Nanda e as admoestações de Frei Dimão (republicação)
Vou confessar-lhe, Frei Dimão,
E espero a absolvição:
Entreguei-me à tentação
Mas só namorei no portão.
É coisa até tolerada
o tal namoro de portão
no entanto estás condenada
se tocaste no freio de mão...
Se soubesse que a penitência
Ia ser tão braba assim
Dava fim à abstinência
E completaria o festim!
O rigor da penitência
é pra no pecado por fim
mas terias plena indulgência
se só pra mim fosse o festim
O sacristão enxerido
Lembrou-me que Frei Dimão
É todo comprometido
Co`a santa religião.
Já peguei aquele enxerido
bem com a boca na botija
pois em matéria de cupido
ao ver fêmea ele se mija
Cê que tem autoridade
Não maltrate o sacristão
Tenha dele piedade
Se o encontrar no portão.
Esse sacristâo, eu não sei
pois bem safado me parece
tem horas que tá muito gay
e noutras, ninguém merece
Será que ele é vira-folha?
Eu nem prestei atenção
Acho que estava zarolha
Na hora da agarração.
Esses estados não comento
por voto de castidade
mas o que ora mais lamento
é o ser eu e não ele o frade
Vô contá procê, ó frei
Que o sacristão é bonzim
Se é bonito eu não sei
O portão tava escurim.
Só merece reprovação
ir por essa via perigosa
pois no escuro u´a boba mão
pode tocar onde se goza
A Nanda agradece
A sábia admoestação
Pois no perigo perece
Amar no escuro do portão
O escuro se presta
a tanta devassidão
vai ver no meio da fresta
ele fez muita apalpação...