Não morreu "ninguém"
80 tiros disparados
Para vergonha da nação
Com o aval do Estado
Mais sangue negro derramado
E não causa comoção
Mas quem atirou não era bandido
Ou assassino de milícia
Quem atirou estava de Estado vestido
Fardado, bem munido
Fazendo papel de polícia
É impossível aceitar
Tanta morte por engano
Essa licença para matar
Sem distinção atirar
É no mínimo algo insano
Mas era só um negro e um catador
Para que lamentação?
Se fosse um embaixador
Ou talvez fosse um doutor
Ou outro ilustre cidadão
As lágrimas que foram vertidas
Foram a troco de nada
Pois essas vidas perdidas
São apenas duas vidas
Ante a grandeza da força armada
Assim falou o "mito" presidente
Não morreu ninguém
Mas como ele é um demente
Um demônio, nem é gente
O que é dele um dia vem
Mas me digam por favor
O que podíamos esperar
De quem defende estuprador
Assassino torturador
Que não sabe governar
Na minha pátria outrora amada
Cada um vale o que tem
Os mortos com a rajada
Pela covardia da força armada
Para o presidente não era ninguém