As coisas mudaram

Os tempos se passam e se modernizam

E o conhecimento a cada dia só cresce

Coisas do passado se desvalorizam

E assim nós vivemos, nesse sobe e desce

A evolução crescente das tecnologias

Competem com os casos de patologias

E a vida saudável perde a imunidade

Pois os bons costumes entraram em vacância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Me recordo do ar puro que eu respirava

Nas trilhas das florestas que um dia trilhei

As águas cristalinas do riacho que cortava

Os vales rochosos onde um dia me banhei

Havia a isenção de produtos tóxicos e nocivos

Que alteram o genoma de todos seres vivos

Hoje os nossos biomas em vulnerabilidade

Reféns do humano que age com arrogância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

O meu estilingue preso em meu pescoço

N`uma fotografia está registrado

Com ele eu caçava a carne do almoço

Foi um tempo tão bom merece ser lembrado

Não havia Internet com pornografia

Nem uma simples TV não existiria

Um rádio de pilha era a novidade

Que captava as ondas em ressonância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Não se cheirava pó nem cola de sapateiro

Cheirava o aroma das flores de jitirana

Limpava os dentes com raspas de juazeiro

Adoçava o leite com rapadura de cana

Um candeeiro era a lâmpada que a gente tinha

A banha de porco era o óleo de cozinha

Os mais velhos sempre tinha a autoridade

Para o mal feito, não havia tolerância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Um jumento arreado com cangalha e cambitos

Era usado para transportar vara e lenha

Uma mochila colocada na boca dos cabritos

Era a garantia do leite na ordenha

Passar roupas era com o ferro a brasa

As brincadeiras sadias lá no oitão da casa

As conversas entre amigos sem virtualidade

No terreiro sob a lua com sua exuberância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Dormir à noite em rede de fiadeira

Passar o algodão por um descaroçador

Comer angu com uma colher de madeira

Usar uma navalha como um barbeador

Cozinhar feijão n`uma panela de barro

Usar casca de umburana para curar o catarro

Enviar os anos bons com frase de prosperidade

São coisas que com o tempo perdeu a relutância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Meus carros de lata com rodas de chinelo

O talo de carnaúba era o meu cavalo

Podia ser chamado de buguelo amarelo

Não havia bullying por isso hoje falo

Que a melhor infância foi a que vivi

Graças as surras de cipó que recebi

Foram úteis para formar minha personalidade

Para que eu pudesse esquecer a petulância

Muitas coisas que eu vi na minha infância

Hoje não vejo nem no museu da saudade

Lúcio Barros
Enviado por Lúcio Barros em 19/02/2020
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