Nanda e as admoestações de Frei Dimão (republicação)

Vou confessar-lhe, Frei Dimão,

E espero a absolvição:

Entreguei-me à tentação

Mas só namorei no portão.

É coisa até tolerada

o tal namoro de portão

no entanto estás condenada

se tocaste no freio de mão...

Se soubesse que a penitência

Ia ser tão braba assim

Dava fim à abstinência

E completaria o festim!

O rigor da penitência

é pra no pecado por fim

mas terias plena indulgência

se só pra mim fosse o festim

O sacristão enxerido

Lembrou-me que Frei Dimão

É todo comprometido

Co`a santa religião.

Já peguei aquele enxerido

bem com a boca na botija

pois em matéria de cupido

ao ver fêmea ele se mija

Cê que tem autoridade

Não maltrate o sacristão

Tenha dele piedade

Se o encontrar no portão.

Esse sacristâo, eu não sei

pois bem safado me parece

tem horas que tá muito gay

e noutras, ninguém merece

Será que ele é vira-folha?

Eu nem prestei atenção

Acho que estava zarolha

Na hora da agarração.

Esses estados não comento

por voto de castidade

mas o que ora mais lamento

é o ser eu e não ele o frade

Vô contá procê, ó frei

Que o sacristão é bonzim

Se é bonito eu não sei

O portão tava escurim.

Só merece reprovação

ir por essa via perigosa

pois no escuro u´a boba mão

pode tocar onde se goza

A Nanda agradece

A sábia admoestação

Pois no perigo perece

Amar no escuro do portão

O escuro se presta

a tanta devassidão

vai ver no meio da fresta

ele fez muita apalpação...

Paulo Miranda e Fernanda Araújo
Enviado por Paulo Miranda em 27/02/2020
Código do texto: T6875667
Classificação de conteúdo: seguro