ARACI DE CARVALHO A HEROÍNA DESCONHECIDA

A memória de nosso povo

Sempre foi muito curta

E nossos grandes vultos

A esquerda sempre furta

Se aqui surge um homem

Fica louca, mente e surta.

Com ajuda da imprensa

Também de historiadores

A história é omitida

Encobrindo seus horrores.

Tráfico, assassinatos

Por aqui se dá louvores.

Faz filme para o Molusco

Maringhela, Zé Dirceu,

Mas esquecem quem deu a vida

Pra salvar a de judeu,

Grande Araci Carvalho,

O mundo reconheceu

Dando-lhe nome de museu,

De ruas em Jerusalém,

“Como justa entre nações”

Reconhecida também

Mas a grande brasileira

Por aqui não é ninguém.

O trabalho da heroína

Realizado em Hamburgo

Na época do nazismo

E de seus grandes expurgos

Que transformava os povos

Em sub-raças ou liturgos

Desobedeceu as ordens

Contrariando a Getúlio,

Que no Brasil quis ser deus

Considerando-se Júlio,

Mas com muita coragem

Deu passaporte e pecúlio

Pra judeu poder fugir

Do holocausto nazista

Dos campos de concentração

Do massacre comunista

Ela enfrentou Hitler

E regime getulista.

Seu trabalho não deu enredo

Para as escolas de samba

Por elas não considerada

Como uma pessoa bamba

Pois pra escolas só presta

Quem é bandido pra caramba.

Tudo que é depravado

É mostrado pela Globo

Homenagem por escolas

Elogiado por Lobos

E atacado por suínos

Que querem nos fazer de bobos

Um povo trabalhador

Forte como um Carvalho

Que todo dia é passado

No azeite, na casca do alho

E ninguém no seu pescoço

Vai colocar um chocalho.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, MARÇO/2020