epimeteu
O seu caçulinha irmão
22. Com o triunfo da opção
Foram então recompensados
Mas os seus familiares
No Tártaro eram lançados
Aos irmãos foi permitido
Viverem em paz sossegados
Zeus virou senhor da Terra
Eles, seus subordinados
Não haviam mais conflitos
Porém os vazios malditos
Atacam os desocupados
23. Ócio e tédio são malvados
E algo há de se inventar
A paz dava a impressão
Que tudo estava no lugar
Era somente aparência
Algo teimava em faltar
Prometeu, filho de Jápeto
Pegou a se entediar
Do seu ex-clã derrotado
Ele era o mais ponderado
De perspicácia singular
24. Andando em todo lugar
Prometeu se indagava
Tudo parecia completo
Mas o tédio não cessava
Era evidente e notório
Que alguma coisa faltava
Pensou em planejar algo
Não sabia o que planejava
Sentou-se lá nas colinas
Umas ideias repentinas
O seu cérebro organizava
25. E como alguém que brincava
Mas concentrado a pensar
Pegou uma porção de barro
Veja o que foi inventar
Com a água de um córrego
Misturou sem exagerar
Esculpiu uma estátua
Um inédito exemplar
Feita à imagem de um deus
Modesta e mais frágil que Zeus
Ficou espetacular
26. Foi capaz de se encantar
Com o que ele próprio criou
Daquela modesta beleza
Outra fase se iniciou
Da estátua ele fez réplicas
Assim as multiplicou
Inúmeras estatuetas
Prometeu colecionou
Esta é apenas uma versão
Da história da criação
Que Prometeu elaborou
27. Veja bem como ficou
A maior engenhosidade
Prometeu entusiasmado
Com a própria criatividade
Deu vida às estatuetas
Proeza sem paridade
Não se sabe como ele
Teve tanta habilidade
A lição do mito é rica
Numa narrativa explica
A origem da humanidade
28. Ao ganhar vitalidade
Houve uma transformação
Das próprias estatuetas
Uma lúdica coleção
O barro virou carne e osso
Isto que é evolução
Bípedes entre quadrúpedes
Profunda diferenciação
Cada réplica era melhor
Via o mundo ao seu redor
Os animais viam o chão
29. Réplicas vivas e com noção
Ainda meio perdidas
Diferentes dos quadrúpedes
Tinham as cabeças erguidas
Olhavam o céu majestoso
E as estrelas refletidas
Mas algumas sutilezas
Não podem ser esquecidas
Prometeu agiu ligeiro
Criou os homens primeiro
Estátuas desenvolvidas
30. Mas não foram produzidas
Do húmus original
As matrizes femininas
Com seu dote maternal
Elas viriam depois
Da sobra do material
Criadas em desvantagem
Porém foi proposital
As mulheres inferiores
E os homens superiores
No topo piramidal
31. E num lance genial
De seres privilegiados
Prometeu analisou
Com critérios e cuidados
Que os tais seres humanos
Embora fossem dotados
De espírito e vitalidade
Continuavam paralisados
Podiam até ver o futuro
Mas um medo obscuro
Os deixava petrificados
32. Estes dons foram doados
Pelo próprio Prometeu
O poder da profecia
Aos homes ele concedeu
Eles viam mentalmente
A morte no apogeu
E para livrá-los do medo
O Titã já resolveu
Cancelou a regalia
O tal dom da profecia
Sem hesitar suspendeu
33. Quando isto aconteceu
Regressaram à infância
E passaram a viver
Na abençoada ignorância
Porque o pavor da morte
É a pior extravagância
Serem profetas e videntes
Alguns em última instância
Com poderes especiais
Para instruir os mortais
De menor significância
34. O medo ganhou distância
E os humanos, movimento
Mas ainda lhes faltava
Um elementar complemento
Com algumas habilidades
Porém pouco entendimento
Se abrigavam em cavernas
A selva dava o sustento
Sem propósito e sem razão
Não tinham organização
E faltava conhecimento
35. Prometeu sempre atento
Sobre a obra refletia
Sentado à beira-mar
Teve mais uma ousadia
Então ensinou aos homens
Os mistérios da astronomia
Apontou para a floresta
E aos humanos instruía
Na seleção dos vegetais
A domesticar os animais
E como a terra produzia
36. O número, a letra e grafia
Conseguiram aprender
Também foram instruídos
Na arte de exercer
Algum tipo de liderança
Certa forma de poder
Costumes e convenções
Alguns modos de viver
Celebrar suas memórias
Registrar suas histórias
Pois já podiam escrever
37. Sem nada deixar de ver
Nas alturas Zeus estava
Lá no alto do Olimpo
Atento ele observava
A obra de Prometeu
Cada vez menos gostava
Por motivos obscuros
Sua irritação aumentava
A antipatia da divindade
Era contra a humanidade
Que desafiá-lo ousava
38. Porém Zeus não hesitava
Quando tinha de agir
E a obra de Prometeu
Continuava a evoluir
Zeus viu que a humanidade
Logo iria conseguir
Dominar a terra inteira
E com ele competir
Sendo ele o poderoso
Político muito ardiloso
Não tardou a intervir
39. Era necessário impedir
A humana concorrência
Para isto Zeus tomou
Imediata providência
Proibindo a Prometeu
Lhe negou a competência
De doar o fogo aos homens
Ou seria insurgência
Zeus interferiu no jogo
Pois sabia que o fogo
Simbolizava a ciência
40. Mas aquela advertência
Não abalou Prometeu
O efeito foi contrário
E ele se arrependeu
Daquele convicto apoio
Que aos olímpicos deu
Zeus estava lhe traindo
Então o desobedeceu
Reestruturou os planos
Para tornar os humanos
O que a divindade temeu
41. Veja só o que aconteceu
Numa certa madrugada
Sorrateiramente o titã
Fez uma ação arriscada
Subiu até o Olimpo
No topo fez uma parada
Até que Hélios, deus do sol
Numa carruagem inflamada
Incandescente apareceu
E Prometeu acendeu
A tocha mais cobiçada
42. Depois da ação ousada
Desafiadora dos medos
Retornando para a Terra
Ele desceu os rochedos
Com aquela tocha na mão
Pairou sobre os arvoredos
Esta narrativa mítica
É o mais belo dos enredos
Tornou os homens racionais
Capazes de moldar os metais
Desvendarem os segredos
43. É a técnica entre os dedos
Um feito extraordinário
Os homens se evoluíram
De um contexto precário
Construíram utensílios
Para o seu uso diário
O fogo transformou tudo
A ordem virou ao contrário
Nasceu o conhecimento
E este acontecimento
Foi o mais revolucionário
44. Alterou-se o cenário
Depois daquela aventura
Fabricaram ferramentas
Criaram outra conjuntura
Domesticaram animais
Inventaram a agricultura
Dissuadiram as feras
Iluminando a noite escura
Cozeram caças e legumes
Instituíram os costumes
É o começo da cultura
45. Resultado da bravura
De um titã com ideais
Prometeu enganou Zeus
Driblou as ordens reais
Um dom dado aos humanos
Não deu aos outros animais
A faculdade da razão
Que os tornou racionais
Quando ele pisou no chão
Com a tocha de fogo na mão
Houve festa entre os mortais
46. Os festejos foram tais
Que a escuridão se afastou
Grandes fogueiras acesas
E a humanidade dançou
Em torno dos fogaréus
O fogo se multiplicou
Nos montes e nas colinas
Tudo ali se iluminou
Do seu trono nas alturas
Zeus mirava as criaturas
E as chamas observou
47. Sua irritação dobrou
Com tamanho desacato
Os seus olhos vingativos
Viram tudo lá do alto
Jurou de fazer vingança
Contra o rebelde ingrato
Dirigiu-se a Prometeu
Fez o mais duro relato
A sua insubordinação
Vai ter juros e correção
Seus filhos pagarão o pato
48. Você está feliz de fato
Por haver me enganado
É astuto além da conta
Jamais será perdoado
E terá como vingança
Sofrimento continuado
Enviarei grande praga
O mundo vai ser afetado
Punirei a humanidade
Com o rigor da divindade
A dor será o resultado
49. Titã rebelde e ousado
Ouça a minha decisão
A dívida de sua ousadia
Terá longa duração
Irei cobrar dos humanos
O preço da ingratidão
Porque em troca do fogo
Enviarei uma maldição
Irão receber cantando
Mas estarão abraçando
A própria destruição
50. Maliciosa a punição
Fruto da ordem divina
A mais terrível vingança
Veio em forma feminina
Criaram a primeira mulher
Linda como a bailarina
E a enviaram aos homens
Para arruinar sua sina
Uma bonita senhora
Cujo nome era Pandora
Do semblante de menina
51. A mulher bela e ladina
Com aquele estilo amigo
O poder se fez mulher
Para disfarçar o castigo
Discretamente levava
Uma caixinha consigo
Cheia de todos os males
Típico símbolo do perigo
Todo tipo de maldade
O alvo era a humanidade
O mais temível inimigo
52. E Zeus lá do seu abrigo
À distância acompanhando
Viu Pandora abrir a caixa
Pouco a pouco liberando
Diversos tipos de males
E outros tantos sobrando
Várias espécies de insetos
Dores se multiplicando
Constam das enciclopédias
Enfermidades e tragédias
Pela Terra se espalhando
53. Estava apenas começando
A vingança mais brutal
Zeus exibiu do seu trono
Um ódio desproporcional
Porque os homens usavam
De maneira trivial
As artes de Prometeu
Contra o rei celestial
A raiva de Zeus crescia
Convocou CRATOS e BIA
Dupla força colossal
54. O mitológico casal
Agiu sem condescender
BIA quer dizer violência
Que Zeus ordenou descer
CRATOS é mais que força
Personifica o poder
Fiéis guardas do Olimpo
A tudo podiam deter
Dois personagens alados
Foram então designados
Para Prometeu sofrer
55. Os capangas tinham a ver
Com a divina conspiração
Aprisionaram Prometeu
Na mais terrível prisão
Pediram ajuda a Hefesto
Ferreiro de profissão
No alto do monte Cáucaso
Insalubre e fria região
Ali o acorrentaram
Na Cítia o abandonaram
Sofrendo a tal punição
56. A olímpica retaliação
Foi severa e tirana
Zeus estava irritado
Numa ciumeira insana
Parece que a divindade
Tinha uma inveja mundana
Sua sanha punitiva
Vingar sem bater a pestana
Sua pestana não bateu
Ele puniu Prometeu
Benfeitor da raça humana
57. Sete dias por semana
Assim que o sol despontava
Por detrás daqueles montes
Quando o dia começava
Nos penhascos pontiagudos
Uma sombra turva pairava
Com aquelas longas asas
Que a terra se abalava
Enorme águia faminta
Monstruosa e distinta
Sobre Prometeu pousava
58. E no corpo nu cravava
O bico curvo e afiado
As longas e fortes garras
Contra o titã acorrentado
Rasgaram as suas vísceras
Deixando-o debilitado
Sangue e carne a céu aberto
Expostos por todo lado
A águia era insaciável
E o fígado do miserável
Aos poucos era devorado
59. O tal pássaro esfamiado
Monstro que não se sacia
Dilacerava Prometeu
Mas pouca coisa comia
Porque era mais maldoso
Somente durante o dia
E sempre ao pôr do sol
A águia desaparecia
Suspendendo os acoites
Então ao longo das noites
O fígado se reconstituía
60. Eis que Prometeu sofria
Um castigo desgraçado
Lá no alto do rochedo
Preso e ensanguentado
Exposto ao vento e à neve
Com o corpo estrangulado
À noite regenerava-se
O fígado estraçalhado
Porém na manhã seguinte
Repetia-se o requinte
O suplício era renovado
61. Visionário maltratado
No ser e na dignidade
Prometeu já lamentava
A própria infelicidade
Dizia: “Como sou miserável”
Perdi toda a habilidade
Eu que inventei tantas artes
Para o bem da humanidade
Sem força para lutar
Não posso me libertar
Me falta a capacidade
62. Só me resta a vontade
É humano o meu lamento
Não consigo superar
Tão terrível sofrimento
A pesar do sacrifício
Debaixo de neve e vento
Jamais me desculparei
Não tenho arrependimento
Meu total desprezo a Zeus
E a todos os capangas seus
Que temem o conhecimento
63. O senhor do firmamento
Tomara que não se iluda
Por mais que me aprisione
Meu projeto jamais muda
Tenho um segredo terrível
Sobre uma trama absurda
Sei quem irá derrubar Zeus
Que ao seu trono se gruda
Ao perceber que vai cair
A mim virá se dirigir
Implorando a minha ajuda
64. Será um Deus-nos-acuda
Uma olímpica confusão
E sei quem está destinado
A fazer a intervenção
Para tirar Zeus do trono
E arremessa-lo ao chão
Mas eu e somente eu
Tenho esta informação
Porém só irei revelar
Quando meu suplício acabar
Não troco de opinião
65. Zeus prestava atenção
Lá do Olimpo escutou
Cada uma das ofensas
Que seu prisioneiro lançou
Mas Zeus que nunca foi tolo
Fez uma pausa e pensou
Com a pulga atrás da orelha
Cauteloso se controlou
O divino tremeu as bases
Após analisar as frases
Que seu prisioneiro falou
66. E Zeus então ordenou
Não por dó ou piedade
Que o maior herói grego
Obedecesse sua vontade
E soltasse Prometeu
Com a máxima celeridade
Héracles acatou a ordem
E agiu com prioridade
Zeus virou negociador
Pois mais fortes que o rancor
São o medo e a curiosidade
67. Não quer dizer que a maldade
Do nada deixa de existir
Certa manhã a tal águia
Faminta a se dirigir
Ao corpo de Prometeu
Mas uma flecha a zunir
No espaço do penhasco
Para à águia atingir
A flechada lhe acertou
E o pássaro da dor tombou
Sobre o rochedo foi cair
68. Héracles pôde cumprir
A ordem da divindade
Mãos forjadas por Hefesto
Romperam a maldita grade
Após trinta anos de pena
Sofrimento em quantidade
Héracles estendeu a mão
O Sol com sua claridade
No Cáucaso se acendeu
E finalmente Prometeu
Conquistou a liberdade
69. O mito é uma oportunidade
Excelente ocasião
De as pessoas refletirem
Sobre a própria condição
O saber faz a diferença
Em qualquer ocasião
Contextualizar o mito
Também é educação
Que leva ao conhecimento
E o contexto do momento
Nos convoca à reflexão
70. Veemente convocação
Sem alarme ou histeria
Não se reverte uma crise
Com fanatismo ou magia
As crenças não são remédio
Nem melhoram a economia
O bom senso faz um apelo
Como há muito não se via
O mundo enxuga o pranto
Pois nunca precisou tanto
De ciência e tecnologia
G. S.