A ÚNICA COISA “BOA” DA MORTE TALVEZ SEJA A SUA DEMOCRACIA.
POR JOEL MARINHO
A morte anda a espreita
Sempre a lutar contra a vida
Só precisa de um vacilo
Para a nossa despedida
Como víbora sorrateira
Vive passando a rasteira
Essa cretina bandida.
 
Pra morrer basta está vivo
Isso muitos tem falado
Já virou até jargão
Decerto não está errado
Pois a maldita da morte
Às vezes chega mais forte
Com o seu jeito malvado.
 
Com aquela “foice” maldita
Não respeita a ninguém
Idosos, crianças, adultos,
Leva todos para o além
Não adianta implorar
Quando ela vem pra levar
Leva você e eu também.
 
Não adianta gritar
Dizendo eu sou pastor,
Eu sou padre ou artista
Presidente ou governador
Mendigo, rico ou pobre,
Ou ter o sangue de nobre,
Pedreiro ou professor.
 
Por isso eu tenho por ela
Um fio de admiração
Por sua democracia
Com ela não tem perdão
Até Cristo ela levou
Nem a Ele respeitou
Deixando-nos essa lição.
 
Tirando esse lado dela
Nada mais posso gostar
Nos tira a maior riqueza
A vida que “Deus” nos dá
Com sua foice na mão
Desfaz essa perfeição
Do viver e do pensar.
 
Por isso não a exalto
E quero é distância dela
Espero que ela me esqueça
Já vou fechar a janela
Pra me esconder da danada
Que fica na encruzilhada
Essa filha de cadela.
 
Sei que um dia ela virá
Mas que seja bem distante
Que a vida me presenteie
Com seu jeito deslumbrante
E quando a morte me buscar
Me leve sem vacilar
Pra não sofrer ofegante.
 
Mas como Raul dizia
Talvez o maior segredo
Esteja na dita morte
Mesmo assim ela traz medo
Por isso quero distância
Não quero viver com ânsia
E viver nesse degredo.
 
Então antes que ela venha
Vou deixar ao meu leitor
Um recadinho amigo
Dê a vida muito valor
A dádiva que recebeu
Que dizemos ser de “Deus”
Dê paz, carinho e amor.
 
Trabalhe e ganhe dinheiro
Mas sem muito acumular
Quem acumula riqueza
E não tem tempo de usar
Um dia a maldita morte
Dar-te-á um passaporte
Tua grana outro vai usar.
 
Gaste com um bom passeio
Conheça outros lugares
Ande de carro e avião
Cruzem de navio os mares
Coma num bom restaurante
Pois a vida num instante
Vira fumaça nos ares.
 
Enfim, viva intensamente,
Construa um grande legado
Deixe a quem o conhecer
Saudades de um ser amado
Pois não há maior herança
Que deixar a confiança
Ao futuro do passado.
 
Com esse grande conselho
Despeço-me do meu leitor
Sei que não passam de trinta
Mas por todos tenho amor
Se eu morrer e for para o céu
Quero escrever cordel
Com as bênçãos do “Senhor”.
*FIM*